Promessa da Seleção Brasileira, no começo dos anos 1980, o então nadador Rojer Madruga, atualmente,
passa por uma fase encorajadora, que suscita a comparação com a antiga disciplina nas piscinas. ;Fui
atleta por muitos anos. Como nadador, participei de campeonatos pan-americanos. O atleta não tem,
necessariamente, uma linearidade na evolução: num dado momento, ele dá um pulo;, explica o produtor
cinematográfico, que é irmão de Djan Madruga, um dos maiores nadadores da história do Brasil. Com
mais de 30 filmes produzidos, ele engata dois longas consecutivos, a serem feitos pelos diretores
Pedro Lacerda e Pedro Anísio.
Primeiro longa-metragem de Pedro Anísio, Signo de ouro (a ser rodado em 2011), já movimenta o
produtor, que está em Buenos Aires (Argentina). ;Fomos pré-selecionados por uma entidade espanhola
(Egeda), num concurso e contaremos (por meio virtual) com um consultor de roteiro e outro de
produção. Vamos formatar, até julho, o projeto que será analisado no Festival de San Sebastián;,
explica o carioca Madruga, há 19 anos radicado em Brasília.
Integrar a equipe do longa-metragem Signo de ouro dará oportunidade para Rojer Madruga exercer a
atividade de diretor de fotografia, na qual foi reconhecido com prêmios para os curtas-metragens
Mamãe tá na geladeira (no Festival de Cinema Brasileiro de Miami) e 100 anos de perdão (em 2000, no
Festival de Brasília).
A passagem por Buenos Aires traz ainda o gosto de celebração, já que Rojer acompanhará a exibição de
Tudo é Brasil (no qual foi produtor executivo), de Rogério Sganzerla, homenageado no festival
portenho Internacional de Cinema Independente, evento que terá projeção de O signo do caos. ;No
filme O signo do caos (também de Sganzerla), levei crédito de câmera, mas as sequências feitas na
Chapada dos Veadeiros fui eu que fotografei. Apesar de não conviver tanto com o Sganzerla, fizemos
algumas viagens para Nova York e para Cannes. Ele era brilhante: numa simples conversa, você via
como era cativante e inteligente;, relembra.
No DF, a admiração de Rojer Madruga estende-se ao trabalho ;honesto e autêntico de Affonso Brazza;.
A identificação com o cineasta-bombeiro está nas dificuldades do período de entressafra, no qual o
dinheiro depende da locação de equipamentos de cinema. Daí, a luta pela profissionalização do
mercado local despontar como uma bandeira. O produtor ajudou na finalização de Fuga sem destino após
a morte do cineasta-bombeiro. ;Ele realizava tudo com orçamentos baixos e, mesmo com as
improvisações, sabia o que estava fazendo. Brazza não era nada bobo: seguia um método, e o coloco
como uma referência, sim;, comenta.
Set montado
Com o início das filmagens marcado para o próximo dia 15, Vidas vazias e as horas mortas, o primeiro
longa-metragem de Pedro Lacerda, trará imagens da Rodoviária do Plano Piloto, da W3 Sul e de
Sobradinho (Vila Rabelo e Fercal). Com logística de produção montada no Polo de Cinema e Vídeo
Grande Otelo, o filme ; orçado em R$ 600 mil (assegurados por seleção Fundo de Apoio à Cultura/FAC
de 2008) ; será uma tragicomédia. ;O longa trata de dois cearenses que, vindos a Brasília ao final
dos anos de 1950 para trabalhar na construção da capital, se perdem: Saul fica no Distrito Federal,
enquanto Jacó parte para São Paulo para se tornar vendedor ambulante;, adianta o baiano Pedro
Lacerda, há 42 anos radicado na capital.
Com três curtas-metragens no currículo, além da finalização do último longa assinado por Affonso
Brazza, Pedro Lacerda pretende se valer de elenco local, que inclui André Deca, Andrade Júnior,
Murilo Grossi e Renato Mattos. Na obra, existirão histórias paralelas que incluem um policial
chamado Pontaria, traficantes e uma senhora que atende por Dona Maria. ;O irmão mais novo de Saul e
Jacó, que é completamente ingênuo e não tem mais nada a perder, é incumbido pelo pai adoentado de
achar os irmãos e tentar uma reunião entre todos;, conta Lacerda.
Militante cultural
Aos 46 anos, a militância cultural de Rojer Madruga (que independe de partido, na opinião dele) tem
compensado. ;Sempre tive problemas com as constantes reivindicações na cidade. Mas, se a gente não
se posicionar, não fazemos evoluir as circunstâncias. As mudanças que estão por vir na Secretaria de
Cultura podem trazer pessoas com maior afinidade junto ao segmento cultural. Com o novo governo que
está sendo configurado, esperamos maior estabilidade na pasta da secretaria de Cultura. Falta
estrutura que dê continuidade aos bons projetos;, opina.
Recentemente, ele colocou até advogados em ;processo; contra a Secretaria de Cultura, que indeferiu
todos os projetos de fomento em longa-metragem do Fundo de Apoio à Cultura (FAC) 2009. ;Nesse caso,
havíamos ganhado no mérito cultural, mas fomos reprovados nos trâmites burocráticos;, conta o
produtor.
Como produtor, Madruga se vê como ;o braço direito do diretor;. ;Minha função é a de viabilizar
roteiros. Transferir o que está no papel para as latas de filme, que são projetadas nas salas de
exibição. O produtor toca projetos, respeitando prazos e verbas, e atua para preservar o conceito
original do diretor, até a distribuição do filme;, explica.
;Cinema é um vírus. Sempre tive vontade de fazer: quando estudei psicologia (em Indiana) gostava
demais das aulas de história da arte e da música, além das aulas de cinema;, conta. Depois da
temporada nos Estados Unidos, a vontade de estar nos sets foi insuflada pelo curso na Escola
Superior de Propaganda e Marketing e com a função de assistente de câmera em comerciais. Agora, o
antigo nadador de destaque internacional só quer saber da tela de cinema: ;A expectativa é de manter
esse ritmo. Fazer um longa atrás do outro, depois de tantos curtas, marca realmente uma mudança;.
Ouça entrevista com Rojer Madruga