postado em 11/02/2010 08:30
Chacrinha era quem comandava a festa. Mas é difícil imaginar a Buzina, a Discoteca ou o Cassino sem as assistentes de palco do Velho Guerreiro. De maiô de lantejoulas e botas no alto da coxa, dançando e rodando o dedinho ao som de "roda, roda e avisa", elas fizeram história na tevê brasileira. Gracinha Copacabana, Sarita Catatu, Estrela Dalva, Índia Potira, Daisy Cristal, Lia Hollywood, Betty Boné, Fátima Boa Viagem, Vera Furacão, Índia Amazonense, Rita Cadillac%u2026 Foram muitas. Cerca de 200 se revezaram no palco enquanto Chacrinha esteve no ar. "Quando pensamos em chacrete, imaginamos um monte de meninas bonitas e gostosas. Mas hoje elas são mulheres maduras, cada uma com sua história", lembra o diretor Nelson Hoineff.
O cineasta se deu conta disso enquanto filmava Alô alô Terezinha, seu documentário sobre o autor da célebre frase "quem não se comunica se trumbica". "Todas as ex-chacretes que entrevistamos tinham histórias interessantes para contar e cada uma só aparecia no máximo um minuto no filme. Foi então que tive a ideia de fazer uma série", conta o diretor. Assim surgiu As chacretes, série que estreia nesta quinta no Canal Brasil e que, ao contrário do que se pode pensar, não é feita de sobras do longa, como ressalta Hoineff.
O programa, que começa com um episódio dedicado à Índia Potira, é fruto de exaustivo trabalho da jornalista e produtora Selma Regina. Foi ela quem, a partir da ideia do diretor, acompanhou o dia a dia de 13 das mais conhecidas ex-chacretes, revelando histórias não só dos bastidores dos tempos de glória, mas sobretudo da vida pessoal de cada uma longe do vídeo. "São histórias muito boas. Algumas de solidão, outras tragicômicas(1). Essas mulheres vivem vidas bastante diferentes hoje em dia. A Betty Boné, por exemplo, é pastora evangélica e vive muito bem com o marido, também pastor, em uma big casa em Maricá. Já Índia Potira é faxineira no Banco Itaú", conta Hoineff.
A história de Índia Potira(2) - ou melhor, Gloria Maria Aguiar da Silva - é, para o diretor, uma das mais fascinantes. Tanto que foi escolhida para estrear a série. "As chacretes eram todas muito bonitas, mas a Índia era a mais bonita de todas, a mais gostosa. Ela acabou se envolvendo com um traficante e foi presa três vezes. Isso quando ainda estava no auge. Depois reconstruiu a vida trabalhando como faxineira de banco. Esses problemas de vida acabaram gerando nela uma riqueza pessoal muito grande. A Índia é uma das ex-chacretes com quem mais converso", revela o diretor, que acabou se tornando amigo das personagens que retrata. "Elas todas também são amigas entre si", afirma.
Para Nelson Hoineff, um fato chama a atenção: "Nenhuma delas apresenta o menor ressentimento com a vida. Seria normal para quem aos 18 anos teve um corpo lindo e foi objeto de desejo do país inteiro e depois viu passar o tempo. Mas todas são muito de bem com a vida", conta o cineasta. Retratada no segundo episódio da série, Gracinha Copacabana, por exemplo, trabalha em um pet shop e dedica todo seu afeto aos cães, pelos quais vive cercada. Rita Cadillac ainda hoje sobrevive da fama conquistada no palco do Cassino. Betty Boné virou pastora mas não encaretou. Guarda com carinho fotos e lembranças dos tempos em que dançava para o Velho Guerreiro.
Hoineff também diz que outro traço comum entre as ex-chacretes é a afeição por Chacrinha. "Elas o viam como um grande pai e revelam muita saudade do tempo em que trabalharam com ele". Em novembro do ano passado, na pré-estreia de Alô alô Terezinha, em São Paulo, elas foram em peso ao cinema Reserva Cultural, posaram para fotos, cantaram o "roda roda e avisa" para as câmeras%u2026 Por um momento, reviveram os tempos de glória."
1 - Atração fatal
Nelson Hoineff conta que a ex-chacrete Vera Furacão vive há anos uma história tragicômica. Ela se apaixonou por um homem e chegou a namorá-lo, até descobrir que ele era gay. O romance acabou, mas Vera nunca desistiu do seu amor. Chegou a situações extremas, como se mudar para a casa de frente à do ex-namorado, infernizando a vida do rapaz.
2 - Desejo
Em seu depoimento para a série As chacretes, Gloria Maria Aguiar da Silva, a Índia Potira, fala sem pudor sobre o passado e sobre o presente. Ainda conservando aos 62 anos os traços de beleza da juventude, mas sem namorado, confessa inclusive que é adepta do prazer solitário. Índia, como é chamada até hoje, trabalha como faxineira e mora com a filha e genro.
As chacretes
Série de 13 episódios, produzida por Selma Regina e dirigida por Nelson Hoineff. Estreia nesta quinta, às 20h15, no Canal Brasil. Não recomendado para menores de 12 anos.