Nas mãos, placas enumeradas de unidades a centenas sobem ao ar, uma após a outra, a marcar lances para o leilão de arte. No verso de cada uma, pequenas imagens de valor artístico se destacam, revelando pinturas originais e exclusivas de Irany Vidigal, Carpio de Moraes, Cláudia Gama, Malu Perlingueiro, Tao Fercaj, entre outros. Mas o diferencial dos leilões organizados por Gabriela Rosso não se restringe às imagens cedidas pelos artistas. Sob a supervisão da venezuelana radicada em Brasília, o dinheiro dos arremates é direcionado a projetos sociais com o objetivo de diminuir os índices de violência contra a mulher, cujas vítimas chegaram a uma em cada três brasileiras, e apoiar portadores do vírus HIV.
O sucesso do primeiro leilão, realizado em dezembro do ano passado, empolgou a voluntária a programar uma série de eventos culturais para este ano, unindo música clássica e popular, fotografia, pintura, escultura e cinema. ;A função principal de todas as artes é provocar o crescimento, explorar uma mesma realidade com diferentes olhares. Se você, além disso, adicionar a missão de ajudar, a arte se completa;, acredita a Gabriela Rosso, que fundou o projeto Por Amor à Arte, Por Amor à Vida em 2009.
A agenda para este ano está turbinada com diversas parcerias. Mensalmente, uma sessão de cinema do Cine Academia é cedida ao projeto. O dinheiro arrecadado com ingressos é revertido para a organização, que distribui doações a ONGs e medicamentos. O maior ganho, entretanto, é a sensibilização do público. ;Antes de cada filme, conversamos sobre a realidade das vítimas de violência e da Aids. Assim, multiplica-se o potencial de mudar realidades, porque atingimos um número maior de pessoas que podem se tornar futuras doadoras ou apoiadoras do projeto;, conclui Gabriela.
A programação se expande para shows de música em maio, com a realização de um duo de pianistas com o português Adriano Jordão e o alemão Hermann Sausen. Em junho, é a vez de Ney Matogrosso se tornar o porta-voz do Por Amor À Arte, Por Amor à Vida. ;Queria um evento maior para atingir mais pessoas, mas não podia ser qualquer show. O Ney tem um histórico de resistência, principalmente por ter tido amigos e parceiros que morreram por complicações da Aids;, justifica a venezuelana.
Sempre em busca de colaborações e patrocínios, Gabriela financia parte dos eventos com o dinheiro arrecadado no primeiro leilão, que somou R$ 45 mil em doações. ;O objetivo, sempre, é termos o mínimo de gastos, porque somos parceiros de entidades que nescessitam de doações mensais. Por isso, buscamos também apoio com museus, casas de festa e espetáculos para cederem espaço aos nossos eventos;, explica.
Os artistas também entram na onda do voluntariado. Para os leilões, parte das imagens vieram de doações dos próprios pintores e fotógrafos ou cedidas por colecionadores. Gabriela já busca novas obras para uma exposição de fotografias em setembro e um novo leilão em novembro.
Voluntariado
Nascida no Peru, naturalizada venezuelana e com nacionalidade canadense, Gabriela Rosso mudou-se para o Brasil em 2008 acompanhando o marido, o conselheiro da Embaixada do Canadá,Michael Harvey. Psicóloga por formação e diretora de uma organização não governamental em Caracas, na Venezuela, por quatro anos, era especializada em realizar leilões, arrecadando verbas para tocar projetos sociais.
No Brasil, em contato com levantamentos sobre violência de gênero e Aids, decidiu dar continuidade ao trabalho expandindo seus objetivos. ;As mulheres levam a vida como vítimas de dependência psicológica, espancamento, agressão verbal e sexual, e, muitas vezes, não encontram formas de se desvincular dos agressores. É deles que muitas contraem o HIV;, explica.
Parte dos R$ 40 mil arrecadados com o primeiro leilão e as verbas conseguidas com as sessões de cinema está reservada a ONGs que já trabalham na causa. Voluntária na luta contra a Aids há oito anos e diretora da Vida Positiva, Vicky Tavares foi a primeira a se associar ao Por Amor à Arte, Por Amor a Vida. ;A verba é destinada a medicamentos e a alimentação de 19 crianças que vivem com a gente em regime de creche e alojamento. Como temos a preocupação com o trabalho cultural, como artes, música e literatura, o projeto se encaixa com perfeição ao nosso;, detalha Vicky.
O que vem por aí
Maio
Concerto de pianos com Adriano Jordão e Hermann Sausen
Junho
Show de Ney Matogrosso
Setembro
Mês da Fotografia, com exposições e concursos
Novembro
Leilão beneficente Por Amor à Arte, Por amor à Vida
Aids e violência de gênero
A cada 7 segundos, uma mulher é vítima de violência, enquanto, a cada 4 minutos, uma contrai o vírus HIV.
Nos últimos 10 anos, houve crescimento de 82% de novos casos de Aids em mulheres.
As maiores vítimas estão na faixa entre 15 e 24 anos, que compreende 62% das mulheres infectadas no Brasil.
Dos 11.523 óbitos por Aids no Brasil em 2008, 105 vítimas residiam no Distrito Federal.
Estima-se que 630 mil pessoas estejam infectadas com o HIV no país. <--
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