Ao chegar a Brasília em 1994, vindo de Maceió, Jonas Correia, alagoano de Cacimbinha, foi aprovado em concurso para professor de música na Secretaria de Educação. Dois anos depois, ele participou pela primeira vez do Curso Internacional de Verão da Escola de Música de Brasília (Civebra), como aluno do paraibano Radegundes Feitosa, na classe de trombone. E foi discípulo de outros professores em edições subsequentes.
Nos últimos cinco anos, já graduado pela UnB em trombone, regência e composição, e pós-graduado como mestre em música, Correia esteve à frente da classe de regência de banda. Com a morte, em dezembro, de Carlos Galvão, coordenador-geral do evento por mais de duas décadas, ele assumiu o cargo. A partir de hoje, será o responsável por levar adiante o curso, que teve o tempo de duração reduzido pela metade.
Entre os professores da 32; edição, que segue até 31 de janeiro, há aqueles que, a exemplo de Jonas, passaram pela experiência como alunos. São os casos de André Vidal (canto erudito), Éder Camuzis (gerência de coral de câmara) e Madelon Guimarães (coordenação de atividades artísticas), que vivem a expectativa de uma intensa jornada com a programação a ser desenvolvida nas salas de aula e nos dois teatros da escola ; palcos de shows, recitais e concertos.
;Para nós, da equipe de coordenação, o trabalho começou há um mês, quando tivemos a confirmação da realização do curso. O desafio de levá-lo adiante de forma condensada, em 12 dias, é uma responsabilidade enorme;, afirma Jonas. ;Me sinto honrado por substituir o professor Carlos Galvão no cargo de coordenador-geral. Ele, o grande homenageado desta edição, é um exemplo de tenacidade e competência a ser seguido;, acrescenta.
Mundo novo
Cearense radicado na capital desde 1993, o tenor André Vidal, mestre em canto lírico pela Royal Academy of Music, de Londres, tem participado frequentemente de concertos e montagens de óperas em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, Recife, Manaus e Brasília. No Curso de Verão da Escola de Música, ele foi aluno de coro de câmara, entre 1994 e 1996, nas classes de Inácio Nonno e do norte-americano Carlyle Weis.
;Estava recém-chegado de Fortaleza, onde não tinha acesso a esse tipo acontecimento;, lembra Vidal. ;Ter contato com um ambiente culturalmente tão rico quanto este, com a possibilidade de ouvir e fazer música o tempo todo, foi um ganho inestimável. Em 2006, mudei de lado e passei a ser professor de canto erudito. Trocar experiência com uma classe de 20 alunos, em média, acrescentou muito ao meu trabalho.;
Há 40 anos na cidade, Eder Camuzis, natural de Patos de Minas, é pós-graduado em regência de coral pela Universidade de Brasília. No Curso de Verão, foi aluno de Ian Guest (harmonia), Reina Bolen (canto erudito) e Emílio de César (regência de coral). ;Tudo o que assimilei com esses mestres, e não foi pouca coisa, tenho utilizado no meu trabalho como regente do Madrigal de Brasília e do Coral da UnB;, comenta.
Camuzis foi professor pela primeira vez em 1998, como assistente de regência da maestrina norte-americana Marguerite Brooks. ;Me orgulho de ser professor de um curso de altíssimo nível como este;, ressalta ele, que destaca como um dos aspectos mais importantes ;a troca de informação e de experiência entre os professores, e também entre alunos e professores e alunos;.
Fora da sala
Brasiliense, Madelon Guimarães tem bacharelado em flauta transversal pela UnB e exerce uma difícil função dentro da estrutura do curso de verão. Como coordenadora de atividades artísticas, é responsável por elaborar a programação desenvolvida paralelamente às aulas: a dos shows e dos concertos. A primeira dificuldade que enfrenta é o fato de os professores só chegarem à cidade na véspera ou no dia da abertura do curso. ;Para elaborar a grade dos concertos é necessário fazer reuniões com os professores. São eles que, por afinidade entre si, constituem os grupos que se apresentarão e definem o repertório a ser executado;, diz.
Como foi aluna entre 1987 e 2002, Madelon teve como professores músicos com os quais veio a trabalhar na coordenação de atividades artísticas. Entre eles, os flautistas Toninho Carrasqueira, Sérgio Barrenechea, Wend Holf e Itez Gergely. ;Aprendi muito com todos eles, e continuo aprendendo ao assisti-los, prazerosamente, nos concertos que coordeno;, conta.
; Um concerto para Galvão
Com o concerto de abertura hoje, às 19h30, no Teatro da Escola de Música (EMB), tem início a maratona da 32; edição do Curso Internacional de Verão, que prossegue até o dia 31. A entrada é franca, mas pede-se a quem puder a doação de 1kg de alimento não perecível ou de roupas para serem enviadas às vítimas do terremoto no Haiti. Durante todo o evento, haverá arrecadação de donativos, na entrada das apresentações artísticas ; todas gratuitas.
Carlos Galvão, ex-diretor da escola e ex-coordenador-geral do curso, será o grande homenageado no concerto de abertura, com a execução de algumas de suas composições. Na primeira parte do programa, o público ouvirá Cello drops fantasy, na interpretação do violoncelista Raiff Dantas; Via láctea, com o duo de canto e piano formado por Malu Mestrinho (mezzo soprano) e Deyvison Miranda; e Flating flutes, com o sexteto de flautas De Vento em Popa.
Em seguida, o Quarteto, formado por Ancusza Aprodu (piano), Ênio Antunes (violino), Carlos Boltes (viola) e Raiff Dantas (violoncello) tocam Cinco miniaturas brasileiras (Edmundo Villani-Côrtes); e o Quinteto de Sopros, integrado por Sérgio Barrenechea (flauta), José Medeiros (oboé), Pedro Robatto (clarinete) e Heleno Feitosa (fagote) e Fernando Moraes (trompa) mostram Ajubetr jepê amô mbaê (Liduino Pitombeira), Lamento (Pixinguinha) e André de sapato novo (André Victor Corrêa).
Quem também homenageia o ex-coordenador do Civebra é o Madrigal da Escola de Música. Sob a regência do maestro Eder Camuzis, as 17 vozes do coral cantam Sapato velho (Cláudio Nucci e Paulinho Tapajós), com arranjo de Galvão. O concerto será encerrado pelo quarteto composto por Elenice Maranesi (piano), Paulo André (violão), Oswaldo Amorim (baixo) e Elias Caires (bateria), que prestará tributo ao professor com Voo noturno, a composição dele mais conhecida.
Aproximadamente 600 alunos de várias partes do país e do exterior estarão no Curso de Verão. Realizado pela Secretaria de Educação do Governo do Distrito Federal, esse é o primeiro grande evento da programação oficial comemorativa dos 50 anos de Brasília. Durante 12 dias, os participantes receberão aulas em 34 modalidades ; do violino à guitarra elétrica, passando por canto popular, orquestra de câmara e oficina de improvisação ; ministradas por 49 professores. A novidade deste ano é a disciplina arranjo vocal, com a cantora Célia Vaz. As aulas serão nos turnos da manhã e da tarde; à noite haverá shows e concertos nos dois teatros da EMB.
32; Curso Internacional de Verão
Concerto de abertura hoje, às 19h30, no Teatro da Escola de Música de Brasília (602 Sul). Entrada franca. Pede-se a doação de 1kg de alimento não perecível ou de roupas para as vítimas do terremoto no Haiti. Classificação indicativa livre. Informações pelo site .