Diversão e Arte

Grupos brasilienses misturam as linguagens da lona, do teatro, da música e da dança

postado em 28/02/2010 10:41
Não é de hoje que as diversas linguagens artísticas se misturam. Mais antiga que as pirâmides do Egito, a prática se encaixou, se encaixa e sempre se encaixará perfeitamente à linguagem do circo. Em Brasília, são muitos os exemplos de grupos circenses pioneiros como Udi Grudi, Celeiro das Antas e Esquadrão da Vida, que já iniciaram movimento rumo à interação entre diferentes artes. Cada vez mais, novas companhias surgidas recentemente na cidade têm ignorado fronteiras entre linguagens e misturado, sem cautela, teatro, música e dança contemporânea aos espetáculos. Muitos dispensam o colorido da lona do circo e formatam espetáculos especialmente para palcos italianos convencionais. Os artistas circences de agora se definem como atores/acrobatas/bailarinos/músicos. "Para dividir as habilidades de cada um de nós seria necessário desenhar uma tabela no Excel", brincam os numerosos integrantes da Trupe dos Argonautas. Formado durante um curso de circo do Colégio Setor Leste coordenado por Ronaldo Alves, em 2005. Ana Sofia, Lívia Bennet, Karina Ninow, Cyntia Carla, Sulian Princivalli, Adriano Roza, Emanuel Santana, Raphael Balduzzi e Pedro Martins e os Diogos: Mafra, Cerrado e Vanelli (músicos) já encararam a montagem de espetáculos como De paetês, formatado para salas de teatro e O baile, apresentado em lugares alternativos. Os cinco anos de existência, porém, têm trazido muitas cobranças. "Acho que estamos alcançando o âmago da nossa questão de misturas de linguagens e estéticas", acredita a integrante Sulian Princivalli. Atualmente, o grupo se prepara para mais um desafio: a comunicação com o público infantil por meio da encenação da peça Zumm%u2026, prevista para estrear em junho. Fios de Éter:adaptação de roldanas para facilitar os movimentosNo caso do grupo Nós no Bambu é adicionado um outro elemento diferencial. Iniciada há 10 anos pelo professor Marcelo Rio Branco como atividade física no alto de bambus, a Integral Bambu evoluiu como linguagem artística, aliada à educação física. Até elementos de yoga são usados sem parcimônia. A montagem Uirapuru bambu, feita em 2008, no gramado do Memorial dos Povos Indígenas, teve projeto ambicioso formado por uma arena de 9m de diâmetros e oito mastros de bambu com 3m de altura cada, onde os oito intérpretes dirigidos pelo ator William Lopes expressavam mensagem de interação entre homem e natureza. Atualmente, o grupo trabalha na montagem do espetáculo Bambulelê, sobre as identidades brasileira e brasiliense. "Nós usamos uma dramaturgia carregada de simbolismo", explica a acrobata Poema Mühlenberg. Formada em artes cênicas pela Universidade de Brasília (UnB), a acrobata Érika Mesquita se emaranhou no mundo do circo após o casamento com o acrobata peruano Atawallpa Coello. Juntos há 10 anos, eles formam a trupe Circo Teatro Rebote. "Nós trabalhamos com a comicidade. Nosso grande termômetro é o riso", define a atriz da companhia especializada em espetáculos de rua como as montagens Columpio (feito pela interação de acrobacias aéreas com objetos do cotidiano) e Tome a sua poltrona (inspirado nos personagens retirados da enciclopédia da palhaçaria clássica, Excêntricos Musicais). "Temos influência até do cinema mudo. No Tome sua poltrona, a trilha sonora feita com jazz e os figurinos dão um ar retrô a encenação", explica Collupio. Para intensificar a proposta do grupo foi preciso construir um imenso trapézio de 7m, passível de ser transportado e instalado em qualquer lugar. "O trapézio possibilita que façamos apresentações em comunidades carentes de espaços culturais. Tivemos respostas excelentes em relação a isso no Distrito Federal e na Bahia", constata Érika. Nós no Bambu: evolução da linguagem exigiu um trabalho intenso de educação física para dominar o corpoAs invenções de aparelhos transformam os artistas em engenheiros, projetistas, serralheiros ou marceneiros. Daniel Lacourt e Dani Oliveira, da companhia Fios de Éter, em cartaz com a montagem Tecendo fios d%u2019éter, na Sala Plínio Marcos, da Funarte, somente até este domingo (28/2), sabem bem o que é isso. Para que os movimentos do casal nos aparelhos lira, tecido e corda pudessem ser concretizados foram necessárias adaptações em sistemas de roldanas e o uso de contrapesos feitos com galões contendo até 200 litros de água. Coreografado e dirigido pelo bailarino da companhia Basirah, Edi Oliveira, a montagem narra as etapas do relacionamento amoroso entre um homem e uma mulher, desde a cumplicidade ao conflito. A dupla vencedora de uma bolsa de incentivo à pesquisa das artes circences da Fundação Nacional de Artes (Funarte) bolou um engenhoso aparelho musical acionado por acrobacias aéreas. Para que o aparelho (batizado como Badalo por causa da reprodução do som de sinos) fosse projetado, os acrobatas tiveram de pesquisar o funcionamento de pianos e desmontar relógios. São necessárias oito horas de trabalho para que a aparelhagem formada por um sistema de seis cordas paralelas seja montada pelo próprio casal. O resultado ainda não foi levado aos palcos. Unanimidade entre os grupos, existe apenas a certeza de que o intercâmbio entre escolas de circo nacionais e estrangeiras proporcionadas por eventos como Festclown, Cena Contemporânea e Mostra Internacional de Teatro (MIT) em Brasília tem ajudado a ampliar horizontes. "Acho que isso é importante para qualquer artista, não só so de circo", acredita Pedro Martins, dos Argonautas. A experiência em ensino de escolas de circo também ajuda. Com passagens pela Escola Nacional do Circo, no Rio de Janeiro, mas também pelas escolas Arc- En-Cirque, em Chambéry , na França, e École Superieure des Arts du Cirque, em Bruxelas, na Bélgica, o acrobata Daniel Lacourt acredita que a mistura deveria ser incentivada já nos picadeiros das escolas. "No Brasil, existem problemas pedagógicos muito sérios. A forma como as pessoas enxergam o circo é muito ligada a números, espetáculos de variedades. Muitas escolas no exterior já excluíram esse método porque acaba limitando as possibilidades de pesquisas de linguagem na área", compara Lacourt. TECENDO FIOS D'ÉTER Até este domingo (28/2), às 20h, no Teatro Plínio Marcos do Complexo Cultural Funarte (Setor de Divulgação Cultural, Lt. 2, ao lado da Torre de TV). Com Daniel Lacourt e Dani Oliveira. Direção: Edi Oliveira. Ingressos: R$ 10 e R$ 5 (estudantes e maiores de 65 anos). Informações: 8575-7741. Não recomendado para menores de 12 anos.

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