Acontece apenas uma vez a cada ano, mas mobiliza boa parte dos artistas da cidade. A mostra Semicírculo, em cartaz no Museu Nacional da República, reúne 85 artistas com o propósito de abrir as portas à produção local e comemorar os 50 anos da capital. ;A exposição me surpreendeu porque a provocação foi, de certa forma, atendida pelos artistas: fazer uma leitura crítica da cidade nos seus 50 anos. Semicírculo remete ao semisséculo da cidade;, explica Wagner Barja, curador da mostra e diretor do museu. ;Alguns artistas atenderam a essa provocação, outros nem tanto, mas todos estão muito alinhados. Alguns atenderam com uma resposta estética, outros com crítica política.;
Repartida em módulos, a mostra coloca sob o mesmo teto três propostas diferentes. Um espaço foi reservado para as doações de arte contemporânea recebidas pelo museu desde que foi inaugurado. Boa parte deste lote concentra as obras contempladas com o Prêmio Marcantônio Vilaça de 2006, que premiou obras de artistas como Milton Marques e Nelson Félix. No mezanino, ficam as designers do projeto Brasília Faz Bem. Fátima Bueno, Carla Assis e Lígia de Medeiros criaram uma iconografia a partir de símbolos da cidade para dar forma a objetos de design.
O resto do museu, incluindo o pátio externo, ficou por conta dos artistas convidados por Barja. Não houve uma seleção com critérios específicos para definir os participantes. O curador preferiu se fixar na ideia de panorama e, por isso, recebeu os artistas que se apresentaram. ;A princípio estava um pouco temeroso porque sempre é um risco fazer uma curadoria com essa liberdade e às vezes sou muito criticado por isso. Mas acho que, pelo menos uma vez por ano, o museu tinha que fazer isso com os artistas daqui;, diz Barja.
O teor crítico e as reflexões sobre Brasília e seus habitantes aparecem com bastante frequência. O coletivo Entreaberto, por exemplo, partiu de uma foto histórica do acervo do Arquivo Nacional para construir a ironia do trabalho. Na imagem que indicava o local da construção do Eixo Monumental, o grupo inseriu o Museu da República. ;É uma provocação;, avisa Polyanna Morgana, integrante do grupo que tem ainda Gustavo Magalhães e Sabrina Lopes. ;O projeto de construção de Brasília, embora contemplasse a construção de um museu que cumpriria um papel de fazer circular obras de artistas de vários lugares do DF, do Brasil e do mundo, não teve sua realização, sua materialização perante os demais prédios públicos de Brasília. Isso revela o lugar, dentro da lista de prioridades, que a arte tem. Mesmo em Brasília, que é um museu a céu aberto, cheio de obras em arquitetura, escultura, pintura e tapeçaria, não houve, durante muitos anos, um espaço que cumprisse com esse papel de fazer circular a arte, um espaço de intercâmbio.;
O teor político da obra do Entreaberto é exatamente o que Barja pretendia estimular quando imaginou os temas possíveis para Semicírculo. ;É uma exposição para ocupar o espaço político da cidade com relação às artes visuais, mostrar que essa gente tem seu valor e não precisa se dividir tanto, que tem uma força produtiva e tem artistas que surpreendem com esse tipo de provocação;, diz o curador, que também encara a mostra como uma tentativa de unir os artistas plásticos da cidade. ;Os artistas de Brasília estão desarticulados, não estão tão voltados para a política cultural, então é bom reuni-los. Não sei por que, mas acho que é por falta de liderança política, de perspectiva. Fica só aquela coisa do FAC, de aprovar projeto, e não tem uma classe política atuante aqui, no meio das artes. Uma prova disso é que na Conferência Nacional de Cultura havia muito pouca gente daqui, e o Brasil inteiro estava lá, interessado nas estratégias políticas para a economia da cultura.;
SEMICÍRCULO
Visitação até 26 de abril, de terça a domingo, das 9h às 18h30, no Museu Nacional da República (Conjunto Cultural da República, Setor Cultural Sul, Lt. 3; 3325-5220). <--
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