Gê Orthof e Milton Marques pouco sabem sobre o Prêmio Pipa. Ouviram falar e leram a respeito em alguns jornais, mas surpresos ficaram mesmo quando descobriram estarem entre os 101 artistas indicados para concorrer ao prêmio de R$ 100 mil e a uma bolsa de residência no exterior. Organizado pelo Investidor Profissional, empresa administradora de fundos de investimento, e pelo Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ), o prêmio é o maior do país para artes plásticas e foi criado para mapear talentos em todas as regiões brasileiras. "Um dos objetivos do Pipa é incentivar a arte. No Brasil é difícil viver de arte e muitos dos artistas primeiro fazem uma carreira profissional para depois se dedicar à arte" explica Roberto Vinhaes, sócio da Investidor Profissional.
Um júri formado por 32 pessoas - entre artistas, galeristas, críticos e historiadores espalhados por todo o país - indicou até cinco nomes. Do total de 101 indicados, apenas os quatro mais votados vão integrar a lista de finalistas que participam de exposição no MAM/RJ entre setembro e novembro. Até lá, um júri de premiação ficará responsável por escolher o vencedor e um júri popular vai indicar o ganhador de prêmio de R$ 20 mil.
Como a intenção era apostar em artistas promissores ainda pouco conhecidos no circuito, mas reconhecidos por especialistas, a lista de 101 indicados gerou polêmica por incluir veteranos reconhecidos internacionalmente como José Bechara e Eduardo Frota. "Entre os indicados há vários estágios de reconhecimento", avisa Vinhaes. "E o que quer dizer reconhecido? O barato é levantar essa discussão. Outra coisa é a dispersão, isso pode levar a vários pontos de vista relevantes." A lista incluiu artistas de todas as regiões brasileiras, detalhe necessário para confirmar a intenção do Pipa de descentralizar as escolhas entre Rio de Janeiro e São Paulo.
Gê Orthof ficou surpreso com a indicação. "Para mim é super bacana, seu nome entra na roda. A indicação já é um prêmio, especialmente não estando no Rio nem em São Paulo. Acho que eles realmente olharam para o país inteiro", acredita. Professor do Instituto de Artes Visuais da Universidade de Brasília (UnB), Orthof costuma realizar mais exposições no exterior do que no Rio e em São Paulo. Este ano, o artista tem mostras agendadas em Houston e Berlim. Em Brasília, Orthof está em duas mostras. Em Brasília: síntese das artes (Centro Cultural Banco do Brasil), o trabalho Son(H)adores propõe uma metáfora sobre sonhos e utopias, e em O poder não pode, criado para a coletiva Cidade imaginária (Galeria Marcantonio Vilaça), uma instalação questiona o visitante sobre as barreiras do poder público.
Para Milton Marques, cujas engenhocas já estiveram expostas na Bienal do Mercosul e na Bienal de Artes de São Paulo, a indicação para o Pipa não provocou surpresa nem curiosidade. "É só uma indicação, não espero muita coisa, não crio expectativa. O que tem gerado preocupação são os trabalhos que tenho desenvolvido. Não tenho espírito competitivo e prêmio é uma coisa meio de ego", diz Marques. "Ando meio desiludido, a arte fica muito dentro de um métier, o artista vive isolado. E as pessoas têm cada vez menos interesse em arte. Achei que a indicação para o prêmio fosse pegadinha."