O início das comemorações culturais do cinquentário de Brasília foi como tinha que ser: na rua, com gente daqui, de todas as idades, famílias inteiras. E com música, poesia, dança, teatro. Tudo de graça. Em plena segunda-feira, a entrequadra da 312/313 Norte se encheu novamente de gente. Há 11 anos, o açougue Cultural T-Bone fecha a rua de tempos em tempos para grandes shows de artistas nacionais e internacionais e em, toda quinta-feira, recebe artistas locais. Desta vez, a reunião cultural foi especial.
"Como nos aniversários de Brasília acontecem grandes festas, os artistas daqui acabam ficando de fora. Por isso, resolvemos fazer a abertura, prestigiando os da cidade. Dessa vez, o próprio setor cultural tomou esta iniciativa, não só aqui, no T-Bone, mas em outros eventos que vão acontecer durante a semana", disse Luiz Amorim, proprietário do açougue cultural e idealizador das bibliotecas nas paradas de ônibus da W3 Norte.
Teve de tudo na festa: reggae, MPB, samba misturado com forró, música clássica com popular, teatro musical e muita poesia. Tudo remetendo à história da capital federal. O primeiro a se apresentar foi o grupo de reggae Terra Prometida, que agradou, mas deixou gente querendo mais. Em seguida, o poeta João Amancio recitou versos sobre a cidade. E cedeu espaço para a apresentação do maestro Rênio Quintas, no violão, e da cantora Célia Porto. Como não podia deixar de ser, eles emocionaram o público com versões de canções da Legião Urbana.
"O T-Bone é a cara da cidade. Porque açougue cultural eu só vi em Brasília. É uma iniciativa que já virou tradição. Por mim, teria padaria, frutaria cultural", divertiu-se Célia Porto. Segundo ela, a ideia de comemorar o aniversário de Brasília com artistas locais é importante. "As pessoas precisam, novamente, se ver no artista. Queremos conquistar de novo o olhar de quem mora aqui", disse a cantora.
Entre um show e outro, durante toda a noite, poetas, escritores e atores recitavam poesias. Falavam da cidade, dos parques, das ruas, do céu. O Quarteto de Brasília começou com Brasileirinho, passeou por músicas de Chico Buarque, como A banda e mostrou mais uma vez composições eruditas e populares.
Mas foi no fim da noite, por volta das 23h, que a festa parecia estar começando. Mesmo com o público já bem reduzido, gente suficiente resistiu para assistir ao espetáculo do grupo Liga Tripa. A mistura de samba, baião, frevo e blues fez todo mundo dançar e cantar junto. "A cidade pulsa, tem arte. Quando vemos eventos que festejam a cidade só com artistas de fora, abafa a arte daqui. É o mesmo que não olhar para a comunidade, para a gente"Parabéns a Brasília em ritmo de carnaval.
Para fechar a noite, a atração mais esperada, Jorge Mautner. "Uma das maiores preciosidades de Brasília é a criação do açougue cultural", iniciou ele. O público, já bem mais restrito, resistiu e soltou a voz ao lado do cantor. Um show quase que particular para quem estava ali. E que arrancou passos de dançar com sucessos da carreira como Psicótico.
Três perguntas para Luiz Amorim
Por que as bibliotecas, nas paradas de ônibus da W3 Norte, estão abandonadas?
A primeira fase do projeto era justamente para vermos como o público iria reagir. Se hoje já tem gente reclamando, depois de três anos, da estrutura e do estado dos livros, isso é bom. Significa que as pessoas adotaram o projeto. Mas, ao ar livre, a conservação dos livros é pior do que em uma biblioteca. Em compensação ele é mais manuseado.
O que tem sido feito para manter as bibliotecas?
Três vezes por semana eu e uma equipe fazemos a reposição de livros e retiramos os estragados. Mas o governo local faltou com sua parte: pedimos iluminação, limpeza e pintura nas paradas. O que não aconteceu.
Há planos de expansão do projeto?
Na última sexta-feira fechamos uma parceira com o BRB. Em três meses, 36 bibliotecas das paradas de ônibus serão revitalizadas. As estantes serão de acrílico, com porta, luz, sinalização. Depois disso, a ideia é partir para a ampliação do projeto, colocando as bibliotecas também nas paradas da W3 Sul.