Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Sem uma escola oficial de circo, artistas do DF aprendem técnicas e tradição em oficinas e cursos livres

Quando iniciaram a carreira em 1982, os artistas da companhia brasiliense Circo Teatro Udigrudi não tiveram outra opção a não ser aprender todas as técnicas circenses de maneira autodidata. ;Antes, o conhecimento era transmitido de pai para filho. Se você não nascesse numa família circense, dificilmente aprenderia essa arte. O método era pouco didático, na base do chinelo mesmo. No exterior, o processo de formalização do treinamento do ensino do circo é mais antigo do que aqui;, analisa Luciano Porto, um dos integrantes da trupe . ;Se nós tivéssemos cursado uma escola de circo, quando a gente começou e a capacidade física para fazer acrobacias era maior, teríamos ido muito mais além do que a gente foi. Falo como virtuoses;, avalia Porto.

Transcorridos 28 anos desde a criação do Circo Teatro Udigrudi, Brasília ainda não tem uma escola de circo. Cursos livres, oficinas e aulas ministradas por profissionais da área indicam os caminhos do aprendizado das técnicas do picadeiro no DF. Mais conhecida como a palhaça Fronha, Antônia Vilarinho é coordenadora do projeto Doutoras, Música e Riso. Patrocinado pela Petrobras e pelo Fundo de Apoio a Cultura (FAC), o trabalho é desenvolvido com pacientes do Hospital Regional da Asa Norte. Há pouco tempo, porém, Antônia e o grupo de oito integrantes pensam em montar um banco de dados de palhaças. Para tanto, ela ministra oficinas. ;Nós preparamos as pessoas para usar essa máscara do palhaço. É colocar a pessoa num estado de constrangimento, no qual se revelam fragilidades, o que há de mais engraçado, espontâneo sem entrar no racional. Aí a pessoa despe, se expõe, se coloca no centro e dá a cara para bater.;

Foram graça a aulas de circo, na Escola de Meninos e Meninas do Parque, que os irmãos Ruiberdan e Ankomárcio Saúde, do Circo Teatro Artetude, entraram na profissão. Na época, eles tiveram a chance de receber treinamento de grandes palhaços da cidade, como Serenata, Mestre Zezito e Mandioca Frita. ;Eles compuseram nossa arte de circo de rua;, admite Ankomárcio. Agora, os irmãos repetem o que aprenderam, fazendo oficinas que incluem técnicas de malabarismos, acrobacias e perna de pau para jovens entre 12 e 17 anos. Ao longo do ano, as oficinas serão ministradas no Núcleo Bandeirante, Recanto das Emas, Samambaia, Gama, Varjão, Santa Maria e Candangolândia. ;Faremos uma varredura nas cidades para descobrir jovens interessados em aprender a se organizar como artista circense. Selecionaremos os que mais se destacarem profissionalmente para incentivá-los;, avisa Ankomárcio.

Nas alturas

Para quem deseja arriscar um pouco mais e passar algum tempo nas alturas. Vários cursos de acrobacias aéreas são oferecidos em diferentes pontos da cidade. O casal de acrobatas do Circo Teatro Rebote, Erika Mesquita e Atawalpa Coelo, coordena cursos ministrados dentro da Academia Scala (localizada na Casa do Ceará). Nas aulas, os alunos utilizam aparelhos como tecido, lira e corda. Porém, as lições podem ser modificadas dependendo do entusiasmo dos participantes. ;O curso funciona seguindo as expectativas dos alunos. Se eles requerem técnicas de malabarismos, por exemplo, nos os ajudaremos;, explica Erika.

No Centro Olímpico do Setor Leste, são oferecidas aulas das técnicas circenses, como a ministrada pelos acrobatas Dani Oliveira e Daniel Lacourt. Com passagens pela Escola Nacional do Circo, no Rio de Janeiro, e pelas escolas Arc-En-Cirque, em Chambéry (França), e École Superieure des Arts du Cirque, em Bruxelas (Bélgica), Lacourt acredita que a principal diferença pedagógica entre os métodos ensinados aqui e no exterior reside no fato de que as escolas do Brasil incentivam o ensino do circo como espetáculo de variedades, dividido em números.

Nos cursos livres em que leciona, o acrobata tenta desenvolver técnica parecida com as das escolas europeias. ;Na ginástica olímpica, por exemplo, existe uma exigência para que sejam desempenhados os movimentos padronizados. No circo, também existem padrões de movimentos comumente seguidos. Aqui, nós não ficarmos presos ao padrão e incentivarmos o aluno a encontrar sua individualidade;, explica o professor.


FESTIVAL FORMATIVO
Um dos mais importantes festivais de palhaço e circo do país, o Sesc Festclown tem desenvolvido papel importante na formação dos artistas do DF. Não só por permitir que os profissionais daqui fiquem diante de técnicas e estéticas de criadores de todo o mundo, mas por possuir um forte aspecto formativo, com oficinas que ocorrem durante os dias do encontro. Já trouxe para cá mestre como o italiano Lelys Colombaioni, que influenciaram fortemente artistas da cidade, como Antônia Vilarinho e Ana Flávia Garcia, a palhaça Geleia. Neste ano, acontece entre 1; a 4 de abril, na Funarte (Eixo Monumental, perto da Torre de TV), com oficinas e workshops com profissionais da área. A programação completa ainda não foi divulgada. Informações: .