A ligação de Carlos Althier de Souza Lemos Escobar, o Guinga, com o choro vem desde a infância. Mestre do violão e um dos mais importantes compositores da moderna MPB, ele lembra como se aproximou do gênero: "Na casa da minha família, em Jacarepaguá (Zona Oeste do Rio), vizinha à de Pixinguinha, eram comuns as serestas em que se ouvia muito choro e valsa. Um dos participantes daqueles encontros era o Haroldo Bessa, um violonista maravilhoso, amigo do Garoto, de quem conhecia toda a obra, e uma referência para mim".
Na adolescência, Guinga costumava ver Pixinguinha tomando chope num bar daquele bairro, mas sempre guardava distância respeitosa. "Curiosamente, quando eu tinha 17 anos, em 1967, participei do 2º Festival Internacional da Canção, com Solidão. E tive o grande mestre Pixinguinha como concorrente. Ele classificou Fala baixinho, dele e de Hermínio Bello de Carvalho, defendida por Ademilde Fonseca e Abel Ferreira. A vencedora, porém, foi Margarida, de Gutemberg Guarabira", recorda-se.
Convidado para voltar ao Clube do Choro no projeto Brasília, 50 Anos - Capital do Choro, Guinga, no show solo que fará de hoje a sexta-feira, às 21h, abrirá espaço maior no roteiro para esse gênero musical utilizado por ele em várias composições. "Tenho grande apreciação pela linguagem do choro e, por conta disso, compus para o violão, por exemplo, Cheio de dedos, Picotado, Dichavado, Jogo de compadre, Comendador Albuquerque e Perfume de Radamés, além da inédita Mestre de obras. Vou tocar todas no recital", adianta.
O público ouvirá, também, valsas de autoria do compositor, como Cine Baronsesa e Igreja da Penha. "Vou tocar, ainda, o arranjo que fiz para Estrada branca, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, para a apresentação no Clube do Choro pelo projeto que homenageou o Tom; Ainda me recordo (Pixinguinha), Sons de carrilhões (João Pernambuco) e alguma coisa de Dilermando Reis", anuncia.
Turnê italiana
Guinga retornou recentemente de turnê por Roma, Milão, Puglia, Perugia, Calábria e Porto Venere (Itália), com passagem por Marselha (França). Na maioria dessas cidades, além de fazer concertos, ele esteve à frente de master classes. "Na Itália, sacramentei o projeto de um longa-metragem sobre minha vida, que envolverá três empresas daquele país: a Egea, gravadora pela qual lanço meus discos na Europa; a produtora Verde Ouro, que tem feito algumas coisas sobre o Brasil; e a produtora do Massimo D%u2019Orzi, diretor do documentário", revela. "Durante a minha estada no país, houve mais de 60 horas de filmagem. No dia 27 de maio, a equipe do Massimo virá ao Rio para concluir os trabalhos, que inclui o concerto comemorativo dos meus 60 anos, no Teatro Guaíra, em Curitiba", acrescenta.
Em seus mais de 40 anos de carreira, o músico lançou seis discos: Simples absurdo (1991), Delírio carioca (1993), Suíte Leopoldina (1999), Cine Baronesa (2001) e Noturno Copacabana (2003). Músicas de sua autoria foram gravadas por Elis Regina, Chico Buarque, Clara Nunes, Ivan Lins, Leila Pinheiro, Sérgio Mendes e Michel Legrand. Ele tem parcerias como Paulo César Pinheiro, Aldir Blanc, Chico Buarque e Nei Lopes. "Estou com o repertório para um disco pela Biscoito Fino. Em julho volto à Itália para participar do Umbria Jazz Festival e vou aproveitar para gravar outro disco pela Egea", conta.
GUINGA
Recital solo do violonista e compositor carioca, de hoje a sexta-feira, às 21h, pelo projeto Brasília, 50 Anos - Capital do Choro. No Clube do Choro (Eixo Monumental, ao lado do Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (meia para estudantes). Não recomendado para menores de 14 anos. Informações: 3224-0599.