Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Com dois integrantes de Goiânia e um de Brasília, o Dawnfine mostra que o synthpop nacional não parou nos anos 1990

Quando se fala em eletrônico alternativo, nomes de bandas europeias geralmente são citados por quem se interessa pelo assunto. E a cena brasileira? Será que parou no extinto grupo paulistano Tek Noir, que lançou dois LPs nos anos 1990? Para quem curte o estilo e prefere valorizar o que é feito por aqui, vale dizer que muitas bandas ainda seguem essa linha. Com dois integrantes de Goiânia e um residente em Brasília, o Dawnfine é um bom exemplo. Surgida no fim do século passado, com o intuito de mostrar que o synthpop tupiniquim leva muito a sério o som tirado de teclados e sintetizadores, o conjunto dá as caras no cenário fonográfico com o CD Imperfect thoughts. Lançado em parceria com o selo paulistano Híbrido Records, o álbum surpreende pela naturalidade com que Jeovane Cazer (guitarra, teclados e backing vocals), Jethro Mendonça (programação e teclados) e Marcus Paulo (voz) tratam o tema. Sem soar pop radiofônico e com uma leve sonoridade dark, Imperfect thoughts lembra o que os alemães do De/Vision fazem há mais de 20 anos. Mas há uma busca por uma característica própria, mesmo que isso não seja perceptível logo nas primeiras audições. Canções como Angel, Shelterd (o disco inclui uma versão estendida dessa faixa), This emptiness e Get used to it mostram que o grupo está no caminho certo. Apesar de fazer música eletrônica, a banda não se prende ao estilo quando fala das influências. "Escutamos bandas de rock dos anos 1960 e 1970, como Beatles, Pink Floyd, The Who, Jethro Tull, bandas pós-punk como The Cure, Siouxsie & the Banshees, Echo & The Bunnymen, Joy Division, música brasileira e alguma música clássica, especialmente Beethoven e Debussy", conta Jeovane. Com personalidade, eles encaram o desafio de fazer algo que, para muitos, pode parecer ultrapassado. "O synthpop é uma música futurista, não soa 'antiquado'. O que ouvimos hoje, e que se diz 'moderno', nada mais é do que uma releitura mais direcionada às pistas de dança", resume. Quanto ao fato de cantarem em inglês, Jeovane tem uma sábia desculpa: "Já dizia Caetano: 'Só é possível filosofar em alemão'. Pois é, achamos que só é possível fazer synthpop em inglês. Desde crianças, temos contato com o inglês e ouvimos música em inglês. Em nossas vidas profissionais, estamos envolvidos com a língua", diz ele, que é formado em letras (tradução) pela Universidade de Brasília (UnB). Marcus, o vocalista, dá aulas de inglês. As letras do Dawnfine imprimem as relações humanas e todos os seus problemas. "Podemos escrever sobre qualquer coisa, desde que isso nos toque, seja um livro, um filme, um belo quadro ou até as pessoas no seu dia a dia. Somos muito observadores, observar é fundamental", ressalta o tecladista. Em shows recentes, o trio conquistou os presentes por mostrar um som honesto, bem-feito. Um, em especial, mexe com os músicos: o que ele fizeram em 16 de janeiro, com o Inferno Club, em São Paulo, fervendo. "Ficamos surpresos, porque a galera sabia as letras das músicas e cantava junto. Foi incrível", lembra Jeovane. Graças a essa noite, eles foram convidados para mais uma apresentação na capital paulista. Será em abril, no Sesc Vila Mariana. Em Brasília, eles tocaram no Landscape em abril de 2009, ao lado do Blue Burtterfly. O CD será lançado na capital ainda neste semestre, em local a ser definido pelo grupo. Enquanto isso, Imperfect thoughts pode ser um ótimo aperitivo. DAWNFINE Conheça a banda www.myspace.com/dawnfine. O trio lançou Imperfect thoughts pela Híbrido Records, com distribuição da Wave Records. Preço: R$ 15. À venda pelo e-mail hibridomusic@gmail.com. Se gostou, ouça De/Vision Os alemães surgiram em 1988, chegando a ser comparados com o Depeche Mode. Mas injetaram modernidade ao synthpop e hoje são um dos grandes nomes da cena mundial. Ouça em www.myspace.com/ devisionmusic. Melotron Cantado em alemão, o Melotron segue uma linha future pop, com bases harmônicas etéreas e bastante expansivas. A canção Dein meister foi a responsável pelo sucesso da banda na cena eletrônica alternativa. Ouça em www.myspace. com/melotronmusic. And One Prolífica, a Alemanha também é a terra do duo And One. Formada em 1989, a banda tem um som definido por ela própria como body pop. Ouça em www.myspace. com/andonefans. Ouça trecho da música Angel Ouça trecho da música Sheltered