<p class="texto">Sambista de primeira, bem-humorado e &Atilde;&iexcl;cido nas cr&Atilde;&shy;ticas. &Atilde;&permil; assim Dudu Nobre. Nesta entrevista por telefone ela reclama da falta de criatividade dos sambas-enredos de hoje em dia, elogia o carnaval de Recife e diz que sambista bom n&Atilde;&pound;o precisa morar em favela para fazer sucesso. Gosta de falar da classe de Zeca Pagodinho diante de um copo de cerveja: "Ele bebe de golinho em golinho, s&Atilde;&sup3; na manha". Sem preconceito musical, estava ouvido O Rappa enquanto conversava com o <strong>Correio</strong>. Tamb&Atilde;&copy;m gostou do sucesso de Beth Carvalho e Martinho da Vila no carnaval 2010. Com voc&Atilde;&ordf;s, a alegria de Dudu: <strong>Como Noel Rosa, voc&Atilde;&ordf; n&Atilde;&pound;o veio do morro, n&Atilde;&pound;o conviveu com as mazelas enfrentadas pelos jovens daquela regi&Atilde;&pound;o do Rio. Como voc&Atilde;&ordf; se adaptou?</strong> Na verdade, eu cresci dentro do samba. A minha m&Atilde;&pound;e tinha casas de samba, e a&Atilde;&shy; fui crescendo vendo o pessoal do Fundo de Quintal cantando nos sambas da minha m&Atilde;&pound;e, Zeca, Almir Guineto, Beth Carvalho. E a&Atilde;&shy; fui me envolvendo, com 4 pra 5 anos, comecei a tocar cavaquinho. Depois, com 10 anos, comecei a escrever sambas-enredos para as escolas mirins do Rio de Janeiro. E comecei a atuar como int&Atilde;&copy;rprete desses sambas. Sempre estive nesse meio e quando vi, meu envolvimento era total. Com 13 anos, viajei a primeira vez para a Europa pra fazer show, com 16, j&Atilde;&iexcl; entrei na banda do Almir Guineto, depois fui tocar com o Dicr&Atilde;&sup3;. Aos 19 entrei na banda do Zeca Pagodinho, aos 20 comecei a ser gravado como compositor de samba. Depois com 26, eu lancei o primeiro CD e estamos a&Atilde;&shy; nessa trajet&Atilde;&sup3;ria at&Atilde;&copy; hoje. O pessoal fala muito dessa coisa do samba e do morro. Mas eu n&Atilde;&pound;o vejo muito dessa forma, n&Atilde;&pound;o. Porque hoje voc&Atilde;&ordf; conta nos dedos quem veio eventualmente trajet&Atilde;&sup3;ria. <strong>Voc&Atilde;&ordf; acha que ainda existe entre os jovens aquele preconceito de que samba &Atilde;&copy; m&Atilde;&ordm;sica da velha guarda? Ou, muito pelo contr&Atilde;&iexcl;rio, os jovens est&Atilde;&pound;o descobrindo o samba?</strong> <img src="https://imgsapp2.correiobraziliense.com.br/app/noticia_127983242361/2010/02/28/176416/20100228103716369811i.jpg" alt="" />J&Atilde;&iexcl; h&Atilde;&iexcl; muito tempo isso acontece. Com aquele boom do pagode na d&Atilde;&copy;cada de 1990, o p&Atilde;&ordm;blico de samba se renovou. A garotada come&Atilde;&sect;ou a se interessar, a curtir o chamado "pagode rom&Atilde;&cent;ntico". Depois que a garotada come&Atilde;&sect;ou a curtir isso, ficou aquela coisa da cr&Atilde;&shy;tica de bater bastante, criticar o pagode rom&Atilde;&cent;ntico. Ent&Atilde;&pound;o, a garotada come&Atilde;&sect;ou a se interessar pelo chamado "samba de qualidade". E na &Atilde;&copy;poca, eu lembro que eu tocava com o Zeca Pagodinho, era impressionante. Tinha muita molecada nos shows. A&Atilde;&shy; foi renovando o p&Atilde;&ordm;blico do Fundo de Quintal, da Beth Carvalho. <strong>O samba resiste ou ele j&Atilde;&iexcl; foi engolido pela ind&Atilde;&ordm;stria cultural e virou o samba-maur&Atilde;&shy;cio?