Sérgio Rodrigo Reis
postado em 23/02/2010 11:44
A relação da televisão com a literatura é de amor e ódio. Na criação de novelas e minisséries, não é raro os diretores se inspirarem em clássicos para compor personagens e narrativas, mas nem sempre o resultado é dos melhores. Uma exceção é a adaptação de Grande sertão: veredas, de João Guimarães Rosa. Realizada em 1985 pelo diretor Walter Avancini, sob supervisão de Daniel Filho e protagonizada por Tony Ramos e Bruna Lombardi, a produção representou, por diversos motivos, um marco na TV brasileira. Quem não acompanhou este acontecimento tem agora a chance com o lançamento de um compacto de 14 horas em formato de DVD, que acaba de chegar às lojas.
A linguagem, as imagens com uma luz intensa típica do sertão, o tom realista e a narrativa arrastada são as principais características da produção, com as aventuras de Riobaldo (Tony Ramos), um ex-jagunço que relembra as disputas, vinganças, amores e mortes vividas pelos sertões. Ao contar as histórias, vem à tona a forte ligação com Diadorim (Bruna Lombardi), que integrava seu bando, sem que ninguém soubesse que se tratava de uma mulher. Durante muito tempo, Riobaldo travou uma batalha interna, provocada pelo sentimento de um amor intenso e que considerava impossível. A relação pura de amizade de Riobaldo e Diadorim em vários aspectos destoava da realidade dura do sertão.
O compacto da minissérie começa com Avancini, também responsável pelo roteiro, justificando as motivações de um projeto tão complexo. Em seguida, o sertão árido invade a tela numa cena marcante de um jagunço possuído pelo demônio. Com o vilarejo em pânico, um padre começa a exorcizar o capeta. Esta é a porta de entrada para o universo riquíssimo de metáforas, casos e sabedoria do homem simples do campo. Algo que Guimarães retratou na literatura e que a minissérie conseguiu sintetizar bem.
Originalmente a minissérie foi ao ar em 25 capítulos, em novembro de 1985. Narradas pelo ator Mário Lago, as cenas mostram um dos momentos áureos da TV brasileira. As gravações duraram 90 dias, com cerca de 2 mil homens se embrenhando por regiões inóspitas de Minas. A equipe técnica, com 300 pessoas, montou a estrutura em Buritizeiro, num lugarejo chamado Paredão de Minas. As locações deram mais veracidade à produção, pioneira em diversos aspectos.