Já faz quase 10 anos que a cantora Luciana Luppy deixou de morar em Paris. "Filha da primeira geração de Brasília", como gosta de enfatizar, ela dividiu a infância entre a capital do Brasil e o Rio de Janeiro, cidade que costumava visitar e onde mora atualmente. "Nasci em Brasília, tenho o coração carioca e a alma francesa", define-se. A primeira vez que pisou na terra das chansons d'amour foi por uma questão afetiva. "Não fui para morar. Fui para namorar um francês. Depois a paixão acabou e fiquei por mais alguns anos", recorda a cantora.
Da mistura desses diferentes eixos, brotou um estilo artístico feito em repertório mesclado. "Faço nova roupagem globalizada de canções brasileiras, por meio de desenhos idiomáticos riscados em cada canção", diz a cantora. Na prática, sucessos da MPB, como Jade (de João Bosco) e Eu que não sei nada do mar (de Ana Carolina), têm trechos interpretados em francês e em português.
O resultado poderá ser conferido mais uma vez pelos brasilienses em duas apresentações do show A França encanta o Brasil, nesta quinta e sexta (8 e 9/4), às 20h, no Espaço Cultural da Anatel. "Nelson Motta (produtor e crítico musical) diz que a bossa nova parece ter nascido para ser cantada em francês. São línguas irmãs, com a mesma origem do latim e que têm identidades muito próximas em termos de sonoridade", compara.
O repertório também contempla músicas totalmente cantadas no idioma de Camões, como A lua que te dei, Final feliz, Insensatez e Corcovado, e sucessos franceses mundialmente conhecidos, como La bohème e La vie en rose.
O ponto alto da performance, porém, será a derrubada de um mito por meio de exercício de imaginação. "Muita gente acha que Ne me quitte pas (conhecida no Brasil em gravação da cantora Maysa) ficou famosa na voz de Edith Piaf. Isso não é possível. Ela não conheceu essa canção. No show, esclareço isso e digo que vou interpretar a música da forma que acho que ela interpretaria", revela a cantora.
O show ainda não foi apresentado na França. Mas os franceses residentes no Brasil aprovam a mistura franco-brasileira. %u201CEles adoram. Dizem que o meu timbre de voz é gostoso, se parece com um pôr do sol%u201D, define.
Nesta quinta, Luciana terá dois convidados no palco: Rebeca Breder, filha do cantor Jessé, na execução da música composta pelo pai dela, Porto solidão, e o brasiliense Salomão Di Pádua, em Tigresa (de Caetano Veloso) e Jade. Amanhã, será a vez da cantora Sheilami, em música ainda não definida. Os músicos brasilienses Renato Vieira (percussão), Jarbas de Souza (bateria) e Fernando Joather (piano de cauda) farão participações especiais.
A FRANÇA ENCANTA O BRASIL
Show da cantora Luciana Luppy e convidados em homenagem ao cinquentenário de Brasília.
Hoje e amanhã, às 20h, no Espaço Cultural Anatel (SAUS, Q. 6, atrás do prédio da Polícia Federal). Informações: 8177-5227. Ingressos: R$ 50 e R$ 25 (meia). Classificação indicativa livre.