Treinamento físico por seis horas diárias, seis vezes por semana, intercalados por exercícios de alongamento, condicionamento e massagem. A intensa rotina de treinos do Katakl; Athletic Dance Theater é similar à dos esportes ; disciplina que a equipe, formada por ex-atletas olímpicos, preservou do passado em quadras e ginásios. Não à toa, a temática de Play envolve o universo esportivo e as tensões que precedem cada competição. O espetáculo, que chega amanhã à cidade, para dois dias de apresentações no Teatro Nacional, conta a evolução da humanidade por meio da história dos esportes.
Mas se o ginasta desvirtua os passos marcados, o que poderia ser considerado erro para os rigorosos treinadores é visto como arte para a diretora Giullia Staccioli. Bicampeã olímpica de ginástica rítmica (em Los Angeles, 1984, e Seul, 1988), a fundadora do grupo e coreógrafa abriu os olhos para o potencial esportivo nos palcos. ;Trabalhamos muito a encenação, então o show é uma mistura de dança, interpretação e esportes. Mas os exercícios são apenas uma desculpa para contar histórias;, acredita.
Em Play, montagem que toma a Sala Villa-Lobos no sábado e no domingo, os treinos olímpicos são o pano de fundo para movimentos de graciosa precisão. As coreografias leves, que subvertem as ações apressadas comuns ao futebol, basquete, tênis e natação, incrementam ironia e humor ao que deveria ser competição, mas se torna dança.
A coreografia contrasta com instrumentos de aço e cordas. Argolas, traves, bicicletas, barras e bolas servem de contraponto às sapatilhas, enquanto os dançarinos encarnam atletas de diferentes gerações da história esportiva. ;A apresentação é como uma jornada pelo mundo e pelo tempo. Costumo definir como cartões-postais que chegam de diferentes lugares. Eles são uma ferramenta para conhecer a história dos esportes. Você encontra histórias da Grécia Antiga, do futuro, do começo do século;, explica Giullia Staccioli.
Em sua segunda passagem por Brasília ; a anterior, em 2004, trouxe um dos mais famosos espetáculos do grupo, Fair play ; o Katakl; segue rumo ao fim da turnê em 11 cidades brasileiras com a curta temporada no Teatro Nacional. Daqui, viaja para a última apresentação, no Rio de Janeiro, e volta para a Itália, cidade-sede do grupo, para mais ensaios. ;Na última turnê ao Brasil, tivemos pouco tempo para conhecer as cidades. Gosto muito da história de Brasília, da razão por que foi construída e do formato e de avião. É muito importante para mim estar aí e ver com meus próprios olhos mais uma vez essa cidade espacial;, elogia a diretora por telefone.
Versatilidade
Em grego, Katakl; significa ;eu danço dobrando-me e contorcendo-me;. A palavra curta, traduzida em um universo de significados, destaca a versatilidade física que salta aos olhos nas apresentações do grupo. Mas os integrantes também se desdobram em estudos. A diversidade artística e a temática demonstradas nas montagens do Katakl; exigem dos artistas um conhecimento profundo dos esportes e das artes cênicas.
Da última passagem por Brasília para hoje, o grupo esteve em constante mutação. O espetáculo Fair play se centrava nos jogos de lealdade e competitividade entre esportistas. Já Play exigiu um aprendizado dramático maior. ;Katakl; é um trabalho em progresso. Nestses 15 anos de vida, o projeto evoluiu, mudou passo a passo. No começo, a companhia era composta apenas por ginastas, havia pouquíssimo de teatro. Agora, trabalhamos muito a encenação, então o show é uma mistura de modalidades;, conta a diretora, que organiza os ensaios entre aulas de dança contemporânea, moderna e clássica, treinos físicos, interpretação e exercícios de linguagem corporal.
A equipe volta transformada. Dos oito dançarinos em turnê, apenas Marcos Zanotti estava na formação que veio ao Brasil em 2004. O versátil ginasta olímpico, que executa desde passos aéreos a movimentos de hip-hop, entrou no grupo em 2001.;Desde então, promovi diversas audições e convidei, além de atletas, dançarinos com habilidades acrobáticas para tornar a equipe mais completa;, afirma Giullia Staccioli.
PLAY
Espetáculo de dança da Katakl; Athletic Dance Theater. Amanhã, às 21h, e domingo, às 20h, na Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional Claudio Santoro. Ingressos: R$ 100 e R$ 50 (meia-entrada para estudantes, assinantes do Correio Braziliense e doadores de alimentos). Informações: 3325-6256 e 3325-6239. Classificação indicativa livre.
Entrevista
Já esteve em Brasília em 2004, o que pensa da cidade?
É uma cidade espacial! É sério, me impressionou muito. Eu tive pouco tempo para conhecer a cidade. Quando você está fazendo turnê, fica mais no teatro. Mas eu gosto muito da história da cidade, a razão porque foi construída, o formato de avião. É importante para mim estar aí e ver com meus próprios olhos. Dessa vez, não sei se terei tempo (risos).
E a apresentação? Como foi concebida?
A apresentação é como uma jornada pelo mundo e pelo tempo. Eu costumo explicar como cartões postais que chegam de diferentes lugares. Eles são uma ferramenta para conhecer a história dos esportes. Você encontra histórias da Grécia Antiga, do futuro, do começo do século. Os esportes são uma desculpa para contar essas histórias.
Quais esportes podem ser vistos na apresentação?
São 20 coreografias, cada uma é um esporte. São vários, como nado sincronizado, bicicleta, natação, futebol, tudo!
Que diferenças vocês observa ao longo da trajetória do grupo?
Kataklò é um trabalho em progresso. Nesses 15 anos de vida, o projeto evoluiu, mudou passo a passo. No começo, a companhia era composta apenas por ginastas, havia pouquíssimo de teatro. Agora, trabalhamos muito a encenação, então o show é uma mistura de dança, atuação e esportes.
São 15 membros?
Sim, mas apenas 8 são dançarinos. O resto faz parte da equipe de produção.
Como você os recrutou?
Eu promovi audições. Eu abri para dançarinos com habilidades acrobaticas ou atléticas e esportistas com habilidades de dança.
Como você acha que um atleta se torna um artista?
É um trabalho muito difícil de estudos que eu faço na companhia com os dançarinos. Teatro, dança e esporte têm de estar no mesmo nível. Fazemos isso por meio de aulas, workshops, estágios. Cada performance é estudada e trabalhada por, pelo menos, oito meses ou um ano antes da apresentação entrar em turnê.
Como é a rotina de treino?
A gente ensaia cinco vezes por semana. São seis horas diárias. Nesse tempo, trabalhamos em coisas diferentes, como dança contemporânea, moderna e clássica, exercícios físicos, interpretação e todas as formas de linguagem corporal. É um trabalho muito intenso todos os dias. Também discutimos o repertório do show em conjunto.
Qual foi o último membro a integrar o grupo?
A equipe que vai a Brasília está trabalhando há 3 anos, mas alguns dançarinos estão na companhia há 8 anos. Marcos Zanotti esteve em Brasília em 2004. Maria Agatiello estava no grupo mas não pode vir, agora finalmente pode vir, ela está feliz!
Como será o próximo espetáculo, Love machine?
A gente está trabalhando nele. São diferentes coreografias contando uma mesma história. [E uma ??? sobre Leonardo Da Vinci. Estão estudando as máquinas e o corpo humano. Os dançarinos estão tendo um trabalho duro no palco.
E os esportes?
Mostramos esportes clássicos, mas estilizados nas coreografias. Usamos as técnicas corporais esportivas, não há encenações esportivas.