Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Festival de Cannes privilegia longas com abordagem nas questões da alma e da existência humana

O enaltecimento de preceitos religiosos - com prêmios para a fábula budista do diretor tailandês Apichatpong Weerasethakal Uncle Boonmee who can recall his past lives (vencedor da Palma de Ouro) e para o drama Des hommes et des dieux (do francês Xavier Beauvois), centrado no destino de frades católicos sequestrados - marcou a premiação do 63º Festival de Cannes, ocorrida ontem à noite na França. Detentor do prêmio máximo, Uncle Boonmee%u2026 enfoca o isolamento voluntário de um homem que passa a ser contatado por imagens da mulher morta e do filho desaparecido. A crença na alma e tradições culturais aprendidas no México motivaram a realização, segundo o realizador. [SAIBAMAIS]Premiado ainda pelo júri ecumênico, Des hommes et des dieux - um libelo à compaixão - foi inspirado por eventos da Argélia de 1994, com animosidade entre muçulmanos radicais e o Exército local. Diante do prêmio para a fita estrelada por Lambert Wilson e Michael Lonsdale, o diretor Xavier Beauvois enfatizou: "Houve um grande momento de graça durante toda a filmagem". Com a imagem estampada no cartaz do festival, a atriz francesa Juliette Binoche, à frente de Copie conforme (do iraniano Abbas Kiarostami), foi escolhida melhor atriz, por interpretar uma mulher que reencontra o amor. Com participação intensa no evento, Binoche chamou a atenção da imprensa ao chorar pelo destino incerto do cineasta Jafar Panahi, preso no Irã por motivos políticos. Na cerimônia, a condição de Panahi foi insistentemente lembrada. A facção amena da premiação projetou o ator (e cineasta) Mathieu Amalric como melhor diretor pelo longa-metragem (no qual também atua) Tournée, que celebra a passagem de strippers norte-americanas pela França. Em clima de surpresa, trouxe o empate para os atores Javier Bardem e Elio Germano, ambos lembrados, respectivamente, pelos filmes Biutiful e La nostra vita. No primeiro, a morte ronda um pai de família atolado por problemas de saúde, enquanto o segundo traz Elio Germano dando vida a um operário viúvo que se esforça para manter a família íntegra. Outro drama (do sul-coreano Lee Chang-dong), Poetry, em torno de uma avó que tem a poesia como válvula de escape, faturou o prêmio de melhor roteiro. Presidido pelo ator Gael Garcia Bernal, o júri do troféu Câmera de Ouro (dedicado aos impulsos de realizadores com traços experimentais) concedeu láurea para o diretor representante do México, o estreante Michael Rowe (de Ano bissexto). Potente desde o tema - que retrata a guerra civil fomentada nos anos de 1980 pela inconstância política na ex-colônia francesa do Chade -, Un homme qui crie n%u2019est pas un ours qui danse, de Mahamat-Saleh Haroun (testemunha ocular do conflito), foi reconhecido com o prêmio do júri do 63º Festival de Cannes, 13 anos depois de a última participação africana no certame francês. Com a Palma na mão Palma de Ouro Uncle Boonmee who can recall his past lives (Apichatpong Weerasethakul) Grande prêmio do júri Des hommes et des dieux (Xavier Beauvois) Melhor direção Mathieu Amalric (Tournée) Melhor atriz Juliette Binoche (Copie conforme) Melhor ator (ex-aequo) Javier Bardem (Biutiful) e Elio Germano (La nostra vita) Melhor roteiro Poetry (Lee Chang-dong) Prêmio do júri Un homme qui crie n%u2019est pas un ours qui danse (Mahamat-Saleh Haroun) Câmera de Ouro Ano bissexto (Michael Row) Prêmio do júri ecumênico Des hommes et de Dieux (Xavier Beauvois) Prêmio da mostra Um Certo Olhar Ha Ha Ha (Hong Sang-soo) Prêmio Fipresci (atribuído por críticos de quase 70 países) Tournée (na mostra oficial);Pal Adrienn (de Agnes Kocsis, da seção Um Certo Olhar) e Todos vós sodes capitáns (de Oliver Laxe, no segmento da Quinzena dos Realizadores)