Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Diretores James Cameron e Kathryn Bigelow, separados desde 1991, se enfrentam a batalha do Oscar

Marketing joga pesado para promover seus filmes, Avatar e Guerra ao terror, respectivamente

Com a batalha já anunciada, Guerra ao terror e Avatar, na disputa por nove estatuetas do Oscar cada um, lançaram mão, nos últimos dias, das derradeiras estratégias às vésperas de os combatentes alcançarem a cordial trégua esperada no tapete vermelho. Respaldado pelas cifras de bilheteria, o gigante Avatar parece apostar no antigo (e cada vez mais contestado) indício de vitória no Oscar: detém o Globo de Ouro de melhor drama. Mordendo os calcanhares do monumental sucesso de James Cameron, Guerra ao terror se instalou, longe da condição de vira-latas, como adversário de pedigree acentuado. Os oito longas-metragens que também brigam pela estatueta de melhor filme ; entre eles, Bastardos inglórios, de Quentin Tarantino ; estão longe do campo de batalha: assistem da arquibancada a esse confronto.

São sucessivas as vitórias do filme de Kathryn Bigelow, centrado na intervenção norte-americana no Iraque. Em campos que minaram multipremiações para Avatar, Guerra ao terror, já endeusado nas associações dos críticos, desferiu golpes duros, como a conquista de seis prêmios Bafta (apelidado de Oscar inglês), para além da vitória no prestigiado Producers Guild of America. Outro atalho na previsão da categoria de melhor diretor, o Directors Guild of America, aponta para a quebra de um dogma: Kathryn Bigelow pode ser a primeira diretora agraciada depois das derrotas de Lina Wertmuller, Sofia Coppola e Jane Campion.

Com a responsabilidade de inaugurar a premiação máxima para um filme de ficção científica, Avatar encara um primeiro agouro, isso porque o concorrente máximo representa um nicho, o da guerra, que já abocanhou cinco vezes a principal estatueta. Novas regras do jogo para a contenda que marca, hoje à noite, no Kodak Theatre, a 82; cerimônia do Oscar ; imprimem maior dinâmica à festa. Pela décima vez, no histórico do prêmio, uma dezena de fitas compete ao posto de melhor filme, na retomada de tradição encerrada em 1944. Outra norma recém-criada estipula a premiação final condicionada à ordem de preferência dos eleitores. Explica-se: o resultado foi tabulado com cada eleitor da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas ordenando, em preferência decrescente, cada um dos títulos escolhidos.

Estimulando certa controvérsia, mas sem comprometimento direto na definição dos vencedores, artifícios pesados de marketing, a exemplo de alianças inusitadas, agitaram os bastidores da festa que mobiliza um corpo de jurados próximo à casa dos seis mil. Com a cortesia de aguardar o fim das votações, o sargento Jeffrey Sarver protagonizou o mais recente incidente: polido, foi à mídia por meio do advogado, que reclama crédito no roteiro de Mark Boal (de Guerra ao terror), uma vez que o protagonista, um militar que desarma bombas no Iraque, teria sido inspirado na vida do sargento. ;Literalmente, transpuseram a vida dele para as telas e venderam como ficção;, reclama o advogado, em referência ao roteiro saído de artigo do jornalista Boal que inspirou Bigelow.

[SAIBAMAIS]Não fossem separados desde 1991, a disputa entre os diretores James Cameron e Kathryn Bigelow alcançaria a esfera doméstica e inflamaria os tabloides, numa competição amplamente movida a pólvora. Elementos de guerra estão dispersos em muitas das categorias. Além da óbvia demarcação no conteúdo dos que duelam pela condição de melhor filme, o roteiro adaptado de In the loop está no páreo, ao tratar dos bastidores de manobras para o assentamento de uma guerra no Oriente Médio, enquanto o coadjuvante Woody Harrelson , candidato por O mensageiro, tem a dura missão de anunciar baixas do Iraque aos familiares de soldados. Na contracorrente, candidatos como Distrito 9 e Invictus apregoam uma dose de pacifismo.

Ações polêmicas
A campanha agressiva de Guerra ao terror ganhou contornos escandalosos quando, em 19 de fevereiro, o produtor Nicolas Chartier ; um dos oito financiadores do longa-metragem ; enviou e-mails para integrantes da Academia pedindo para que prestassem atenção à fita independente e não ao ;filme de US$ 500 milhões;, numa referência a Avatar. A estratégia de marketing, que violou o código de conduta do Oscar (é proibido enviar e-mails para promover filmes), provocou constrangimento à Summit Entertainment, que defende o filme de Kathryn Bigelow. O estúdio, que decolou nas bilheterias a reboque da saga Crepúsculo, sugeriu que Chartier se retratasse. Mesmo depois do pedido de desculpas, no entanto, os organizadores da festa decidiram barrar o convidado polêmico.

O caso, apelidado pela imprensa americana de ;e-mailgate; (uma referência ao Watergate, o terremoto político que provocou a renúncia do presidente Richard Nixon em 1974), é o exemplo mais extremo do jogo pesado das equipes de marketing, que investem alto para garantir o máximo de visibilidade aos indicados. Para defender o ;pequeno; Guerra ao terror, a Summit pagou cerca de US$ 50 mil numa capa da revista Variety, uma das vitrines preferidas de Hollywood. De acordo com o jornal Los Angeles Times, a empresa de divulgação 42 West distribuiu à Academia e-mails indicando os cinemas onde o filme estaria em exibição.

A concorrência não fica muito atrás. No dia seguinte ao anúncio dos preferidos da Academia, a Sony Pictures Classics comprou uma capa de Variety para Carey Mulligan, indicada por Educação. A Lions Gate adotou uma tática parecida para valorizar o passe de Preciosa. Essa corrida pelo Oscar de melhor atriz acirrou a disputa na categoria. Ainda segundo o Los Angeles Times, o favoritismo de Sandra Bullock (em Um sonho possível) pode ser estremecido por quatro candidatas: Meryl Streep (cuja campanha se sustenta no fato de que a veterana não vence um Oscar desde 1982, por A escolha de Sofia), Mulligan e Gabourey Sidibe (Preciosa). Helen Mirren, à margem dos grandes investimentos em publicidade, faz figuração com The last station.

OSCAR 2010
Cerimônia de premiação de Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, no Kodak Theatre, em Hollywood (EUA). Transmissão ao vivo na TV Globo, após o Big Brother Brasil, com José Wilker e Maria Beltrão. Na TNT, cobertura da festa e do tapete vermelho a partir das 21h, apresentada por Chris Nicklas e Rubens Ewald Filho.

"Se você e seus amigos nos ajudarem, seremos nós os vencedores, e não o filme de US$ 500 milhões. Precisamos que os independentes ganhem"
Trecho do e-mail do produtor Nicolas Chartier, de Guerra ao terror, a integrantes da Academia