Enquanto na tela do Teatro dos Bancários, a crueza da história do muambeiro uruguaio Beto (César Troncoso), protagonista do filme O banheiro do papa (coprodução entre Brasil e Uruguai, dirigida por César Charlone e Enrique Fernández) era exibido, na noite da última segunda-feira, no Cineclube Bancários, a plateia se dividia entre extrema atenção e total dispersão, coisa de jovens. No filme, o vilarejo Melo, localizado nos rincões do Uruguai, é sacudido pela promessa de uma visita do Papa João Paulo II, em 1988.
A rotina dos moradores é virada do avesso. Inclusive a de Beto, um dos muitos cidadãos da cidade que, para se sustentar, é obrigado a percorrer diariamente 120km de bicicleta para trazer mercadorias do Brasil. Acometido de um falso senso de oportunismo, ele resolve construir um banheiro no jardim de casa e, assim, lucrar uns cobres com a de turistas e peregrinos durante a "visita" do pontífice.
A história de Beto e seus vizinhos prendeu a atenção de cerca de 30 estudantes do turno de Educação de Jovens e Adultos (EJA) da Escola Municipal de Céu Azul na noite do dia 31 de maio. Derlan Bernardo, 31 anos, até hoje só havia frequentado sessões de A era do gelo 3 e Avatar no Shopping Sul, de Valparaíso. "Lá não passa esse tipo de filme. Foi muito bom ter vindo aqui", elogiou Derlan. Já o colega Cosme dos Santos Bispo, 28 anos, achou importante a aparição do Papa no filme. "Essa foi a parte mais importante", definiu.
Participação
A visita dos estudantes do Céu Azul não era furtiva. "Há algum tempo, as escolas começaram a conhecer o trabalho do Cineclube Bancários e cada vez mais têm nos procurado para participar das sessões. É a mostra de que o trabalho do cineclube é voltado para a sociedade", explicou José Garcia, secretário de Cultura do Sindicato dos Bancários do Distrito Federal. Além da sessão de toda segunda à noite, os interessados podem participar de outra sessão, mais cedo, também às segundas. "Nós estamos até pensando em um projeto para levar o cinema para as escolas públicas", complementa Garcia.
Para a orientadora educacional do colégio Vera Lacerda, a sessão teve um outro significado. "Meus alunos vivem em uma área muito carente de cultura. É um grande oportunidade de trabalhar outros temas na sala de aula", disse Vera. "Todo filme promove algum tipo de debate ou reflexão. Assim, todos são educativos. Nós tentamos trazer um pouco de variação temática dentro da cultura brasileira", explica o programador do Cineclube, Nilson Rodrigues.
Não são somente os alunos das escolas públicas que têm recorrido ao cineclube. Por força de um trabalho acadêmico, as estudantes do 1º semestre de comunicação social do UniCeub Lígia Soares, Sofia Rosa e Rafaela Roma, todas com 18 anos, compareceram pela primeira vez a uma sessão do cineclube. "Estava acostumada a filmes que começam bonitos e terminam lindos", define Sofia, sobre a estética das fitas que costuma assistir em shoppings. "Esse é bem diferente. Tem um crítica social forte", destaca a estudante.
Cineclube Bancários
Todas as segundas-feiras, a partir das 20h, no Teatro dos Bancários (314/15 Sul; 3262-9090). A entrada é franca. É importante consultar a classificação indicativa dos filmes antes da sessão.
Programação
Hoje
Soldado de Deus, de Sérgio Sanz. Classificação indicativa livre.
14 de junho
Araguaya - A conspiração do silêncio, de Ronaldo Duque. Não recomendado para menores de 12 anos.
21 de junho
Hércules 56, de Silvio Dá-Rin. Classificação indicativa livre.
28 de junho
Jean Charles, de Henrique Goldman. Não recomendado para menores de 14 anos.