Praguejar, insultar, apelidar, extravasar. O palavrão é um vocábulo que costuma ser dito a torto e a direito por uns e causar repulsa em outros. O escritor e folclorista Mário Souto Maior ; que faria 90 anos em 14 de julho deste ano ; investiu seis anos de sua vida para construir o Dicionário do palavrão e termos afins, compêndio barrado pela ditadura em 1974 e liberado em 1979. Trinta anos depois, os mais de 3 mil verbetes continuam valendo e acabaram de ser republicados em nova edição, pela editora Leitura. Jan Souto Maior, um dos sete filhos do escritor pernambucano, morto em 2001, leva a cabo a tarefa de divulgar a obra literária do pai, que ultrapassa 70 títulos, todos escritos de maneira solitária e independente.
Souto Maior distribuiu quatro mil formulários pelo país, investigando o vocabulário de gente de todas as classes sociais. Gilberto Freyre também ajudou e sugeriu que a pesquisa, iniciada com a proposta de ser chamada Vocabulário popular do sexo, incluísse outros termos e se tornasse um dicionário de palavrões. É dele o prefácio da obra. Souto Maior, um leitor incansável, também foi atrás de vários livros de referência e mais de 200 romances. ;Quando meu pai escrevia, ele ficava tão contente que botava debaixo do travesseiro. Considerava cada livro um filho;, conta Jan.
É de se esperar que a maioria dos palavrões seja insultos ou referências a órgãos sexuais. Mas a variedade de expressões torna cada verbete a definição de uma identidade regional. Tome, por exemplo, ;botar galha; e ;bone;. As duas, a primeira no Nordeste e a segunda no Sul, são sinônimos para ;adultério; ou ;infidelidade;. As mesmas regiões compartilham ;enrabichado;, que pode ser entendido como ;gamado; ou ;perdidamente apaixonado;.
Todo dicionário é refém do tempo, e Souto Maior sabia disso muito bem. ;Pra ele todo livro era incompleto, interminável;, acrescenta. Por isso, buscava a maior quantidade de informações possível para seus livros.