E assim o título deve ser encarado. Por mais que ilustre com desenhos e verbetes os fatos e acontecimentos históricos das cinco décadas do rock e dê espaço para protagonistas e coadjuvantes, o livro apenas arranha a superfície da história do gênero musical ; no sentido de não se aprofundar em nenhum episódio, e sim dar mais uma passeada em vários deles. Aliás, um bom conhecimento de cultura pop vai ajudar o leitor a melhor apreciar a leitura e não boiar em diversas passagens. Vale ressaltar também que O pequeno livro do rock não é exatamente uma história em quadrinhos. Mesmo que o desenhista pegue emprestado das HQs a narrativa sequencial em quadros, o resultado é mais próximo de um livro ilustrado.
Mas é dentro dessa proposta, de contar a história do rock de uma maneira mais pessoal, afetiva, bem-humorada, sensorial e resumida, que O pequeno livro do rock se sai tão bem. Com um traço mais cartunesco do que realista, Hervé Bourhis apresenta o rock de forma cronológica, desde suas raízes nos primeiros anos do século 20 até 2009. Estão lá desde a cantora de blues Trixie Smith até o grupo vanguardista Animal Collective, da jukebox (as antigas máquinas nas quais o usuário inseria uma moeda para fazer tocar uma música) até o iPod; da invenção da guitarra elétrica à criação dos sintetizadores; do country, R, rock, soul, hip-hop e eletrônica até o resultado das misturas de um ou mais desses estilos em algo novo.
Lógica inversa
Em determinado momento, fica ainda mais claro que o autor está falando de sua própria relação com a música ; ele também vira uma personagem do livro. Detalhes que seriam nota de rodapé em outros livros aqui merecem maior destaque. Várias bandas, cuja relevância não as deixaria ficar de fora de uma enciclopédia do rock, nem são citadas. Bourhis, inclusive, brinca com isso. No fim do livro, ele reproduz uma carta enviada a ele por um dos editores da Dargoud (a editora do título na França) questionando a ausência do Jefferson Airplane, do Cream, de Emerson, Lake & Palmer e de tantos outros.
Mas Hervé Bourhis não é qualquer fã de música. Com 35 anos de idade, ele consumiu vorazmente desde a adolescência discos, revistas e filmes sobre música. As ausências acabam compensadas por presenças curiosas, como a coletânea The sexual life of savages, sobre a cena pós-punk paulistana dos anos 1980 (Mutantes, bossa nova e CSS também estão na lista dos brasileiros mencionados) e, como não poderia ser diferente, muitos artistas franceses. Serge Gainsbourg merecidamente ganha especial atenção.
Gostos musicais à parte, difícil ser fã de música e não se comover com a leitura de O pequeno livro do rock. É o livro que, em nossas cabeças, todos já escrevemos um dia.
ESCOLA DE ROCK
; Interessado em expandir seus conhecimentos sobre o rock? A partir de 8 de maio e nos quatro sábados seguintes, o Centro Musical Toque de Classe (Lago Sul, subida da QI 23, no comércio do Big Box) oferecerá um curso sobre a história do rock. As aulas, ministradas pelo professor Anderson Nigro (baterista com passagem por diversas bandas brasilienses, hoje tocando no Super Stereo Surf) serão divididas em cinco capítulos, abordando marcos ou movimentos fundamentais do rock. O professor vai indicar, semanalmente, a discografia, filmografia e bibliografia relacionadas às aulas. Não existem pré-requisitos para a inscrição, basta ter mais de 14 anos. As turmas terão, no máximo, 20 alunos. Valor promocional para a primeira turma: R$ 200. Informações:
3366-2020 e 3366-4446.
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