Na primeira metade da década de 1980, enquanto Renato Russo, Dinho Ouro Preto e Philippe Seabra, entre outros, influenciados por bandas punk inglesas e norte-americanas, empunhando guitarra e microfone, criavam o som que fez Brasília ser conhecida como a capital do rock; Marcelo Sena, tomando como mestres Cartola, Nelson Cavaquinho, Paulinho da Viola e Chico Buarque, se tornou sambista.
Com o irmão Lafaiete, Marcelo criou o Coisa Nossa, grupo surgido em meio ao barulho roqueiro, que se espalhava por todos os cantos da capital. Três décadas depois, ele e seu pandeiro continuam em plena atividade, servindo de referência para novos conjuntos que proliferaram na cidade nos dois últimos anos. ;Sou o único remanescente da formação original do Coisa Nossa, e me orgulho de, 30 anos depois, manter acesa a chama do samba entre os brasilienses;, comemora.
;Quando, em 1979, meu irmão inscreveu a música Dúvida no Festival Interno do Colégio Objetivo (Fico), éramos apenas um grupo de amigos que gostavam de samba. Ficamos em terceiro lugar na eliminatória de Brasília e nos classificamos para a final em São Paulo, realizada no Ginásio Ibirapuera. No ano seguinte, depois de muitos ensaios, surgiu o Coisa Nossa, que logo caiu nas graças do público.;
Para isso, contribuiu a roda de samba que o Coisa Nossa comandava no Cavaquinho, cervejaria que existia na 408 Sul. ;Desde o começo da nossa trajetória sempre cumprimos longas temporadas nos locais em que tocamos. No Cavaquinho, ficamos durante cinco anos, aos sábados, das 14h às 19h. Paralelamente, nos apresentávamos no Flor Amorosa (102 Norte), às 22h, e ficamos lá por mais tempo ainda;, recorda-se.
Numa demonstração de que a popularidade se mantém em alta, o grupo é recordista de permanência em cartaz no Bar do Calaf, atualmente o mais conhecido palco do samba no Distrito Federal. ;Hoje, às 22h30, vamos comemorar seis anos de Calaf e, para nossa alegria, sempre com casa lotada;, festeja. Da atual formação, além de Marcelo, somente o ritmista e vocalista Carlos Kina vem dos primeiros tempos do grupo.
;O Kina entrou no Coisa Nossa em 1981. Depois houve várias mudanças, ao longo do anos;, observa o fundador. Os outros integrantes são: Júnior Morgado (violão), Valério Alves (cavaquinho solo e vocal), Carlos Chaves (cavaquinho centro), Ebinho (baixo), Márcio Chaves (tantan), Beto (bateria), Rafael e Renato Keké (percussão). ;Com essa galera, a gente vem se apresentando aos domingos, às 20h, no Roda do Chope, no Núcleo Bandeirante;, anuncia.
Projetos
Da história do Coisa Nossa fazem parte shows em diferentes locais e participação em diversos projetos. ;Possivelmente o lugar em que mais tocamos foi na Aruc, quando ali havia programação regular todo fim de semana. Tomamos parte na Feira de Música comandada por Carlos Elias, no Teatro Garagem, e de edições dos projetos Temporadas Populares, Arte por Toda Parte e Cabeças, além disso, acompanhamos grandes nomes do samba, em shows aqui na cidade;, ressalta Marcelo. Estão entre esses nomes, Jamelão, Dona Ivone Lara, Jovelina Pérola Negra, Neguinho da Beija Flor, Jorge Aragão, Arlindo Cruz, Sombrinha, Dudu Nobre, Dominguinhos do Estácio e Paulinho Mocidade.
O Coisa Nossa possui poucos registros fonográficos. Um deles é o LP de produção independente lançado na década de 1980 e presença nos álbuns-coletâneas Semente de Brasília. No fim do ano passado concluiu a gravação do primeiro CD, a ser lançado em julho, reunindo 15 faixas. ;Nesse disco há sambas de Jorge Aragão (Doce amizade), Arlindo Cruz e Sombrinha (É sempre assim) e Gerônimo (D;Oxum).;
Contente com o momento que vive o samba na capital, Marcelo Sena deixa claro sua admiração pelas sambistas Dhi Ribeiro, Renata Jambeiro, Kris Maciel, Kiki e pelos grupos Samba Choro, Adora Roda, Bom Partido. ;Os jovens, inclusive os universitários, estão descobrindo o samba e marcam presença nas rodas que ocorrem em vários lugares. Deixando a modéstia de lado, me sinto, de alguma forma, responsável por isso, como líder do Coisa Nossa.;
COISA NOSSA
Roda de samba hoje, às 22h30, no bar do Calaf (térreo do Edifício Empire Center/ Setor Bancário Sul), com ingresso até as 22h R$ 10 (mulher) e R$ 15 (homem) e depois desse horário R$ 15 (mulher) e R$ 20 (homem); e domingo, às 20h, no Núcleo Bandeirante, com ingresso a R$ 20 (homem) e R$ 15 (mulher).