;Nos anos 1980, não havia uma formação precisa, a gente dependia de oficinas que eram temporárias e esporádicas. A distância entre o que fazíamos tinha um abismo em relação ao que um grande estúdio estrangeiro conseguia.; A recordação do diretor Elvis Kleber, aos 46 anos, esboça um paradigma ultrapassado, diante das atuais condições de trabalho para os realizadores locais que se dedicam à prática da animação, seja no campo estritamente artístico ou no mercado da publicidade. Ex-estudante de computação gráfica e multimídia, em Berlim, entre 1993 e 1995 ; ;quando despontaram programas de pós-produção e as ferramentas que nos aproximaram muito do atual patamar de qualidade; ;, Kleber lembra, com certo esforço, da época em que, ;com o nível experimental do filme super-8;, investia numa produção artesanal apesar de barreiras como a espera, por 20 dias, da revelação de rolos de filme no Panamá.
Na atual e avançada realidade, da exploração aprofundada dos programas de 3D, como o programa Maya, Elvis Kleber (que, ao lado do colega Ítalo Cajueiro, virou referência local, desde a repercussão de O lobisomem e o coronel) se prepara para nova incursão cinematográfica (leia mais na pág. 3), mas, desde já, a certeza é a de sempre: ;O envolvimento dos parceiros vai ser movido mais pela paixão pelo cinema, do que pelo valor financeiro simbólico, quando comparamos ao do mercado da propaganda;. Entre os macetes para quem pretende se aventurar pelo segmento, o diretor destaca que ;a formação do animador é muito ligada à observação;. ;Em São Paulo, existem cursos que ensinam a ser animador. Em Brasília, os estudos se concentram no domínio dos programas de computador. Para quem busca essa área, existe muito de autodidatismo, isso para que se alcance uma eficiência maior;, analisa.
Animador gráfico e ilustrador, aos 22 anos, o brasiliense Eduardo Chaves, há oito meses formado em comunicação social (pela UnB, com especialização em artes visuais), é um exemplo de quem foi atrás de formação que ;dificilmente teria em Brasília;. Em São Paulo, atualmente, ele se dedica ao curso técnico profissionalizante da Art Academia, no qual retocará, em 18 meses, os conhecimentos práticos na almejada carreira em cinema de animação. Apenas com a finalização das obras no computador, Chaves investe na charmosa contramão da tecnologia, ao apostar no desenho 2D, trabalhado na mesa de luz, ;com animação saída do papel e do grafite;.
[SAIBAMAIS]Com roteiros de autoria própria debaixo do braço, ele, que trabalhou com videografia na Empresa Brasil de Comunicação (a antiga Radiobrás), abandonou ; ;com poucas possibilidades de volta; ; também um mercado com oportunidades na publicidade, ;em termos financeiros, positivas;, pelo interesse numa carreira mais artística. Na bagagem, levou boas experiências, como a autoria das aberturas dos créditos dos curtas As fugitivas (de Otavio Chamorro) e A goiabeira (filme carioca em que ele explorou traços da literatura de cordel). Dos projetos universitários em que participou, Feijão com arroz ; com interferências visuais assinadas por ele ; surtiu especial apreço: ;Num tratamento com aquarela, a ideia foi chegar na estética do universo onírico infantil, com desenho mais simples;.
Ouça a entrevista com o cineasta Ítalo Cajueiro
A escola
Numa história de sucesso, que contou até com temporadas brasilienses da porção docente do paulista Alê Camargo, a Ozi ; Escola de Audiovisual de Brasília, há seis anos atuando na capital, tem dado bom retorno para os alunos. Professor de animação e um dos proprietários do curso, Marco Aurélio Lellis salienta a feitura do primeiro curta-metragem dos alunos, como resultado coletivo, diante do investimento individual de R$ 9 mil no curso. ;Além de explorar as ferramentas de softwares, há a oportunidade do contato com a primeira produção. É uma experiência que vai para o portfólio ;, um momento em que alunos descobrem a postura profissional que devem ter com o diretor;, comenta Lellis.
No curso de sete meses, metade do tempo é dispensado para a criação do roteiro e do storyboard (esboço gráfico) do curta-metragem, criado com suporte digital. Sem custo, cinco das fitas realizadas já obtiveram prestígio com projeção inclusive internacional. Os produtos superam a esfera escolar, como aponta Lellis. Além da conquista de prêmio como melhor animação em curso brasileiro no AnimaMundi (Festival Internacional de Animação do Brasil), com Calango, o corpo de alunos da Ozi, por exemplo, se empenhou em A ilha, tido como o melhor curta-metragem do Brazilian Film Festival of Vancouver (Canadá) e ainda como o melhor curta digital do Cine PE (Pernambuco).
Há quatro anos mergulhado no manejo do Maya ; ;você nunca domina o programa por inteiro;, esclarece Marco Lellis ;, o professor, que toma parte da sexta empreitada de 30 alunos (a comédia Glu, a ser finalizada nos próximos dias), estimula a busca do caminho das pedras, a partir de certa autonomia: ;É interessante que a pessoa se dedique a projetos de ordem pessoal, até para descobrir o potencial dela e melhor se adaptar ao mercado de trabalho. Assim, por exemplo, saberá o valor que deve cobrar por determinado trabalho.;
Confira a segundaparte da animação O Caipira e o Chupa-cabras, de Joelson Miranda