</strong> N&Atilde;&pound;o vejo dessa forma, n&Atilde;&pound;o. Cada um vai expressando as suas refer&Atilde;&ordf;ncias por meio do samba. Tem um pessoal que &Atilde;&copy; mais ligado ao pessoal da velha guarda, &Atilde;&copy; o pessoal que est&Atilde;&iexcl; fechado mais ou menos ali na Lapa. &Atilde;&permil; a mesma coisa do pessoal de S&Atilde;&pound;o Mateus, em S&Atilde;&pound;o Paulo. Tem uma galera mais ligada ao rock, MPB, mas tamb&Atilde;&copy;m toca samba. Eu acho que tem espa&Atilde;&sect;o pra todo mundo e dentro do pr&Atilde;&sup3;prio samba. <strong>E que tipo de m&Atilde;&ordm;sica voc&Atilde;&ordf; gosta de ouvir, al&Atilde;&copy;m, obviamente, de samba?</strong> Olha, eu escuto de tudo. Agora mesmo estou no carro ouvindo O Rappa. Escuto de tudo. Tem que ser assim. <strong>O sambista tem o estere&Atilde;&sup3;tipo de ser alienado das quest&Atilde;&micro;es pol&Atilde;&shy;ticas do pa&Atilde;&shy;s.</strong> <strong>Voc&Atilde;&ordf; faz parte desse time?</strong> Eu procuro sempre me posicionar. A gente tem exemplos de grandes sambistas envolvidos com pol&Atilde;&shy;tica. Voc&Atilde;&ordf; v&Atilde;&ordf; a Beth Carvalho e o Martinho da Vila, que t&Atilde;&ordf;m uma participa&Atilde;&sect;&Atilde;&pound;o. Eu tamb&Atilde;&copy;m tenho o interesse, logicamente. At&Atilde;&copy; vejo a&Atilde;&shy; uma galera que quer se candidatar. Mas eu n&Atilde;&pound;o tenho essa inten&Atilde;&sect;&Atilde;&pound;o <strong>Confira v&Atilde;&shy;deo da m&Atilde;&ordm;sica <em>Que mundo &Atilde;&copy; esse</em></strong> <object width="435" height="346"><param name="movie" value="http://www.dzai.com.br/static/ps10.swf"></param><param name="allowFullScreen" value="true"></param><param name="allowscriptaccess" value="always"></param><param name="flashvars" value="video_id=137b4b41ba00fd54ad89dc8a99ae7b8b=http://www.dzai.com.br/static/user/33/33624/bb9d84249a6f8b69d65b953b54410cdd_preview.jpg=false=true"><embed src="http://www.dzai.com.br/static/ps10.swf" type="application/x-shockwave-flash" allowscriptaccess="always" allowfullscreen="true" width="435" height="346" flashvars="video_id=137b4b41ba00fd54ad89dc8a99ae7b8b=http://www.dzai.com.br/static/user/33/33624/bb9d84249a6f8b69d65b953b54410cdd_preview.jpg=false=true"></embed></param></object> <strong>Os blocos vieram com tudo neste carnaval do Rio. &Atilde;&permil; a festa indo para a rua.</strong> Os desfiles das escolas de samba v&Atilde;&pound;o ficar s&Atilde;&sup3; para os turistas? Este ano, eu n&Atilde;&pound;o participei muito do carnaval do Rio. Cada carnaval &Atilde;&copy; um tipo. O da Bahia, por exemplo, &Atilde;&copy; um carnaval que &Atilde;&copy; uma coisa supostamente democr&Atilde;&iexcl;tica. Ah, o pessoal fala: &Atilde;&copy; carnaval de rua. Mas n&Atilde;&pound;o &Atilde;&copy; bem assim. &Atilde;&permil; o seguinte: n&Atilde;&pound;o d&Atilde;&iexcl; pra voc&Atilde;&ordf; ir na pipoca. Voc&Atilde;&ordf; fica ali do lado de fora, ali no Campo Grande ou mesmo no Barra-Ondina, &Atilde;&copy; porrada o tempo todo. J&Atilde;&iexcl; o carnaval do Rio, fica centralizado na Marqu&Atilde;&ordf;s de Sapuca&Atilde;&shy;, por&Atilde;&copy;m tem os bailes, os blocos, os neg&Atilde;&sup3;cios por