Diversão e Arte

Poteiro em foco

Com a morte do criador goiano, mercado de arte entra em expectativa com lote de trabalhos inéditos, mas alerta para o risco das falsificações e a queda de cotação das obras, caso o legado seja mal-administrado

postado em 29/06/2010 07:00


Regina Bandeira
Especial para o Correio

Com a morte do criador goiano, mercado de arte entra em expectativa com lote de trabalhos inéditos, mas alerta para o risco das falsificações e a queda de cotação das obras, caso o legado seja mal-administradoApós a comoção e as devidas homenagens póstumas, o mercado de arte brasileiro aos poucos começa a especular em torno do legado do artista plástico popular Antônio Poteiro, morto no último dia 8 em Goiânia. Há um misto de expectativa e temor. Ao mesmo tempo em que marchands e colecionadores aguardam os movimentos da família do criador ; que detém, no ateliê, 131 peças inéditas ;, eles alertam para o risco de falsificações das obras, que podem crescer com o desaparecimento do pintor.

Com a morte do criador goiano, mercado de arte entra em expectativa com lote de trabalhos inéditos, mas alerta para o risco das falsificações e a queda de cotação das obras, caso o legado seja mal-administradoConsiderado um dos maiores ícones da arte popular brasileira, Poteiro levou a cerâmica ;regional; ao status dos leilões internacionais, nos quais seus trabalhos têm sido comercializados por até U$S 10 mil. O valor é considerado bom para o gênero popular ; até pouco tempo desprezado pelo mercado de arte. ;De uns anos para cá, Poteiro tem tido muita liquidez. Ele é bem valorizado nos leilões do eixo Rio-São Paulo e no exterior;, confirma a empresária e organizadora de leilões Soraia Cals.

Entre os especialistas é consenso que a má condução pós-morte da produção do artista pode desvalorizar as obras a médio e longo prazo. No caso de Poteiro, que nunca teve marchand(1), esse cuidado caberá a Américo Batista, 56 anos, filho mais velho do artista, que já cumpria o papel de organizador e secretário com o pai. ;Farei o que puder para que ele continue sendo respeitado no mercado. Mas não posso controlar as falsificações, nem a venda dos quadros por colecionadores privados, que colocam os preços que quiserem nas obras;, avisa Américo.

Com a morte do criador goiano, mercado de arte entra em expectativa com lote de trabalhos inéditos, mas alerta para o risco das falsificações e a queda de cotação das obras, caso o legado seja mal-administrado[SAIBAMAIS]A leiloeira Raílda Costa diz que nunca viu telas falsas do pintor goiano, mas reconhece que a fase mais recente do artista é menos valorizada. ;Não é uma questão de falsificação, mas de qualidade da pintura que mudou, logicamente, com a idade avançada;, diz. Em testamento, o artista deixou 35 peças ; entre pinturas e esculturas ; reservadas a cada um dos três filhos. Ao todo, a família detém 105 criações, além das 26 expostas no ateliê do artista. Para Américo, vender todo o acervo a uma entidade governamental ou privada ;seria um sonho;. Mas ele sabe que isso é raro de acontecer. ;Vai chegar um momento em que precisaremos do dinheiro. Aí negociaremos com colecionadores ou galerias. Isso não vai despencar o preço da obra, até porque são poucas em nossas mãos. Tenho receio é da falsificação delas;, destaca.

O colecionador Henrique Domingues (abaixo) tem 60 obras do artista morto no no início do mês em GoiâniaColecionadores e marchands são unânimes em dizer que o futuro das obras de Poteiro é ;imprevisível;. Mas a maioria acredita que sua obra tenderá a se valorizar. ;Isso vai depender de muitos fatores, até mesmo da economia mundial ; que quando vai bem, aumenta a cotação das obras de arte;, observa o economista Henrique Domingues, colecionador de obras de Antônio Poteiro ao longo de 20 anos e detentor de 60 peças do artista. Ele, no entanto, alerta que, se as obras de Poteiro forem postas à venda sem cautela, a cotação despencará. ;Durante um período, Poteiro produziu em excesso e viu sua obra perder um pouco de valor. Isso já foi revertido, mas dá bem a ideia de que, apesar de ser arte, o que rege é a lógica de mercado;, reforça Henrique Domingues.

A ponte
Profissional que faz a mediação entre o artista e o mercado, assessorando, comprando e vendendo o trabalho do pintor. Poteiro não tinha contrato de exclusividade com nenhum.

Proteção
Com a morte do criador goiano, mercado de arte entra em expectativa com lote de trabalhos inéditos, mas alerta para o risco das falsificações e a queda de cotação das obras, caso o legado seja mal-administradoPara evitar que a obra de um artista caia no esquecimento, o consultor e perito judicial na área de mercado de arte João Carlos Lopes dos Santos recomenda que sejam organizadas retrospectivas do artista, e que sua obra seja bem protegida, para evitar falsificações. ;Em casos de suspeitas, a família deve pedir providências policiais;, diz. Recomenda-se também que os cuidadores de obras de artistas falecidos não inundem o mercado, a fim de evitar a massificação e, consequentemente, a redução no preço de avaliação das peças.




O número
131
Número de peças inéditas que estão no acervo do artista





"Ele é bem valorizado nos leilões do eixo Rio-São Paulo e no exterior"
Soraia Cals, empresária e organizadora de leilões


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