Mais do que refrescar a alma, espantar o mal ou adoçar o sofrer, como apregoam os poetas, cantar é, antes de tudo, uma oportunidade de congraçamento. Isso vale mais ainda quando no palco estão reunidos, pelo menos, 200 artistas, ou melhor coralistas, que se apresentaram na noite de quarta-feira no Teatro da Escola de Música de Brasília (EMB), durante o Encontro de Coros, realizado a cada fim de semestre pela instituição. O espaço estava com capacidade praticamente lotada, de 600 lugares, e boa parte da plateia era composta por músicos, e sobretudo, familiares e amigos dos jovens artistas.
;O interessante é o público poder ouvir desde peças populares, como Tom Jobim, até músicas eruditas e em latim. Essa apresentação ainda faz parte da avaliação final do curso e é também uma preparação para a vida profissional. Mais ainda, é uma oportunidade para que a família possa conferir na prática o desempenho dos alunos;, comentou o maestro Jonas Correia, diretor da Escola de Música de Brasília e da banda sinfônica da instituição, que pela primeira vez participou do Encontro de Coros.
No evento estavam o Coro Feminino Cantares, o Coro Madrigal de Brasília, ambos regidos pelo maestro Éder Camuzis; o Coro Técnico da Escola de Música, sob a regência de Eldon Soares, e turmas de canto coral da escola, sob a batuta de Isabela Sekeff e Eduardo Carvalho.
A soprano Camila Ventorim, 19 anos, que é integrante do Canto Corales, formado só por mulheres, já é uma experiente em apresentações, mas revelou que, apesar de uma certa bagagem, subir ao palco é sempre algo único. ;A experiência de estar no palco é muito legal, independentemente de ser em um grande ou pequeno teatro. Esse evento é interessante porque como é encerramento de curso, é algo bem descontraído, você não sente tanta pressão e acaba ficando mais relaxado mesmo;, declarou.
Ao contrário de Camila, o tenor David Dezingrini, de 23 anos, estreava no palco e estava até com certa expectativa do encontro de corais, apesar do clima mais leve do evento. ;Tem apenas um semestre que canto e isso acabou me estimulando a cantar em um outro grupo, além desse da escola. A gente fica um pouco ansioso, mas é normal. Acabei nem chamando nenhum conhecido para me ver, porque sou mais discreto e é um evento mais dos alunos mesmo;, justificou.
Bastidores
Enquanto um coro se apresentava, os demais cantores aproveitavam para conferir as últimas notas e dar uma olhada nas partituras. Sempre com alguma brincadeirinha. O clima descontraído dos bastidores se refletia na plateia. Chamava a atenção a quantidade de crianças nas poltronas, muitas até de colo. Alguns pequenos se divertiam na primeira fila tirando fotos e balançando a cabeça acompanhando a melodia das músicas.
Não podia faltar entre os espectadores aquele grupinho com a célebre frase: ;Toca Raul;, mesmo que o falecido roqueiro nem fizesse parte do repertório da apresentação. Outros não perdiam a chance de acenar para os parentes e amigos que estavam no palco.
O encerramento contou com a participação do Grande Coro da Escola de Música, formado por todos os corais presentes na noite. O grupo foi acompanhado pela banda sinfônica da instituição, sob a regência de Jonas Correia. No repertório, Hino à Brasília; Brasília, capital da esperança; Laudate dominum omnes gentes, peça barroca do padre José Maurício Nunes de Garcia com arranjos de Jonas Correia, além do Hino Nacional Brasileiro, uma das músicas mais aplaudidas da noite.
Aliás, boa parte do público ficou prontamente de pé na hora da execução do hino. ;Já é automático. É só escutar o hino que eu fico de pé. Tudo isso aqui é muito emocionante. É engraçado o poder que a voz humana exerce sobre a gente. Não tem coisa mais bonita que a música, não;, resumiu o auxiliar de enfermagem, Carlos Barbosa Aranha, 29 anos.