É comum as pessoas dizerem que ;parece cinema; quando querem elogiar uma boa produção dramatúrgica na tevê, como se bastasse parecer cinema para ser bom. Mas o clichê faz sentido e cabe como elogio justo quando aplicado a The Pacific, a série de guerra que estreou domingo no canal por assinatura HBO ; e que terá o primeiro episódio reprisado hoje, às 21h. Pois parece cinema, mas cinema do bom. Equipara-se a alguns dos melhores filmes de guerra realizados recentemente, mas não somente pelo espetacular apuro técnico. Estendendo o esmero artesanal à dramaturgia, The Pacific consegue provocar até mesmo o telespectador já cansado do tema Segunda Guerra Mundial ou saturado pela violência banalizada na programação de tevê.
Criou-se grande expectativa em torno da série ; que estreou em 14 de março na tevê norte-americana ;, principalmente porque ela leva as assinaturas de Tom Hanks e Steven Spielberg na produção executiva. A dupla tem seus nomes associados a outras boas produções do gênero, como o filme O resgate do soldado Ryan e a série Band of brothers, também realizada para a HBO. Pelo que se viu no primeiro episódio, tal expectativa não há de ser frustrada. A belíssima abertura com imagens e desenhos em preto e branco já dá a impressão de que estamos diante de um produto raro.
E essa impressão se consolida à medida que vemos cenas como a de uma batalha noturna, que se arrasta por cerca de sete minutos, com toda ação passando praticamente no escuro. Tiros e bombas pipocam como fogos de artifício na tela, ouvem-se apenas os ruídos, há uma sensação de claustrofobia e torpor que é transferida para o telespectador. Por fim, a tela explode em branco e, com dia claro, vê-se a praia coalhada de corpos de soldados mortos. O resultado é de grande impacto e pode-se dizer que é o clímax do primeiro episódio.
Com ação que se passa logo após o ataque a Pearl Harbour, The Pacific é apresentada como uma espécie de continuação de Band of brothers. E, de fato, não há como dissociar uma da outra. Digamos que a nova série dá continuidade à outra na medida em que se aprofunda ainda mais no conflito pessoal dos envolvidos na guerra. Se em Band of brothers era ressaltada a ação coletiva, agora ela é centrada em três personagens principais e nos conflitos emocionais e psicológicos por que passam em relação à guerra, seja no front ou não. Outro ponto alto de The Pacific é personificar o inimigo, ou seja, os japoneses. Particularmente na cena em que um deles se desespera quando é alvo de brincadeira dos marines americanos, que atiram não para matá-lo, mas por mera diversão.
As primeiras cenas, portanto, justificam o orçamento da produção, estimado em US$ 200 milhões, e nos levam a crer que o que se verá nos próximos nove episódios será o bater, com contundência, na mesma tecla: a da absoluta falta de sentido das guerras. Tecla um tanto desgastada, é fato. Mas que, infelizmente, parece que terá que ser batida enquanto durar a humanidade.