Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Flautista de renome nacional, Odette Ernest Dias volta ao palco em show de clima afetivo

O show desta semana do projeto Brasília 50 Anos - Capital do Choro tem como protagonista a flautista Odette Ernest Dias, musicista que faz parte determinante da história do Clube do Choro. Foi no apartamento dela, na 311 Sul, onde ocorreram, na segunda metade da década de 1970, as concorridas e hoje lendárias rodas de choro que deram origem à instituição. De hoje a sexta-feira, às 21h, em clima familiar, Odette reencontrará no palco os filhos e também músicos talentosos: Beth Ernest Dias (flauta) e Jaime Ernest Dias (violão). Em 2009, os três fizeram uma série de apresentações - também no Teatro da Caixa Cultural - para comemorar os 80 anos dela e celebrar Heitor Villa-Lobos, na passagem dos 50 anos da morte do genial compositor brasileiro. "Logo que cheguei ao Rio, tive contato com Villa-Lobos. Toquei com ele na Orquestra Sinfônica Brasileira", recorda-se. Odette era uma flautista com trabalho reconhecido em Paris quando, em 1952, a convite do maestro Eleasar de Carvalho, veio para o Brasil e se integrou à Orquestra Sinfônica Brasileira, da qual, por 17 anos, fez parte do naipe de sopros. Paralelamente, tocava na Rádio Nacional, sob a batuta de nomes que fizeram história na emissora, como Radamés Gnattali, Lírio Panicalli, Léo Perachi, Lindolfo Gaia e Guerra Peixe. "Com o advento da ditadura militar, a Nacional foi praticamente destroçada. Aí, junto a outros músicos que eram contratados pela rádio, fomos para a Orquestra da TV Globo, que estava sendo formada", lembra a flautista, que também foi professora da Pro-Arte, na qual criou o Quinteto Pixinguinha, existente até hoje. Da formação atual, faz parte a flautista Andréa Ernest Dias, outra filha de Odette. "Conheci Pixinguinha como arranjador na Rádio Tupi. Depois, costumava encontrá-lo na uisqueria Gouveia, na Travessa do Ouvidor, no centro da cidade, onde ele tinha mesa cativa e vivia cercado de músicos e jornalistas", conta. Em Brasília, Odette chegou em 1974. Convidada por Orlando Leite, veio ser professora do Departamento de Música da UnB, que à época tinha como reitor Amadeu Curi. No ano seguinte, já integrada ao movimento musical da cidade, passou a promover rodas de choro em seu apartamento, na 311 Sul, com a participação de instrumentistas que, em sua maioria, vieram, como ela, do Rio - entre eles, Waldir Azevedo, Avena de Castro, Bide da Flauta, Pernambuco do Pandeiro, Tio João e Simpatia. "Como as reuniões começaram a ficar muito concorridas, consegui com o Galante, da Secretaria de Cultura, o Teatro da Escola Parque para promover as rodas de choro. Aí o Antônio Lício lançou a ideia de criarmos o Clube do Choro. Geraldo (Dias, marido de Odette, morto em março de 1994), que era uma pessoa agregadora, formulou a ata de criação e saiu em busca da assinatura dos sócios-fundadores. Com a doação da sede feita pelo ex-governador Elmo Serejo, nos instalamos onde até hoje funciona o clube", rememora. Há cinco anos, a musicista voltou a morar no Rio, onde mantém-se em frequente atividade artística. De sua discografia, constam oito CDs solo. Em 25 de janeiro último, gravou um álbum ao vivo, na igreja de Caraça (em sítio próximo a Belo Horizonte) no qual registrou uma suíte com músicas de Bach e do jazzista norte-americano Paul Horn. Finas composições Elaborado por Beth Ernest Dias, o roteiro do show de hoje terá três sets que buscarão reviver a trajetória musical de Odette e dos filhos. "Há um certo paralelismo entre as carreiras de mamãe, da minha e do Jaime. Quando ela veio para Brasília e passou a promover o encontro de chorões, o Jaime, ainda garoto, era um atento espectador. Enquanto isso, eu, que continuei morando no Rio de Janeiro, integrava o grupo A Fina Flor do Samba", explica. Uma formação de trio abrirá o show tocando Dialogando e Sábado à tarde (Avena de Castro), Chorei e Sofre porque queres (Pixinguinha), entre outros choros. Em seguida, Beth e Jaime interpretam Que fale o coração e Betinha no choro, ambas de autoria do violonista e compositor carioca Ruy Quaresma. "Vamos mostrar coisas que eu fazia com o pessoal do A Fina Flor", anuncia a flautista, que integra a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro e é professora da Escola de Música de Brasília. Haverá, ainda, um set em que Jaime (criador da Orquestra de Violões e professor da Escola de Música de Brasília), em momento solo, mostrará composições autorais e uma valsa de Alencar Sete Cordas, músico com presença frequente nas reuniões no apartamento de Odette, há três décadas. "Costumava ouvir o Alencar naquela época e ele tornou-se referência para mim", diz Jaime. Além do citarista Avena de Castro (primeiro presidente do Clube do Choro) e Alencar Sete Cordas, Odette, Beth e Jaime vão homenagear outros fundadores da instituição, como o saxofonista Tio Nilo, que morreu no mês passado, aos 90 anos. "É importante lembrar sempre esses grandes músicos, responsáveis diretos pela criação do clube que, cheio de admiração, via e ouvia tocando nas rodas de choro promovidas por minha mãe, na minha adolescência", reforça o violonista. "Fazer isso com minha mãe e a Beth vai ser melhor ainda", acrescenta. ROGRAME-SE De hoje a sexta-feira, às 21h, pelo projeto Brasília, 50 Anos - Capital do Choro, no Clube do Choro (Eixo Monumental, ao lado do Centro de Convenções Ulysses Guimarães). Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (meia para estudantes). Não recomendado para menores de 14 anos. Informações: 3224-0599.