postado em 04/06/2010 07:00
Ele é um brincante por natureza, uma referência do riso na cidade. Já nasceu fazendo graça e, portanto, não poderia ter se tornado outra coisa na vida do que um palhaço, na melhor concepção da palavra. E o interessante é que quando menino e ainda morava em Corinto, Minas Gerais, sua cidade natal, ele tinha verdadeiro pavor daquela figura de nariz vermelho e trajes bizarros que divertia a criançada. ;Eu morria de medo de palhaço. Meu pai tinha um posto de gasolina e os circos costumavam montar lonas ali. Eram onde ficavam os circenses e os ciganos. E eu tinha pavor dos dois. Não conseguia enxergar nada de encantador no palhaço. Muito pelo contrário;, lembra o também ator e diretor de teatro José Regino, 48 anos.
Zé Regino está em cartaz este fim de semana, no Teatro da Caixa, com três espetáculos cômicos: Bagulhar, Era uma vez; Chapeuzinho vermelho e Alma de peixe, esse voltado para bebês de 8 meses a 4 anos de idade, uma proposta inovadora que vem surpreendendo plateia e atores.
;Um amigo sempre me provocou e me cobrava que eu tinha que vestir uma ;fralda; e dar vazão a esse moleque que existe dentro de mim. E falava que eu deveria fazer um teatro para bebês. Iniciamos esse trabalho há um ano e tem sido uma experiência única;, destaca.
As primeiras apresentações foram encenadas em creches da cidade. Zé conta que está impressionado com o envolvimento dos pequenos e que muitos chegam a se emocionar durante a peça. ;O que dá certo é o que se aproxima do universo deles, seja no gestual, no simbólico. Tem criança que se emociona horrores. Eles são muito mais abertos, se entregam muito mais do que os adultos. Já estamos preparando a nossa segunda montagem para bebês no final do ano;, adianta.
Outra peça em cartaz do grupo criado por Zé Regino, em 1991, o Celeiro das Antas, é Bagulhar, uma das experiências mais intensas, segundo ele. A encenação conta a história de dois moradores de rua: Ogro, interpretado por Elison Oliveira, e ;Micóbrio;, vivido por Zé Regino. Para elaborar os personagens, os atores acompanharam durante algum tempo o dia a dia de mendigos de Brasília e ficaram impressionados com o que viram. ;Tem coisas que só tive coragem de fazer em cena, porque vimos isso na rua. Um disputando com o outro quem tem a pior deficiência para conseguir mais esmolas. É o espetáculo que mais mexeu comigo ao longo da minha carreira;, admite Zé.
;Bagulhar tem sido uma experiência muito interessante pra gente, uma referência no nosso teatro. Tem toda essa questão da construção dos personagens que foi bem e os figurinos. A reação da plateia é o mais legal porque eles riem de coisas que a gente nem imagina;, comenta Elison Oliveira.
Encanto
É claro que Zambelê, o palhaço criado por Zé Regino há 20 anos, não poderia deixar de estar nos palcos. Junto com o companheiro de traquinagens Lajota, o palhaço de Elison, eles entram em cena em Era uma vez;. Chapeuzinho vermelho. ;Desde que o mundo é mundo, o palhaço encanta gerações. Sem dúvida, é uma das figuras mais interessantes que existem. Envolve riso, comicidade;, destaca Elison.
Zambelê surgiu quando Zé Regino estava morando em São Paulo e é uma referência a uma galinha pequena silvestre bem barulhenta. ;O nome caiu como uma luva porque eu fazia um palhaço que não falava nada e o Zambelê, muito pelo contrário, fala pelos cotovelos. É igual a essa galinha que quando aparece faz um estardalhaço danado;, diz Zé.
Junto com a trupe de 12 atores que hoje integra o Celeiro das Antas ; ;Adoro a sonoridade da palavra anta. Não considero um xingamento, muito pelo contrário;, gosta de comentar ;, o grupo todo está entrando numa nova fase. Prestes a completar duas décadas em 2011, a Cia. acaba de se tornar um ponto de cultura(1). ;Não temos mais uma sede, mas nosso trabalho é ininterrupto. Em agosto, vamos nos consolidar como ponto de cultura e entrar em um novo ciclo. Já temos dois espetáculos em vista. Brinco que o teatro é uma praga na minha vida e toda vez que subo no palco, me pergunto o que estou fazendo ali. Mas é um encantamento que nunca tem fim. Eu me encontrei com as artes cênicas e não tem mais como largar;, declara.
1 - Fomento
O ponto de cultura é a ação prioritária do Programa Cultura Viva e articula todas as demais ações do programa. Iniciativas desenvolvidas pela sociedade civil, que firmaram convênio com o Ministério da Cultura, por meio de seleção por editais públicos, tornam-se pontos de cultura e ficam responsáveis por articular e impulsionar as ações que já existem nas comunidades. O ponto não tem um modelo único, nem de instalações físicas, nem de programação ou atividade. Um aspecto comum a todos é a transversalidade da cultura e a gestão compartilhada entre poder público e a comunidade.
Três vezes
Projeto Riso para Todos com o Grupo de teatro Celeiro das Antas. Espetáculos: Bagulhar, Era uma vez;. Chapeuzinho vermelho e Alma de peixe
Bagulhar
Hoje e amanhã, às 21h, e domingo, às 20h. Não recomendado para menores de 12 anos.
Alma de peixe
Sábado e domingo, às 15h. Censura livre.
Era uma vez; Chapeuzinho vermelho
Sábado e domingo, às 17h. Censura livre. Teatro da Caixa (SBS Qd. 4, Lt. 3/4, anexo à sede da Caixa Econômica Federal). Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia para crianças a partir de 5 anos de idade, estudantes, pessoas com 60 anos ou mais, professores e empregados da Caixa). Informações: 3206-9448/6456.