Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Pife moderno

Grupo formado por mestre do pífano e jovens universitárias se apresenta hoje na festa Sambaluayê e prepara o lançamento do primeiro disco

[SAIBAMAIS]Um músico autodidata é mestre de jovens universitárias e com elas desenvolve elogiado trabalho, iniciado em oficinas na Universidade de Brasília. A experiência já passou por vários palcos da cidade e foi levada a outros lugares. Pouca gente conhece o carpinteiro Francisco Gonçalves da Silva, mesmo em Ceilândia Sul, onde mora desde 1993. Mas em todo o Distrito Federal muita gente já ouviu falar de Zé do Pife, o artesão que confecciona pífanos e tira desse instrumento sons característicos da região nordestina. Sons melodiosos que emocionam quem escuta ele tocar.

Andressa Ferreira, Kika Brandão, Gutcha Ramil, Isa Flor, Júlia Ísis, Luciana Bergamaschi, Maísa Amorim, Naira Carneiro e Valéria Lehmann ficaram tão impressionadas ao ouvi-lo que viraram discípulas desse pernambucano de 67 anos, natural de São José do Egito, e logo formaram um grupo com ele, batizado de Mestre Zé do Pife e As Juvelinas. Neste domingo (18/7), às 16h, eles participam da Sambaluayê ; Festa da Miscigenação, no Arena Futebol Clube, com Renata Jambeiro, Noca da Portela e Moyseis Marques. Em breve, lançam o primeiro disco.

Faz três anos que as meninas ; à época com idade média de 20 anos ; se juntaram ao instrumentista. ;Conhecemos Seu Zé nas oficinas de pífano no Núcleo de Dança da UnB. Inicialmente, Naira, Luciana e eu. Depois, entusiasmadas com o que vimos e ouvimos, convidamos as amigas Maísa, Isa, Andressa e Julia para participar das oficinas. A Kika, que estuda no Uniceub, também foi convidada. A última a se juntar a nós foi a Gutcha;, lembra Valéria.

A oficina de pífano é uma iniciativa de Max Müller, coordenador de projetos comunitários avulsos, no âmbito da Diretoria de Esporte, Arte e Cultura (DEA/UnB). ;A história começou no encontro casual que tive com o mestre Zé do Pife na universidade. Fiz o convite a ele para ministrar a oficina, prontamente aceito. Inicialmente foram duas turmas, cada uma com quase 60 participantes. Entre 2007 e 2009, mais de 200 pessoas tiveram aulas com ele;, diz Müller. ;O mestre utiliza o método de cunho, diria-se, auditivo-imitativo-intuitivo-dialogal e faz o resgate da ancestral relação mestre-discípulo;, acrescenta.

Da oficina ao palco

Pouco depois de tomar parte nas oficinas, As Juvelinas (que ainda não tinham esse nome) costumavam fazer apresentações informais, em frente ao restaurante universitário da UnB. ;Nosso primeiro show foi na Casa do Cantador, em Ceilândia. Como vimos que a coisa estava ficando séria, fomos em busca de um nome, que surgiu depois de muita conversa. Quem deu a ideia de As Juvelinas foi Seu Zé, tendo como justificativa o fato de sermos todas jovens;, conta Valéria, que toca pífano, rabeca, violoncelo e canta.

Todas as integrantes do grupo são vocalistas e tocam mais de um instrumento: Kika (pífano e pandeiro), Maísa (pífano, pandeiro e flauta doce), Naíra (pífano e sanfona), Andressa (caixa, pandeiro e violão), Gutcha (violino e pratos), Isa (ganzá e zabumba), Júlia (contra-surdo e pandeiro) e Luciana (triângulo e prato). Segundo Valéria, no início só havia pífanos e percussão. Hoje, algumas fazem até números circenses.

O grupo, depois de muitos ensaios, passou a apresentar-se em diferentes locais da cidade, entre eles Museu da República, Centro Cultural Banco do Brasil, Hospital Sarah Kubitschek, Complexo Cultural da Funarte (Festival de Cultura Popular e Brasília Outros 50). ;Fora de Brasília, participamos do Encontro dos Povos do Grande Sertão Veredas, em Minas Gerais, e do Festival de Cultura da Chapada dos Veadeiros, em Goiás.; Recentemente, Valéria, que é formanda em educação musical, acompanhou Zé do Pife em uma viagem a Riacho do Meio (município de São José do Egito), local de nascimento do mestre, e lá eles tocaram na Igreja de Nossa Senhora da Conceição.

SAMBALUAYÊ
Festa-show com Mestre Zé do Pife e As Juvelinas, Renata Jambeiro, Moyseis Marques e Noca da Portela. Hoje, a partir das 16h, no Arena Futebol Clube (Setor de Clubes Sul). Ingressos: R$ 10 (mulher) e R$ 15 (homem) até as 18h; após esse horário, R$ 15 (mulher) e R$ 20 (homem). Não recomendado para menores de 18 anos.

O álbum

Gravado entre janeiro e junho deste ano, no estúdio Beco da Coruja, no Grande Colorado, com o apoio do Fundo de Arte e Cultura, o álbum de estreia terá 14 faixas, sendo a maioria com assinatura de Seu Zé, entre elas Cajá de Santana, O cancão, Terezinha e Dança das formigas. As meninas compuseram Homenagem a Zé do Pife. ;São músicas com ritmos como baião, xote, coco, ciranda, frevo, samba, marchinha e até valsa;, anuncia Valéria.


O mestre e as meninas

Zé do Pife vê as Juvelinas como filhas. ;Sou tratado como uma pessoa da família delas;, ele conta. ;Me respeitam e têm o meu respeito, admiração e reconhecimento. Como instrumentistas, são inteligentes. Têm bom ouvido, ritmo e tocam afinado. Me sinto feliz e recompensado por trabalhar com essas meninas.;

O mestre vem de família de tocadores de pífano, na qual a arte é passada de geração para geração. ;Foi meu avô Pedro Cajá quem me incentivou a tocar pife;, recorda-se. ;Ele formou um grupo com o filho Luiz Cajá e os netos e saímos tocando em toda a região de São José do Egito. Em 1973, fui para São Paulo, onde tocava nas ruas e nos forrós de Pedro Sertanejo (pai de Oswaldinho do Acordeon), Zé Bétio e Zé Lagoa. Também me apresentei nos programas de Silvio Santos, Chacrinha, Raul Gil, Barros de Alencar. Em Brasília, moro há mais de 10 anos e tenho uma pequena oficina na chácara do Incra 8, perto de Brazlândia. Hoje, sobrevivo fazendo e tocando pife. Há 55 anos vivo da minha arte.;

Ouça a música Aboio, com Zé do Pife