fora. E, sinceramente, n&Atilde;&pound;o tem a penetra&Atilde;&sect;&Atilde;&pound;o que tem em Salvador, mas est&Atilde;&iexcl; crescendo muito. E este ano, eu fiquei impressionado com o carnaval de Recife. Foi a primeira vez que fui e realmente fiquei admirado. Recife, o carnaval &Atilde;&copy; um absurdo. Porque eles d&Atilde;&pound;o espa&Atilde;&sect;o para a cultura de uma maneira geral. Seja voc&Atilde;&ordf; cantor de samba, forr&Atilde;&sup3;, toca tudo. Tudo mesmo. Achei fant&Atilde;&iexcl;stico! <strong>Voc&Atilde;&ordf; que &Atilde;&copy; muito ligado &Atilde;&nbsp;s escolas de samba, o que achou dos sambas-enredos deste ano?</strong> Alguns foram muito elogiados, como o da Vila Isabel, feito pelo Martinho da Vila, e o da Imperatriz tamb&Atilde;&copy;m. Todo ano sempre tem algum samba que &Atilde;&copy; um bom samba. Mas samba-enredo marcante n&Atilde;&pound;o tem mais n&Atilde;&pound;o. Acontece o seguinte. O enredo &Atilde;&copy; uma parte important&Atilde;&shy;ssima das escolas de samba. E os enredos ultimamente t&Atilde;&ordf;m apresentado patroc&Atilde;&shy;nios. E essas coisas atrapalham muito. Voc&Atilde;&ordf; tem que fazer um samba que se encaixa com aquele enredo. Samba-enredo virou uma ind&Atilde;&ordm;stria, um neg&Atilde;&sup3;cio. A&Atilde;&shy; voc&Atilde;&ordf; tem que fazer um refr&Atilde;&pound;oz&Atilde;&pound;o, uma segundinha e uma primeira e acabou. A&Atilde;&shy; &Atilde;&copy; muito complicado. Muitas vezes, o samba que ganha n&Atilde;&pound;o &Atilde;&copy; o melhor. Porque para voc&Atilde;&ordf; participar de uma disputa de samba-enredo em uma escola top, voc&Atilde;&ordf; gasta pelo menos entre R$ 90 mil a R$ 120 mil. Por isso, voc&Atilde;&ordf; v&Atilde;&ordf; cinco autores fazendo um mesmo samba-enredo. Um banca o &Atilde;&acute;nibus, o outro banca a entrada, o outro banca a cerveja da bateria. Ent&Atilde;&pound;o, geralmente quando voc&Atilde;&ordf; v&Atilde;&ordf; um samba com cinco, dois fazem e o resto fica bancando o dinheiro. <strong>E o chamado samba de escrit&Atilde;&sup3;rio?</strong> O escrit&Atilde;&sup3;rio foi um grupo de autores em um ano que praticamente monopolizou o grupo especial. Eles ganharam em nove escolas. A&Atilde;&shy; botaram o nome do grupinho deles de escrit&Atilde;&sup3;rio. Eles meio que venderam a participa&Atilde;&sect;&Atilde;&pound;o deles. Pegaram a participa&Atilde;&sect;&Atilde;&pound;o de 50% e os outros 50% foram rateados entre os que entraram no samba. Quer dizer: tem tudo isso no carnaval hoje em dia, e que n&Atilde;&pound;o ajuda a fazer o samba-enredo como era antigamente. Eu sinceramente acho o seguinte: foi muito bacana ver o Martinho ter ganhado na Vila Isabel, o samba dele &Atilde;&copy; fant&Atilde;&iexcl;stico. O samba da Imperatriz &Atilde;&copy; fant&Atilde;&iexcl;stico tamb&Atilde;&copy;m. Mas al&Atilde;&copy;m desses dois, n&Atilde;&pound;o tem mais nada que a gente possa falar que &Atilde;&copy; bacana desses sambas-enredos de 2010. Se voc&Atilde;&ordf; perguntar pra algu&Atilde;&copy;m qual o refr&Atilde;&pound;o do samba-enredo do Salgueiro deste ano, ningu&Atilde;&copy;m se lembra. Eu mesmo fui ao desfile das campe&Atilde;&pound;s, e n&Atilde;&pound;o me lembro de nada. <strong>O que voc&Atilde;&ordf; achou da vit&Atilde;&sup3;ria da Unidos da Tijuca, que muita gente considera que estava merecendo um t&Atilde;&shy;tulo h&Atilde;&iexcl; muito tempo?