Matérias aprofundadas nunca foram o forte do telejornalismo. Essa é uma das queixas mais antigas dos próprios jornalistas e de boa parte do público, em busca de uma análise mais abrangente e opinativa. O pouco de crítica que há na tevê fica quase sempre com os jornais da madrugada. O Video news, da Band, leva esse conceito ao limite, com muita notícia, algum bom humor e zero de reflexão.
Em Video news, quaisquer exames da situação política e econômica, do esporte e de movimentos artísticos foram banidos para dar mais tempo a um picadinho de informações a respeito de assuntos aleatórios. Ele segue a linha do Leitura dinâmica, que trabalha há mais tempo na mesma onda de notícias saltitantes. O nome do jornalístico é tirado de um polêmico conjunto de métodos criado para acelerar a velocidade da leitura. O humorista Woody Allen ironizava essa técnica e dizia que tinha feito um curso de leitura rápida. ;Li Guerra e paz em 20 minutos. Fala sobre a Rússia;, arrematava.
Na verdade, Leitura dinâmica também foi o nome de uma coluna da extinta revista Manchete, com notas sobre assuntos variados capazes de serem digeridas durante a espera em um consultório médico. O jornalístico homônimo da Rede TV! segue lógica idêntica.
A despeito do modelo dos dois programas ter origens mais antigas que a própria televisão, ele foi desenvolvido à imagem e semelhança das páginas de notícias da internet. Em sua maioria, esses jornais fazem rápidas trocas de chamadas sobre assuntos descontextualizados das situações e dos ambientes onde ocorreram. O cardápio de notícias é de um ecletismo de shopping center: tem de tudo, com notícias sobre os maiores salários do cinema, vida pessoal de artistas, pontes feitas de Lego, desastres naturais, crimes, equipamentos eletrônicos, cura do câncer, lançamentos de discos e cobertura de shows e de outros eventos.
Muito das imagens dos programas é pescado na própria internet, testemunha incerta e implacável do que acontece mundo afora. No caso do Leitura dinâmica, até o cenário é de inspiração digital, em um ambiente virtual.
No fim das contas, o que se faz não é um jornalismo de notícias, mas de sensações, dentro de um universo sensorial no qual também habitam os games e os filmes de ação. De qualquer forma, essa ;web reportagem; também é uma opção ao jornalismo ;terno e gravata; que ainda domina a tevê. Certas coisas demoram a mudar.