A timidez assumida de Glênio Bianchetti vem acompanhada de modéstia. Pioneiro das artes plásticas na capital e um dos fundadores do curso de artes visuais na Universidade de Brasília (UnB), o artista não via muito sentido em um filme sobre sua trajetória. Mas ficou bem satisfeito com Bianchetti, documentário de 52 minutos realizado por Renato Barbieri para o programa DocTV. "Achei que ele soube variar bem o filme. No fundo, eu tinha um certo medo de que fosse um filme chato. Geralmente assunto dos outros só interessa aos outros. A tendência é essa", diz.
O filme já está em fase de reprise nas TVs Cultura e Brasil, mas pode ser visto pelo público brasiliense a partir de amanhã no auditório da Caixa Cultural e fica em cartaz até sexta-feira. Na próxima quinta, Bianchetti também estará presente para debate após a projeção.
Vencida a timidez em enfrentar a câmera, Bianchetti conseguiu tratar a constante presença de Barbieri com espontaneidade e sem tensões. "Tinha me autodeterminado a enfrentar com a mesma naturalidade que pinto um quadro. Do meio para o fim, o filme é a história de um quadro", avisa o artista. "Aí está o interessante, para quem nunca pintou poder compreender que é uma coisa séria, que tem muitos problemas."
Desde o início das filmagens, no ano passado, Barbieri descartou a ideia de fazer um documentário cronológico e biográfico. As imagens são centradas no trabalho no ateliê do artista em Brasília, um passeio de férias em Nova Viçosa (BA), onde mantém ateliê, e Bagé (RS), a cidade natal. Tudo muito tranquilo, como se a câmera fosse capaz de vislumbrar um dia no cotidiano do pintor, com a calma e o clima reservado que cerca Bianchetti. "Para mim, confesso, falar em público é muito difícil, não gosto, não sei falar, não sou polêmico, gosto de conversar, mas não de polemizar e discutir. E isso está no filme. Ele mostra minha vida profissional que é uma vida tranquila, de um sujeito que tem uma posição profissional como qualquer outro."
Barbieri admite que reduziu ao máximo a equipe de filmagem para conseguir captar a espontaneidade de Bianchetti. Normalmente, o diretor trabalha com equipe de seis pessoas. Dessa vez, no entanto, o set era ocupado por, no máximo, três pessoas além de Bianchetti e seus familiares. "Achei que se colocasse uma estrutura muito grande de filmagem ia ficar meio opressivo e ele não ia se soltar", conta. "Buscamos um tipo de narrativa mais poética porque é um trabalho sobre um artista e não cabia uma narração muito objetiva. Buscamos a formação do artista mesmo, da sua sensibilidade, do seu pensamento, que está muito mais numa trajetória de vida que envolve relações, lugares e percepções."
A cor dá o tom do documentário, que tem entrevistas com alguns dos seis filhos do pintor, críticos e artistas de Brasília, colegas da universidade e a esposa, Ailema. Entre azuis quentes e glaciais, verdes fortes e cores solares, Bianchetti mais mostra do que explica sua dinâmica pictórica. Fica claro que o pintor é um colorista virtuoso quando, ao final do filme, decide trocar o fundo azul de um quadro quase encerrado por um marrom ocre. "Para mim cor é luz, e luz é vida", explica.