</strong> Realmente foi fant&Atilde;&iexcl;stico o desfile. J&Atilde;&iexcl; h&Atilde;&iexcl; muito tempo estava merecendo mesmo. Achei muito bacana. &Atilde;&permil; a mudan&Atilde;&sect;a pl&Atilde;&iexcl;stica do desfile. Bem interessante. Porque para quem n&Atilde;&pound;o acompanha o carnaval, a pessoa n&Atilde;&pound;o consegue ver as mudan&Atilde;&sect;as que acontecem. Cada carnavalesco tem um estilo. O lance &Atilde;&copy; que o estilo do Paulo Barros &Atilde;&copy; um estilo que voc&Atilde;&ordf; j&Atilde;&iexcl; olha, at&Atilde;&copy; quem n&Atilde;&pound;o entende do assunto, e fala: olha, esse neg&Atilde;&sup3;cio &Atilde;&copy; diferente. <strong>Ou&Atilde;&sect;a trecho da entrevista com Dudu Nobre</strong><strong>O Zeca Pagodinho disse certa vez que voc&Atilde;&ordf; &Atilde;&copy; o Zeca que deu certo porque n&Atilde;&pound;o bebe. O que voc&Atilde;&ordf; acha disso?</strong> (Risos) Eu n&Atilde;&pound;o bebia na &Atilde;&copy;poca em que ele declarou isso, mas agora j&Atilde;&iexcl; chapo um pouquinho. Olha, vou te contar uma coisa: isso do Zeca ser um bebedor n&Atilde;&pound;o &Atilde;&copy; bem assim n&Atilde;&pound;o (risos). O Zeca &Atilde;&copy; o tipo do cara que bebe bem. Mas ele tem uma maneira meio peculiar de beber cerveja, ele meio que engana os outros (risos) Ele vai, bebe um golinho e deixa o copo ali. O copo esquentou, ele joga a cerveja fora e bota mais um tanto. Agora, o cara que vai acompanhar ele sai carregado. O cara vai naquela de querer beber, bebe o copo inteiro. E o Zeca s&Atilde;&sup3; ali, na manha. Na hora de ir embora, quem disse que o carinha consegue levantar? Eu presenciei isso diversas vezes. Quem bebia legal mesmo era o Almir Guineto. <strong>Todo o sambista tem que ser assim mesmo, bo&Atilde;&ordf;mio? Ou isso &Atilde;&copy; mais um estere&Atilde;&sup3;tipo?</strong> Vou te falar uma coisa de cora&Atilde;&sect;&Atilde;&pound;o. Os tempos mudam, sabe. As pessoas t&Atilde;&ordf;m muito essa vis&Atilde;&pound;o de que o sambista &Atilde;&copy; bo&Atilde;&ordf;mio, &Atilde;&copy; da favela. E hoje em dia, essa coisa est&Atilde;&iexcl; meio que indo por &Atilde;&iexcl;gua abaixo. Eu lembro bem, no come&Atilde;&sect;o da minha carreira, como fui criticado. Porque acaba que eu tenho uma forma&Atilde;&sect;&Atilde;&pound;o diferente. Meu pai e minha m&Atilde;&pound;e moraram na Europa. Foram morar l&Atilde;&iexcl; n&Atilde;&pound;o porque era bonito, mas porque perderam tudo no Brasil e foram morar em outro lugar. Tiveram essa necessidade. Eu acabei morando um tempo na Europa. E isso, querendo ou n&Atilde;&pound;o, influencia no nosso comportamento. E ent&Atilde;&pound;o comecei a ganhar o meu dinheiro. E u sempre gostei de ter um bom carro. Vim morar na Barra (Barra da Tijuca, um dos bairros mais nobres do Rio de Janeiro), e todo mundo me criticou por isso. Uma vez ,um rep&Atilde;&sup3;rter me perguntou: 'Voc&Atilde;&ordf; acha que a favela fez falta pra voc&Atilde;&ordf;?' Eu respondi: 'Pra mim, sinceramente, n&Atilde;&pound;o'. Tem um monte de sambistas por a&Atilde;&shy;, como o Diogo Nogueira, que est&Atilde;&iexcl; despontando, e ele n&Atilde;&pound;o veio da favela.</p>