Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

O mundo fantástico dos irmãos Quay invade a Caixa Cultural em mostra significativa da arte elogiada mundo afora

Numa espécie de submundo imaginário, bonecas de porcelana formam perturbadores seres outsiders e aterrorizantes. Sombrio e surreal, o universo de animação feito pelos irmãos Quay comporta muitos adjetivos. Exibida pela primeira vez no Brasil, a mostra Quay Brothers, que começa hoje e vai até domingo na Caixa Cultural, em três sessões diárias e gratuitas, apresenta um vasto panorama da obra dos gênios da animação mundial. A mostra também abrange um debate no sábado, às 19h, com a curadora Sylvia Hayashi, o jornalista Vitor Ângelo e o escritor Marcelo Rezende. Irmãos gêmeos idênticos, nascidos na Pensilvânia em 1947, Stephen e Timothy encontraram, no Velho Mundo, as bases necessárias para uma arte de difícil execução. Mestres da animação em stop motion (personagens e cenário artesanais), eles constroem tramas bizarras em cenários detalhistas. Obras de arte raras, os filmes exalam um tipo de melancolia inebriante. Alunos do Royal College of Art da Inglaterra, eles receberam influências do artista surrealista tcheco Jan Svankmajer e de cartazistas poloneses. "Os filmes dos irmãos Quay são únicos, não existe nada parecido no cinema mundial. O próprio imaginário do Leste Europeu do século 19 faz com que eles tenham aspecto mais antigo do que são. Você assiste e se pergunta como uma flor dente-de- leão se reconstitui ou um pedaço de fígado parece fresco, tudo a partir da animação tradicional. São movimentos de câmera e coreografias maravilhosas", observa a curadora Sylvia Hayashi. "Andar pelo estúdio e estar fisicamente animando, tocando coisas, movendo a câmera alguns milímetros, trocando o foco, é uma parte extremamente importante do processo de animação. Nós somos artesãos. Nós construímos coisas, trabalhamos com as mãos o tempo todo", resume Timothy sobre o ofício. "Curiosamente, eles são pouco conhecidos no Brasil", analisa Sylvia. Reconhecidos na Europa, eles foram homenageados pelo estilista brasileiro Jum Nakao, que levou para as passarelas do São Paulo Fashion Week de 2003 uma coleção toda inspirada nos Quay. Paralelos entre a arte dos irmãos e a do cineasta Tim Burton são impossíveis de não serem traçados. Ainda que nenhum deles tenha feito isso publicamente. Programe-se Street of crocodiles O clássico de 1986 foi classificado pelo cineasta Terry Gilliam como um dos 10 melhores filmes de animação de todos os tempos. Hoje, às 17h. Domingo, às 18h. The calligrapher Filme curto de apenas 1 minuto produzido para o Chanel Four. Hoje, às 19h. Sexta, às 17h. The cabinet of Jan Svankmajer Influência para os irmãos, o animador e artista surrealista tcheco Jan Svankmajer é homenageado nessa animação em lições. Hoje, às 17h. Domingo, às 18h. The piano turner of earthquakes Um dos poucos longas da dupla, o filme de 2005 é representante dos trabalhos mais recentes dos Quay. Uma superprodução feita com a ajuda do cineasta Terry Gilliam. Sábado, às 17h. In absentia Só o nome do colaborador, o compositor de vanguarda alemão Karlheinz Stockhausen, já vale como chamariz para esta película produzida em 2000 feita em homenagem à anônima E.H., que de um asilo escreveu cartas para o marido. Hoje, às 19h. Sexta, às 17h. *Todas as sessões ocorrem na Caixa Cultural (SBS, Q. 4, Lt. 3/4; 3206-9448). Entrada franca. Não recomendadas para menores de 14 anos.