Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Ken Loach vai a Cannes falar sobre a 'licença para matar' no Iraque

Cannes - Após a emocionante e divertida "Looking for Eric", o diretor britânico Ken Loach passou a falar dos serviços de segurança particulares, que têm licença para matar no Iraque, em "Route Irish", apresentado nesta quinta-feira na competição do Festival de Cannes. [SAIBAMAIS]O relato gira em torno de dois amigos de infância, um ex-agente secreto e um militar, que em 2004 trabalham juntos como agentes de segurança em Bagdá, atividade perigosa e muito bem remunerada. Um dos dois morre em 2007 na "Route Irish", a estrada mais perigosa da capital iraquiana, a que vai do aeroporto à "zona verde" de Bagdá. O filme narra as investigações realizadas pelo amigo vivo até saber a verdade a partir de uma versão oficial pouco convincente. Ken Loach mostra desta vez uma guerra que "está se privatizando, lenta e deliberadamente", que traz grandes lucros, segundo as palavras de Paul Laverty, mais uma vez roteirista do diretor britânico. "Route Irish" tenta descrever comportamentos que fazem com que os que "não estavam a favor da Al-Qaeda antes, ficassem depois", segundo um dos personagens. Descreve cenas de torturas que seguem a regra de "sem sangue não há culpa", execuções drásticas em aplicação da pena de talião, vinganças errôneas, mortos para nada, iniciativas banalizadas na televisão por séries tão eficazes como "24 horas". Loach filmou na Jordânia as cenas de guerra correspondentes ao Iraque, em Liverpool os momentos que transcorrem na Grã-Bretanha, com atores desconhecidos procedentes da televisão como protagonistas - Mark Womack, Andrea Lowe e Trevor Williams. As espanholas Tornasol Films e Alta Producciones participam deste trabalho. A atriz Naiwa Nimri tem um pequeno papel, Marisol, que consola em Ibiza os agentes que voltam exaustos do Iraque a caminho de casa. O filme americano "Fair Game" veio para completar a temática iraquiana do dia na sessão oficial de Cannes que começou com o filme de Doug Lime. Interpretado por Naomi Watts e Sean Penn, o filme de Doug Lime relembra o caso de Valerie Plame, agente da CIA cuja identidade foi divulgada pelo Governo americano de George Bush em 2002, quando estava sendo questionada uma suposta compra de urânio por Saddam Hussein e de instrumentos para enriquecê-lo. Com um bom ritmo, "Fair Game" apresenta todos os ingredientes do cinema de intriga e investigação que os americanos sabem fazer tão bem, e uma vontade clara de contribuir para a moralidade da prática política. O terceiro filme oficial do dia, o italiano "La nostra vita", de Danieel Luchetti, parte como relato de costumes ao estilo de um Andrea Camilleri, com personagens populares no meio da construção de casas, e tenta falar de corrupção, racismo, droga. O resultado é um pequeno filme mais próprio para a televisão, muito longe de "Gomorra", que comoveu Cannes há dois anos, e um ator formidável, Elio Germano, no papel de um homem que se mantém de pé, independente do que ocorra. Enquanto "Carlos", o extenso esboço de Chacal apresentado na quarta-feira, segue muito presente nos espíritos e na atualidade, dois jovens cineastas brasileiros propuseram na Quinzena de Realizadores outra maneira de falar de política. "A alegria", de Felipe Bragança e Marina Meliande, é considerado um exuberante conto de fadas sobre a juventude atual, que tem que construir valores e sonhos da vida para criar um novo universo sem olhar para os símbolos que guiaram as gerações anteriores.