Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Núcleo Alaya Dança reúne intérpretes de diversas gerações da companhia para espetáculo comemorativo

Coreografias resgatam e inovam antigas performances do grupo

"Qual é a sua laia?", grita alguém em meio à estripulia do ensaio. A eufonia, dita em um momento de carinho, revela a identificação daquelas pessoas com a Cia. Alaya Dança. Após 20 anos de trajetória, quatro deles longe dos palcos como grupo, os integrantes se reúnem no espetáculo comemorativo Alaya 20 em cantos, que estreia hoje e fica em cartaz até 30 de maio na Sala Plínio Marcos, do Complexo Cultural da Funarte. Mais que uma reunião de montagens consagradas da companhia, Alaya 20 em cantos transforma antigas coreografias, agregando saudosismo e maturidade em novos passos. "Recuperamos algumas cenas, tanto de espetáculos do grupo como solos de alguns intérpretes, e as tornamos independentes. Trabalhamos cada ideia de forma nova, exaltando o que chamamos de memórias, resíduos que os espetáculos deixaram no corpo de cada integrante", define a diretora Lenora Lobo. Lenora acredita que, apesar de lidar com dançarinos profissionais, o corpo em movimento possui boca e gogó também. Por isso, os dançarinos se revezam em dança, canto e interpretação em 20 cenas. Entre os integrantes, participações especiais fixas (Dora Rocha e Márcia Almeida) e esporádicas. Andrea Jabour, do grupo carioca Aquitetura do Movimento, se apresenta nos dias 21 e 22. Júlio César Campos, com coreografia de Rosa Coimbra, se apresenta nos dias 20, 23 e de 27 a 30. Hoje e nos dias 22, 28 e 30, Cecília Borges integra a equipe. Para a apresentação, o grupo se reúne desde janeiro para ensaiar as cenas coletivas, criadas por meio de laboratórios com orientação de Lenora. "Lançamos questões para os intérpretes, que foram instigados a improvisar algumas cenas. Depois, selecionamos e organizamos momentos e separamos o que seria apresentado coletivamente." Os figurinos ficaram sob responsabilidade do artista plástico Ralf Gehre, discípulo de Athos Bulcão, que resumiu a história da companhia em modelos simples e dinâmicos. A partir de peças geométricas, como "triângulos, retângulos e quadrados para vestir", o artista desenvolveu um figurino para cada cena, de modo a favorecer a contrução das personagens. As peças, em cor branca, interagem com a iluminação jogada sobre o palco. "Usamos a roupa como metáfora de sobreposição. Assim como aquela peça sobrepõe o corpo nu, a personagem sobrepõe a persona do intérprete quando entra em palco", define o artista. Para conceber o novo figurino, Gehre pesquisou vídeos e imagens de arquivo da companhia, além de resgatar as peças originais. O acervo ficará exposto na entrada do teatro para que o público tenha conhecimento do trabalho anterior, composto por tecidos que fazem referência à cultura popular e modelos alinhados às inovações da dança contemporânea em todo o mundo. História reunida Referência em dança na década de 1990, a Alaya serviu como base para o projeto de Lenora Lobo em pesquisa do movimento. A companhia foi criada sob luz dos ensinamentos de Rudolf Laban, importante teórico do século 20 e "pai" da dança-teatro, e Klauss Vianna, com quem a diretora trabalhou como assistente. Além de espetáculos regulares a cada dois anos, a companhia oferecia aulas teóricas e práticas com base no Teatro do Movimento, método de dança contemporânea desenvolvido por Lenora Lobo que dá autonomia aos dançarinos. "A Alaya não nasceu de propósito, mas em consequência de um processo educativo. Quando cheguei a Brasília, em 1986, reuni esse grupo de pesquisa que gerou um produto estético. O método favoreceu a formação de intérpretes-criadores", recorda a diretora. Como companhia, os integrantes da Alaya foram responsáveis, com a diretora, pela criação de espetáculos marcantes, como Esquinas (1991), Fervendo (1994) e Origens (1998). O fim do grupo, em 2006, deu lugar ao Núcleo Alaya Dança, com o propósito de realizar mostras de dança e debates, mas que também gerou novas coreografias, apresentadas nos espetáculos Água, de Alexandre Nas (2007) e Estrada Griô, de João Negreiros (2008). "Não nos afastamos. Demos muitos cursos juntos nos últimos anos e continuamos o diálogo. É interessante ver a beleza que resulta disso e como as pessoas são autônomas, seguem uma trajetória fora dos palcos. Esse espetáculo é um retorno com os dançarinos, um reencontro na coxia", define a intérprete Márcia Almeida. ALAYA 20 EM CANTOS Espetáculo de dança contempoânea com Aida Cruz, Alexandre Nas, Beneto Luna, Christiane lapa, João Negreiros, Jorge Dupan, Hilton Golçalves, Marcilma Carvalho, Selma Andrade e participações especiais. Direção de Lenora Lobo. Até 30 de maio na Sala Plínio Marcos, do Complexo Cultural da Funarte. De quarta a sábado, às 21h, e domingo, às 20h. Entrada mediante entrega de 1kg de alimento não perecível. Classificação indicativa: livre.