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Diversão e Arte

Novo romance de Luis Fernando Verissimo é ambientado no interior do Rio Grande do Sul

Luis Fernando Verissimo não sabe ao certo onde fica Frondosa. Só tem certeza de ser uma cidade do interior do Rio Grande do Sul com aspectos pitorescos. "Está claro que é uma zona de colonização italiana e que fica a uma noite, de ônibus, de Porto Alegre. Fora isso não sei mais nada." Era o suficiente para receber a trama de espionagem mais recente do escritor gaúcho. Os espiões é o sexto romance de Verissimo. Como a maioria dos outros, traz uma história de contornos policialescos, embora não seja exatamente um policial. E é o primeiro que o autor produz sem atender a uma encomenda. Verissimo não gosta muito de escrever romances e admite. A veia de cronista sempre fala alto e toma o tempo que dedicaria a textos mais longos. "O prazer vem quando o romance fica pronto e a gente acha que ficou bom. A sua feitura, pelo menos para mim, não dá prazer", revela. Os espiões é um texto curto e tem como personagens figuras ligadas ao mundo da literatura. Verissimo gosta da ideia de aproximar narrador, autor e leitor. Por isso, cria personagens com os quais desenvolve afinidades. E narra tudo em primeira pessoa, para não perder o hábito do cronista. "Todos os meus romances, de um jeito ou de outro, tem a ver com a relação do narrador com a narrativa e os personagens, com questões como a confiabilidade do narrador e o lugar do autor no texto. Isso talvez não fique claro, mas minha pretensão é essa. Uma pretensão meio flaubertiana. Sem comparações, claro." No livro, um editor encarregado de selecionar textos publicáveis começa a receber partes de um romance escrito por misteriosa autora. A história chega em partes e a escritora ameaça um suicídio ao fim do relato. Inquieto pela revelação e tocado pela qualidade do texto, o editor resolve investigar a autora e manda dois amigos-espiões para Frondosa, cidade da qual os escritos são enviados. Os personagens atrapalhados e caricatos ajudam a dar forma de paródia a Os espiões. Verissimo não esconde sua admiração por romances policiais, tramas de espionagem e, especialmente, pelo escritor John Le Carré, referência inclusive para o protagonista do livro. A literatura é tema constante, assim como o próprio ato de narrar. "Tive a minha fase de ler muito livros policiais e de espionagem, mas hoje só leio o Le Carré. O narrador da história também gosta de Le Carré. Se ele fosse o autor, a homenagem a Le Carré seria mais explícita", conta o escritor, que conversou com o Correio sobre o novo romance, nascido da vontade de desenvolver uma frase que ficou na cabeça. "Eu tinha uma primeira frase e uma ideia do que queria fazer, mas a história foi aparecendo ao ser escrita. Não houve nenhuma motivação especial para escrevê-la. Só me pareceu uma boa ideia." Entrevista - Luis Fernando Verissimo O fato de ser o primeiro romance escrito sem ser por encomenda muda alguma coisa? A gênese de um romance não interessa muito. Quando a editora dá o tema, é um desafio. Mas a encomenda não vem com instruções. O que sair, encomendado ou não, é da sua inteira responsabilidade. Os espiões pode ser lido como uma paródia sobre romances policiais? Não chega a ser uma paródia, é uma história de espionagem num tom menor. O fato de se passar numa cidadezinha do interior do Brasil em vez de um cenário de intriga internacional dá a ideia do tom pretendido. Muitos de seus personagens são, de alguma forma, ligados à literatura. Qual a fronteira entre esses personagens, o narrador e o senhor? Eu sempre escrevo na primeira pessoa, o que é, um pouco, cacoete de cronista, mas também uma maneira de atrair a cumplicidade do leitor no artifício da literatura. O leitor sabe que o narrador não é o autor e que sua história é uma ficção, mas aceita. E o narrador na primeira pessoa tem muito mais oportunidade de comentar a ação e brincar com a linguagem. Seus romances são relativamente curtos. Alguma relação disso com o fato de ser, antes de romancista, um cronista? Os romances são escritos nas horas vagas. Minhas horas vagas ainda não comportam um romance de longo curso. Qual o lugar do jazz em sua vida? Quem tem mais vez: a música, o futebol ou a literatura? O futebol é paixão, a música é um passatempo. Sou metido a músico, mas toco numa banda profissional, com muita honra. Se hoje pudesse escolher, e tivesse condições, eu preferiria ser músico a ser qualquer outra coisa. O que mais te dá medo na política brasileira? E na literatura? Medo? O ódio que vez por outra aflora, apesar da nossa decantada boa índole. Na literatura não me ocorre nada que dê medo. Qual é seu personagem predileto na literatura brasileira? O homem só de O exército de um homem só, do Moacyr Scliar. Que houve com o Inter? Está ficando cada vez mais uruguaio? Pois é, não fomos campeões brasileiros por detalhe, mas o ano poderia ter sido melhor. Agora vamos com um técnico uruguaio. Dizem que é um especialista em Libertadores. Vamos ver.