;Michael conseguiu o máximo. Não existiria Jay-Z se não existisse Michael Jackson. Não existiria Usher nem Justin Timberlake. Todas essas pessoas desaparecem se você tira Michael Jackson da equação.; O elogio de Will.i.am, vocalista do grupo Black Eyed Peas, resume o tom dos livros em homenagem ao astro pop que chegam às livrarias brasileiras. Doze meses após a morte do cantor, a ordem é sublinhar o legado artístico ; e lamentar, sempre respeitosamente, as polêmicas.
Michael Jackson ; O Rei do Pop 1958-2009, escrito pelo britânico Chris Roberts, e Michael Jackson pelos editores da Rolling Stone, coletânea de artigos organizada pela revista de música norte-americana (e com prefácio escrito por Will.i.am), rearrumam a trajetória do cantor e amplificam o coro dos fãs: os escândalos que marcaram os anos 1990 e 2000 são narrados como o epílogo infeliz das luminosas décadas de 1970 e 1980, temporada dos clássicos Off the wall (1979) e Thriller (1982), o disco mais bem sucedido de todos os tempos.
;Sua morte chocou o mundo, mas pode ter curado sua alma. A data ficará marcada para sempre, como as mortes de James Dean, Marilyn Monroe, Elvis Presley, John F. Kennedy, John Lennon e da princesa Diana;, enumera o galês Roberts, conhecido por biografias de Lou Reed e da atriz Scarlett Johansson. Para o autor, que colabora com os jornais Telegraph e The Guardian, Michael sucumbiu às agressões do ;grande mundo mau;. O texto de Will.i.am também capricha nas hipérboles. ;Ele não foi só o Rei do Pop, mas o rei da indústria. Ele foi a Wall Street da música;, compara.
[SAIBAMAIS]Quem acompanhou a carreira de Michael pode (e deve) desconfiar: devemos nos lembrar do showman extravagante e bizarro, tripudiado pela mesma imprensa que hoje o glorifica? Os livros não respondem a pergunta, ainda que permita ao leitor alguns palpites. Na reportagem O que deu errado, escrita pelos jornalistas da Rolling Stone Claire Hoffman e Brian Hiatt, as extravagâncias de Michael são descritas em detalhes. ;Ele deixou de ser o maior astro do mundo para se tornar um homem recluso e alquebrado;, afirmam. No espetáculo da mídia, o performer se expôs sem maquiagem. E pagou o preço.
;Quando ele começou a se chamar de Rei do Pop, em 1991, aquele reino não existia mais, e parecia que ele era o único que não tinha percebido;, explicam os editores da Rolling Stone, na introdução da obra. ;Sua vida, antes cheia de promessas, tornou-se uma triste parábola sobre o que acontece quando você consegue tudo o que quer;, concluem. A música, no entanto, ;continua cheia de vida;. E é essa herança (somada às colaborações à dança, ao clipe e à indústria musical) que sustenta o culto. ;Michael Jackson inventou o pop moderno;, decreta a Rolling Stone. O argumento, principalmente hoje, será refutado por poucos.
Holofotes
Michael Joseph Jackson ; o menino nascido em Gary, Indiana, e que despontou no grupo vocal Jackson 5 ; personificou, sob holofotes, o sucesso e a tragédia. ;Não existe na música pop uma história tão afortunada e ao mesmo tempo tão trágica quanto a de Michael Jackson;, observa Mikal Gilmore, também da Rolling Stone, que assina uma reportagem biográfica (no caso, sóbria) sobre o músico. É um dos melhores capítulos de um livro que reúne resenhas extensas sobre os discos do cantor, um rico material fotográfico (organizado com os arquivos da revista), depoimentos de (como Sheryl Crow e Jay-Z) e entrevistas.
Na mais surpreendente entre tantas conversas com a equipe da revista, em 1982, Michael admite as agruras do sucesso. ;Estar no meio da multidão dói. Você se sente como um espaguete passando por mil mãos. Eles rasgam suas roupas e puxam seus cabelos. E você acha que vai simplesmente se despedaçar;, confessou. Mais adiante, revela a afinidade com Peter Pan, personagem de J.M. Barrie. ;É meu livro favorito;, diz. A primeira frase da obra tinha um quê premonitório: ;Todas as crianças crescem, exceto uma.;
;Eu sempre quero saber o que faz artistas se esfacelarem. Eu sempre tento descobrir. Porque eu simplesmente não acredito que as mesmas coisas os atingem o tempo todo;, afirmou Michael, quando perguntado sobre drogas e outros excessos. E isso muito antes dos anos 1990. Já o livro de Chris Roberts ; descrito como ;perpicaz; pelo The Guardian ; interpreta o ocaso do rei. ;A juventude era um sonho do qual o incomparável Michael Jackson achava doloroso e desconcertante acordar;, filosofa. Com mais 140 fotos, o livro também fisga os fãs pelos olhos ; e pelos sentimentos. ;O menino que nunca havia crescido jamais iria crescer;, escreve.
