De origem portuguesa, indígena e africana, o bumba meu boi narra a história da morte e ressurreição de um boi sequestrado por um vaqueiro para saciar o desejo da mulher Catirina (grávida e com desejo de comer a língua do bovino). "Catirina desejava comer a língua do boi, mas o boi não morre. Vem o doutor e faz uma receita de remédio, mas o boi não levanta. Vem o pajé e faz uma pajelança, aí o boi levanta e urra". Quem explica a história é o mestre de bumba meu boi de Brasília, Seu Teodoro.
Maranhense, radicado em Brasília há 47 anos, desde que veio à cidade para uma visita de alguns dias, Teodoro Freire encarna a missão de repetir as tradições aprendidas na infância, em São Luís. Este ano, quando completa 90 anos de vida, o veterano será o homenageado do 2º Encontro Nacional de Bumba Meu Boi, que será realizado amanhã e domingo no Complexo Cultural da Funarte, gratuitamente. "Isso me deixa muito satisfeito. É o reconhecimento do meu trabalho", orgulha-se Seu Teodoro. Em Brasília, se reunirão quatro grupos do Maranhão: Boi da Maioba, Boi Barrica, Boi de Morros e Boi de Guimarães; um do Piauí, o Imperador da Ilha; além do Boi do Seu Teodoro, baseado em Sobradinho.
"Esse folguedo existe de norte a sul do país. O que muda são os estilos (chamados sotaques pelos participantes). Mas o Maranhão conseguiu divulgá-lo melhor", explica Ricardo Moreira, organizador do encontro. O que diferencia cada sotaque são os ornamentos utilizados pelos participantes e também os instrumentos utilizados. Com algumas variações de região para região, são usados maracá, matraca, pandeirão, tambor onça, tamborinho, zabumba, tambor de fogo e instrumentos de fogo. Tão variada quanto os estilos do ritual, a história da morte do boi pode receber diferentes denominações dependendo da região do Brasil.
"Eu sou de Oeiras, no Piauí, e cresci cercado por manifestações de cultura popular", relembra Moreira. Morando em Brasília desde 1973, ele enxerga uma certa simpatia brasiliense para com as manifestações populares brasileiras, mesmo com o crescimento exponencial da cidade nos últimos anos. "Brasília recebe a diversidade cultural de uma forma fantástica, o avião já abriu os braços. Considero todas as outras cidades como Brasília. Como nós temos uma diversidade cultural importante, essa diversidade faz com que as pessoas tenham uma grande aceitação pela cultura popular", conclui o organizador. Além dos grupos de boi, haverá apresentações do grupo Cacuriá e Feira de Artesanato Brasileiro.
Os nomes do boi pelo Brasil
Maranhão, Rio Grande do Norte e Alagoas
Bumba Meu Boi
Pará e Amazonas
Boi-Bumbá
Pernambuco
Boi-Calemba
Bahia
Boi Janeiro, Boi Estrela do Mar, Dromedário e Mulinha de Ouro
Paraná e Santa Catarina
Boi de Mamão
São Paulo
Boi de Jacá e Dança do Boi
Rio de Janeiro
Bumba ou Folguedo do Boi
Espírito Santo
Boi de Reis
2º ENCONTRO NACIONAL DE BUMBA MEU BOI
(Complexo Cultural Funarte, Eixo Monumental, perto da Torre de TV; 3322-2076). Amanhã, a partir das 19h, e domingo, a partir das 16h. Apresentações de vários grupos de bois do país. Entrada franca. Classificação indicativa livre.