Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Os Reis do Forró

Pioneiro do ritmo nordestino no Distrito Federal, o Trio Siridó completa 38 anos e prepara DVD com participação de Alceu Valença e Rastapé

Durante o período das festas juninas, do fim de maio até julho, a agenda do Trio Siridó ganha outro ritmo, mais acelerado. O grupo de forró mais antigo do Distrito Federal chega a fazer sete shows por semana, às vezes três no mesmo dia (sendo dois à noite, um depois do outro). Fazendo uma comparação musical, é como se eles passassem o resto do ano tocando forró universitário e, durante as festividades típicas do meio do ano, voltassem para o xote. ;O forró universitário é nada mais que um xote lento;, explica Francisco Izidro da Silva, 59 anos, o Tico do Acordeon. ;E o forró nordestino é mais agressivo, mais rápido;, continua o fundador do Siridó.

Mas em cima do palco, o trio (que ao vivo conta com mais quatro músicos e dois vocalistas) toca de acordo com o gosto do freguês. Para fazer os casais dançarem, eles vão dos clássicos à versões de sucessos do momento (seja sertanejo ou os forrós mais modernos, o chamado forró de banda ou de plástico). O que eles não aceitam é pista vazia. Esta manha, claro, não surgiu da noite para o dia, mas ao longo dos 38 anos de Trio Siridó. Antes mesmo disso, Tico, o cantor e tocador de triângulo Torres do Rojão e o zabumbeiro Cipó já tinham o ritmo nordestino no sangue ; afinal, aprenderam a tocar forró ainda na infância com os familiares e assistindo outros forrozeiros em ação.

As quase quatro décadas de Trio Siridó serão comemoradas ; se tudo der certo ; até o fim do ano, com o lançamento de um DVD (o segundo da carreira) só com músicas próprias (algumas inéditas). O registro, ao vivo, terá duas apresentações, uma com participação do grupo paulistano Rastapé (já gravada) e outra com o cantor pernambucano Alceu Valença.

Trajetória
A saga do trio começou em 1972, quando Tico, Torres do Rojão e Calango (ex-zabumbeiro) se juntaram para fazer forró. O acordeonista ressalta que, apesar de serem os mais antigos forrozeiros em atividade no DF, não foram os primeiros: ;O extinto Trio Paranoá começou antes de nós;. Torres conta que a sugestão de trocar o nome de Os Tropeiros Retirantes para Trio Siridó veio de um amigo potiguar. ;Mas mudamos de seridó para siridó por conta da pronúncia;, explica o cantor. Seridó é uma região localizada no sertão do nordeste brasileiro e abrange municípios do Rio Grande do Norte e da Paraíba. Os primeiros shows reuniam gente vinda de todos os estados nordestinos que, assim como os integrantes do trio, vieram para a nova capital para ;fazer a vida;.

Casado há 38 anos, pai de duas filhas e avô de quatro netas, Tico nasceu em Itaporanga, Paraíba. Antes de chegar em Brasília, morou no Ceará. ;Lá, eu não tinha dinheiro nem para comprar um instrumento;, relata. Menino, ele ia para qualquer lugar onde se pudesse ouvir um acordeon. ;Meu pai tocava fole de oito baixos, mas eu gostava mesmo do acordeon;, lembra.

José Torres da Silva, 67 anos, natural de Campina Grande (PB), está em Brasília desde 1962 (vindo do Rio de Janeiro). Aos 10 anos, cantou pela primeira vez com Luiz Gonzaga (com quem, já adulto, dividiria o palco incontáveis vezes). Cantou também com outros músicos que seriam seus professores, como Jacinto Silva, Déo do Baião, Jackson do Pandeiro e o sanfoneiro Camarão. Torres do Rojão foi viúvo, mas está novamente casado. Tem duas filhas pequenas, 10 filhos crescidos e muitos netos e bisnetos. ;Já perdi a conta;, brinca.

Francisco Fredson da Silva, o Cipó, toca no trio desde 2008, mas já acumula duas passagens pelo Siridó. ;Fiquei apaixonado pelo forró quando menino e aprendi a tocar zabumba vendo os outros;, relata o pai de 17 filhos e avô de quatro netos.

Melhores momentos
Em 38 anos, o Trio Siridó lançou 16 discos, oito em vinil e oito em CD. O primeiro, Progresso da mandioca, foi lançado em 1980. Flor mulher, Sapo na lagoa e Bate bate paixão são as músicas mais conhecidas do trio.

Os melhores momentos dessa trajetória, contam eles, aconteceram em cima do palco. O encontro com o presidente Lula eles não esquecem. ;Tocamos pro Lula e tomamos cachaça com ele;, orgulha-se Tico. ;Tiramos foto e tudo. Até autografei um CD para o presidente;, conta Torres.

Ter tocado com o Rei do Baião também é motivo de orgulho para eles. O Trio Siridó era a banda de apoio oficial dos shows de Luiz Gonzaga em Brasília. ;Nosso professor, muito gente boa, sempre nos tratou muito bem;, diz o sanfoneiro.

Criticado por puristas quando abraçou o forró universitário, e ;adocicou; sua maneira de tocar, o trio justifica afirmando que foi o período em que mais fez shows. ;Antes, o forró era coisa de nordestinos e de coroas. Nessa época, os mais jovens começaram a gostar também;, compara Tico. Sem preconceitos musicais, hoje eles tocam até Calcinha Preta, Aviões do Forró e Calypso. ;O pessoal das cidades-satélites pede essas músicas, não tem como não tocar. Já no Plano, o público quer mesmo o forró tradicional;, Torres.

Questionado sobre o combustível para continuar tanto tempo tocando, Torres do Rojão aponta o dedo para cima. ;Enquanto Deus quiser, estaremos tocando forró por aí;, completa Tico.

Ouça músicas do Trio Siridó:

Flor Mulher

I like forrozinho

Velho namorador