Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Leia versos dos cinco poetas presentes no livro Destino: poesia

ANA CRISTINA CESAR tantos poemas que perdi tantos que ouvi, de graça, pelo telefone -- taí, eu fiz tudo pra você gostar, fui mulher vulgar, meia-bruxa, meia-fera, risinho modernista arrahado na garganta, malandra, bicha, bem viada, vândala, talvez maquiavélica, e um dia emburrei-me, valei-me de mesuras (era uma estratégia), fiz comércio, avara, embora um pouco burra, porque inteligente me punha logo rubra, ou ao contrário, cara pálida que desconhece o próprio cor-de-rosa, e tantas fiz, talvez querendo a glória, a outra cena à luz de spots, talvez apenas teu carinho, mas tantas, tantas fiz... %u3000 CACASO Postal Nenhum mar. Um domingo. Um tridente. Dois cavalos. Meu coração segue cego e feliz como carta extraviada %u3000 PAULO LEMINSKI das coisas que eu fiz a metro todos saberão quilômetos são aquelas em centímetros sentimentos mínimos ímpetos infinitos não? TORQUATO NETO eu sou como eu sou pronome pessoal intransferível do homem que iniciei na medida do impossível eu sou como eu sou agora sem grandes segredos dantes sem novos secretos dentes nesta hora eu sou como eu sou presente desferrolhado indecente feito um pedaço de mim eu sou como eu sou vidente e vivo tranquilamente todas as horas do fim %u3000 WALY SALOMÃO quem fala que sou esquisito hermético é porque não dou sopa estou sempre elétrico nada que se aproxima nada me é estranho fulano sicrano beltrano seja pedra seja planta seja bicho seja humano quando quero saber o que ocorre à minha volta ligo a tomada abro a janela escancaro a porta experimento invento tudo nunca jamais me iludo quero crer no que vem por aí beco escuro me iludo passado presente futuro urro arre i urro viro balanço reviro na palma da mão o dado futuro presente passado tudo sentir total é chave de ouro do meu jogo é fósforo que acende o fogo de minha mais alta razão e na sequência de diferentes naipes quem fala de mim tem paixão