Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Documentário que mergulha no universo infantil de Galeno é exibido na tevê e na Livraria Cultura, seguido de debate

Quando Francisco Galeno deixou o Delta do Parnaíba em direção a Brasília, em 1966, trouxe na bagagem um mundo de cores e formas que mais tarde se transformariam em ícones de uma obra formada por pinturas e esculturas. A história do Galeno menino que construía carrinhos de latinha, brincava com lamparinas e piões e assistia à mãe bordar a renda de bilro é bem conhecida por quem se interessa pela obra do artista e, por isso, o cineasta Marcelo Diaz decidiu que esse seria um viés interessante de abordar em um documentário. Galeno curumim arteiro começou a ser produzido em 2008 e será exibido hoje na TV Cultura e amanhã no auditório da Livraria Cultura, acompanhado de uma pequena exposição na Referência Galeria de Arte. O projeto de Galeno curumim arteiro foi contemplado no edital do DocTV de 2008 e levou quase dois anos para ficar pronto. Exibido ontem na TV Brasil e programado para hoje na TV Cultura, o filme ganha amanhã, na livraria, projeção única seguida de debate com o artista. Além de acompanhar a criação e a confecção de uma obra, Diaz queria mergulhar no universo infantil ao qual Galeno costuma se referir. Para encontrar as paisagens, luzes e objetos tão citados pelo artista como influências definitivas, o cineasta fez questão de visitar o Delta do Parnaíba. Na tela, Galeno passa pela casa em que nasceu e a casa da tia, rendeira como a mãe. "A ideia era fazer uma ponte entre o ambiente ao qual ele remete quando vai criar e os quadros. Além disso, o filme é composto de depoimentos de uma série de pessoas representativas na história pessoal dele, não só artística, mas familiar. São pessoas envolvidas com o histórico dele", adianta o diretor. Com 52 minutos, o documentário também tem cenas realizadas em Brasília, no ateliê do artista e durante a confecção do painel da Igreja Nossa Senhora de Fátima, na 308 Sul. A ligação da obra de Galeno com a de Alfredo Volpi, cujos desenhos originalmente adornavam a igreja, é um dos pontos explorados pelo diretor, que preferiu não investir na polêmica gerada pelo trabalho. Quando o pintor iniciou a obra, no ano passado, alguns frequentadores da paróquia protestaram contra a modernidade do traço. "A coisa da igrejinha está bem presente no filme. A polêmica nem tanto, porque é meio passageira. A obra vai ficar e a polêmica não. Em se tratando dos 50 anos de Brasília, é um filme que tem tudo a ver, porque a gente também mostra um pouco da influência modernista. A fala dele em si tem muito a ver com a relação que ele mesmo deixa clara com o modernismo da cidade." Galeno ainda não viu o filme, mas achou interessante o processo de filmagem, especialmente a visita a lugares como a casa construída pelo pai carpinteiro para a família morar. O artista deixou a residência aos 8 anos para vir morar em Brasília. De lá, trouxe as lembranças às quais recorre a cada novo trabalho. "Foi uma emoção muito grande, a casa está intacta, foi coisa de pouca vivência, mas que marcou muito", conta. "Fico feliz com o documentário. Geralmente, esse tipo de coisa é feita quando a pessoa morre. Para mim, está sendo interessante porque estou trabalhando e participando. Tudo foi feito de maneira tranquila, divertida, alegre." A exposição na Referência é apenas uma amostra do acervo da galeria. As obras novas estarão no próximo mês na Galeria Anna Maria Niemeyer, no Rio de Janeiro. Somente em novembro as pinturas chegam a Brasília. Desta vez, haverá novidade. Havia muito tempo Galeno queria trabalhar diretamente com a renda de bilro que tanto povoou sua infância, mas não ficava satisfeito com os resultados. Agora, resolveu usar o artesanato como base para um decalque impresso diretamente sobre os desenhos. "Estou testando uma nova técnica, é uma experimentação. Era uma coisa que sempre procurei, representar a renda em si, mas não conseguia a textura nem o emaranhado", avisa. GALENO CURUMIM ARTEIRO Documentário de Marcelo Diaz. Hoje, às 22h40, na TV Cultura. Amanhã, às 17h, na Livraria Cultura (CasaPark). Entrada franca.