Irlam Rocha Lima
postado em 14/04/2010 07:00
Há quem diga que eles formam a menor big band do mundo. Faz sentido. O som que o trombonista Zé da Velha e o trompetista Silvério Pontes produzem é tão múltiplo e rico em suas nuances que dá a impressão de ser de uma orquestra. O brasiliense poderá apreciar o requinte instrumental desses dois músicos talentosos em show de hoje a sexta-feira, às 21h, no Clube do Choro, pelo projeto Brasília 50 Anos, Capital do Choro. Eles terão a companhia do grupo Choro Livre, formado por Henrique Neto (violão sete cordas), Rafael dos Anjos (violão seis cordas), Márcio Marinho (cavaquinho) e Tonho Affonso (pandeiro).
Sem se apresentar na capital há seis anos, a dupla ; que brilha nos palcos do Rio de Janeiro e de outras cidades brasileiras há 25 anos ; vai mostrar o resultado do trabalho em cinco discos, nos quais focaliza clássicos do choro e do samba e temas menos conhecidos do grande público. ;Em nosso repertório não podem faltar músicas de grandes compositores da velha guarda, com os quais convivi e toquei;, afirma Zé da Velha.
;Comecei a tocar profissionalmente na adolescência. Aos 17 anos, já conhecia Donga (autor de Pelo telefone, o primeiro samba gravado), João da Baiana, Pixinguinha, Patrício Teixeira e Bide da Flauta (um dos fundadores do Clube do Choro). Mais tarde, passei a acompanhar Abel Ferreira, Paulo Moura e Beth Carvalho, entre outros, e marcava presença em duas rodas de choro que se tornaram famosas nos subúrbios do Rio, a Suvaco de Cobra, na Penha Circular, e a do Boteco do Chorinho, em Bonsucesso;, lembra o trombonista.
Referência em seu instrumento, Zé da Velha tem diminuído sensivelmente o número de apresentações e de viagens, desde a morte da mulher, há três anos. ;O baque foi muito forte para mim, depois de uma união de quase 50 anos. Só aceitei esse convite feito pelo Reco do Bandolim para voltar a Brasília porque o show vai ser no Clube do Choro, lugar onde sempre fui acolhido com carinho, junto a meu parceiro Silvério Pontes;, revela.
Pixinguinha
No repertório do show estão temas extraídos das obras de Pixinguinha (Cheguei e Oito batutas), Jacob do Bandolim (Bole bole e Doce de coco), Waldir Azevedo (Carioquinha), Astor Silva (Choro de gafieira) e Hélio Nascimento (Amigo velho). Também entram os sambas Pelo telefone (Donga), Gavião calçudo (Pixinguinha), Sem compromisso (Geraldo Pereira) e Pecado capital (Paulinho da Viola). ;Incluímos no roteiro Maxixe em família, que compus com Chico Nacarati, finalista do festival de música promovido pelo Museu da Imagem e do Som, que gerou o CD Chorando no Rio;, conta Silvério.
A incidência de composições de Pixinguinha no roteiro se explica pelo fato de a dupla ter lançado, em 2007, o álbum Só Pixinguinha. Para este ano, o projeto maior dele e de Zé da Velha é a gravação de um DVD no qual, pela primeira vez, pode aparecer uma parceria dos dois. ;Embora há tanto tempo fazendo show e gravando disco com o Zé, nunca compus com ele. Agora acho que chegou a hora de fazermos uma música juntos, para comemorar os 25 anos de parceria;, acrescenta o trompetista.
Silvério lembra que conheceu Zé da Velha em 1984, tocando num bar chamado Boca da Noite, na Rua do Mercado, no Centro do Rio. ;Quem nos apresentou foi o flautista e compositor Cláudio Camunguelo, morto há dois anos. A partir daí, passei a marcar presença em locais em que ele se apresentava, com o Paulo Moura e o Mário Pereira. Só fomos tocar juntos em público depois de gravarmos o disco Só gafieira, em show no teatro do Centro Cultural Banco do Brasil;, recorda-se.
Para o trompetista, o trombonista é um mestre e uma referência em seu ofício. ;Embora o Zé seja de outra geração, temos uma grande afinidade artística e pessoal. Ele é o rei do contraponto. Em nosso trabalho, ele repete o que Pixinguinha fazia ao tocar com Benedito Lacerda. Ou seja, enquanto eu faço a melodia, ele faz o contraponto em cima;, comenta, cheio de admiração.
Zé da Velha e Silvério Pontes
Show do trombonista e do trompetista de hoje a sexta-feira, às 21h, no Clube do Choro (Eixo Monumental, ao lado do Centro de Convenções Ulysses Guimarães). Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (meia). Não recomendado para menores de 14 anos. Informações: 3224-0599.
Ouça música Palpite Infeliz, de Noel Rosa