"Fui contaminado pelo espírito da festa do Brasília, outros 50", comenta o diretor Mauro Giuntini, que engrossa a corrente de 10 cineastas mobilizados pela realização de um longa-metragem motivado pela alusão aos 50 anos da capital, a partir da reunião de uma dezena de curtas-metragens. Os profissionais tiveram no projeto Brasília, Outros 50 uma espécie de injeção propulsora: o evento, transcorrido em três dias, reuniu apresentações de 2.000 artistas no gramado do Complexo Cultural da Funarte, até sexta-feira passada.
[SAIBAMAIS]O brasiliense Giuntini, aos 44 anos, descobriu, no evento, o objeto para o documentário em mente, um projeto coletivo ainda sem título definido. "Estou pesquisando o grupo musical Mestre Zé do Pife e as Juvelinas, ele é um pernambucano que fabrica instrumentos e já deu cursos na UnB. Pela música, veio o encontro improvável com a nove meninas - que se revezam no violino e na percussão - de outros estratos sociais e que, em princípio, não têm nada a ver com a realidade cultural dele", adianta Giuntini.
O projeto do longa em andamento congrega profissionais experimentados, como Cibele Amaral, José Eduardo Belmonte, Andréa Glória e André Miranda. A eles estão somados Ronaldo Guedes, Ricardo Movits e Thiago Moysés, entre outros. "Em três meses as imagens devem estar captadas para darmos início à pós-produção. Por enquanto, houve encontros para adequarmos os padrões técnicos. Depois, virão os debates sobre a montagem. Até agora, a verba inicial é muito simbólica (R$ 22,5 mil), mas vamos buscar maior investimento", explica a produtora Tâmara Habka, que exerceu parte da coordenação do segmento cinematográfico no Brasília, Outros 50.Entidades como a Associação de Profissionais de Cinema (Aprocine) e a Associação Brasileira de Cinema e Vídeo (ABCV) também trarão respaldo para a execução do projeto feito em mutirão. O filme deve estar finalizado no segundo semestre.
Acalentando a expectativa de que o amplo trabalho conjunto dos diretores revele a visão de um "painel bacana, que ganhe a forma fragmentada", o diretor José Eduardo Belmonte aposta num denominador comum: "O que vai unir todos será a diferença". "Os realizadores têm a confiança de estarem no comando - eles tomam para si a responsabilidade de construírem o próprio caminho", comenta. Com uma história de amor agridoce, Belmonte vai construir o curta com personagem que reaviva (na cabeça) um amor, com uma década de distanciamento. "Pelas passagens subterrâneas, ele se lembra do tempo em que andava em Brasília, enfrentando os carros e flertando, entre as decisões de passar em cima ou por baixo do Eixão", explica.
Integração arejada
Aderindo ao exemplo de união de forças do projeto, a dupla de cineastas Johil Carvalho e Sérgio Lacerda (anteriormente juntos em filmes como o vencedor do troféu da Câmara Legislativa do DF Olhos nos olhos e Deus-arma) pretende investir no primeiro documentário. Formado em ciências contábeis, Sérgio Lacerda se diz, na verdade, "um contador, mas de histórias". Na mira dele, e também de Johil, está o resgate da Brasília igualitária. "Vamos falar das pessoas que moram no Distrito Federal, mas não têm ciência nem convivência com a Brasília inicial - aquela dos monumentos. Hoje em dia, o espírito é de segregação, diferente do modelo pretendido para a cidade", comenta. Na intenção dos dois diretores está o registro do primeiro olhar de moradores da cidade que não tenham tanto conhecimento de pontos como a Esplanada dos Ministérios e a Ponte JK.
Saído das primeiras experiências do canal universitário UnBTV, e há uma década no ramo cinematográfico, o diretor Filipe Gontijo, aos 30 anos, pretende aproveitar a liberdade plena que deve pontuar o pacote de curtas-metragens a ser produzido. Seguindo o formato de imagens em alta definição, um dos pontos em comum da leva de novos filmes, o diretor de A gruta (2008) assumirá o comando de roteiro de ficção de própria autoria. Contando com o ator Edu Moraes no elenco, a intenção é a de se aproximar do humor.
"Não fiz nada de romântico no cinema, então, quero experimentar. Vamos focalizar um casal de estagiários que trabalha num órgão público e mora em diferentes cidades do DF. Eles têm um estilo de vida bem diferente daquele mantido quando se encontram no Plano Piloto", comenta, em torno dos personagens. Numa brincadeira com o grupo Kahlan Hansa (dedicado à música celta), o diretor jogará com as inseguranças que a paixão pelo jazz já rendeu para ele, quando se tratava de compartilhar o gosto musical com as antigas namoradas. Ainda sem título, a comédia pretendida será de bom gosto e só estará nas telas, no que depender de Filipe Gontijo. "Vamos acertar as filmagens para dois dias, no máximo. A ideia é até de trabalhar de graça, mas não pagar para trabalhar", brinca.