É Will.i.am, no entanto, quem toca no nervo da tragédia com maior conhecimento de causa. ;No showbusiness, o palco é qualquer lugar. O palco não está só no Grammy. O palco é quando você sai do estacionamento. Quando vai ao shopping;, afirma. E encerra com um acorde otimista: ;Quando ele andava na rua, era um acontecimento. O show estava em todo lugar. Michael é o último imperador dessa era;. (TF)
NA TEVE
This is it
; Documentário sobre os ensaios para a última turnê de Michael Jackson. Dirigido por Kenny Ortega. Domingo, após no Fantástico, na TV Globo. Quarta-feira no Warner Channel (Net/Sky), às 21h.
Especial 1 ano sem Michael Jackson
; 12 horas de programação especial sobre o rei do pop. Amanhã, no Multishow (Net/Sky). Até o fim do mês de junho, às 23h30, seleção de documentários, shows e clipes do músico.
MTV Brasil ; 1 ano sem Michael
; Programação especial sobre o astro. Amanhã, na MTV (Net/UHF), às 10h (MTV Lab Freak), às 11h (Top 10 Countdown), às 12h45 (Making of de Thriller), às 15h30 (MTV Lab Playlist), às 17h30 (especial Human nature), às 18h (Top 10), às 19h (Michael Jackson ; Influência na música).
Michael Jackson na VH1
; Documentários Famous crime scene: Michael Jackson e Michael Jackson: o lado humano. Amanhã, às 23h, na VH1 (Net/Sky).
O que matou o rei do pop?
; Documentário dirigido por Sonia Anderson e produzido por Brian Aabech. Hoje, às 21h, na GNT (Net/Sky).
Michael Jackson ; Cedo demais para morrer
; Documentário do jornalista Ian Halperin. Amanhã, às 21h, na GNT (Net/Sky).
E! Especial Michael Jackson
; Programação em homenagem ao cantor. Amanhã, das 18h às 21h, no E! Entertainment Television (Net/Sky).
TRECHOS
;É como John Coltrane;
;Michael era mestre em fazer cada música soar como se pertencesse totalmente a ele ; de Human nature, com todas as suas partes caleidoscópicas, a Billie Jean, com seus três acordes, quase um mantra. Se você disseca Baby be mine, é como John Coltrane, só que disfarçado com letra e arranjo pop. Michael foi o artista mais profissional com quem já trabalhei, o mais concentrado e o que chegava mais rápido ao fundo da música. Foi o melhor dançarino, o melhor cantor e era tão bom de drama quanto Frank Sinatra ; podia te fazer acreditar em qualquer coisa quando gravava.;
Quincy Jones, produtor e músico que trabalhou com Jackson, à Rolling Stone.
"Não sei como ele conseguia"
"Michael chegou ao topo, e não estou falando apenas sobre performance e vendas. Ele teve sucesso nos negócios, foi um empreendedor. Quando trabalhei com ele, ele estava ótimo tanto vocalmente quanto espiritualmente. Atravessando a vida com um olhar atento e crítico ; não sei como ele conseguia. Sendo julgado e questionado pelo mundo inteiro. Ele ainda se empolgava com a música, ainda se empolgava para ir aos ensaios e trabalhar com pessoas de todo o mundo."
Will.i.am, vocalista do Black Eyed Peas, em livro da Rolling Stone
Companhia Editora Nacional/Reprodução
MICHAEL JACKSON ; O REI DO POP 1958-2009
De Chris Roberts. Tradução de Cristina Borba. Companhia Editora Nacional. 144 páginas.
Preço: R$ 31,90.
Spring Publicações/
Reprodução
MICHAEL JACKSON PELOS EDITORES DA ROLLING STONE
De Jann S. Wenner (org). Tradução de Bia Peine e Daltony Nóbrega. Spring Publicações Ltda. 223 páginas. Preço: R$ 64,90.