Desnecessário fazer o leitor compreender que Prólogos, com um prólogo de Prólogos não se trata de uma locução hebraica superlativa. De acordo com o escritor argentino Jorge Luis Borges (1899-1986), o livro trata-se, nada mais, nada menos, de uma seleção de prólogos próprios, escritos entre 1923 e 1974 e publicados na Argentina em 1975. ;Uma espécie de prólogo, digamos, elevado à segunda potência;, enfatiza o autor.
Entendido por Borges como ;uma espécie lateral da crítica;, a modalidade textual ganhou, por intermédio de sua escrita, um outro significado que não o de ser apenas um curto texto de apresentação. O estilo literário tomou vida própria, irônica, bem-humorada e o revelou para a Argentina como um dos mais atraentes escritores de sua geração. Tanto chamou a atenção que o Brasil acaba de ganhar a coleção de prólogos, com tradução de Josely Vianna Baptista, publicada pela Companhia das Letras.
[SAIBAMAIS]Sua leitura não apenas nos permite vislumbrar as nuances da veia crítica do autor, mas nos convida a um passeio pelas suas escolhas e preferências literárias em vida, um tanto impressionantes. Utilizando o instrumento-prólogo, o crítico se engraça a opinar sobre universos distintos e complexos, de poetas argentinos a Emanuel Swedenborg, de Edward Gibbon a Franz Kafta, de Nora Lange a Edgar Allan Poe ; e o faz com propriedade.
Leitor fervoroso desde a juventude ; e neste arquivo imaginário e literário estão inseridas também as enciclopédias ;, o escritor argentino vai além: se aproxima daquilo que apresenta, balizando o leitor a uma compreensão, senão inteligente, bastante convincente das obras de seus antecessores literários. Mais importante: suas críticas não recaem apenas sobre essas obras, mas traçam divertidos perfis dos próprios autores, de forma que, em algum momento, pode-se questionar se não teria, ele mesmo, conhecido pessoalmente grande parte deles.