"Quero criar um sonho que possa ser sonhado coletivamente em uma sala de cinema". As pretensões oníricas do diretor norte-americano James Cameron em torno do filme Avatar, na verdade, se traduzem em termos bem mais realistas. O novo filme do criador de Titanic já é considerado um marco do cinema digital graças aos avanços tecnológicos da produção. A história imaginada por Cameron narra a ocupação predatória de seres humanos em Pandora, onde vive uma civilização de humanoides chamados Nai?vi teve de esperar 14 anos de evolução cinematográfica para acontecer. A mais complexa delas inclui uma melhora substancial na performance das imagens em três dimensões.
Na tela, a simplicidade do enredo multigênero é compensada por efeitos visuais deslumbrantes gerados em computação gráfica que engordaram o orçamento estimado em US$ 400 milhões, considerado o maior da história do cinema. Especialistas acreditam ser necessária uma arrecadação igualmente à altura da empreitada, em torno de US$ 1 bilhão para pagar os custos astronômicos de produção e publicidade. Por isso mesmo, os números da bilheteria mundial (até agora acumulada em US$ 1.1 bilhão) estão sendo comemorados efusivamente. Uma boa fatia deverá ser engrossada com o licenciamento de produtos.
Das quase 100 salas de cinema existentes em Brasília, apenas quatro estão preparadas para este tipo de projeção (uma no ParkShopping, outra no Taguatinga Shopping e duas no Cinemark Pier 21). Uma peça avariada no novo equipamento do Embracine CasaPark impossibilitou as sessões em 3D até o momento. Uma nova teve de ser encomendada dos Estados Unidos, mas sua chegada a Brasília foi prejudicada pelos feriados de fim de ano. A previsão da companhia mineira que dirige as salas é de que a partir deste sábado o equipamento esteja funcionando normalmente.
O boca a boca em torno dos efeitos de Avatar tem provocado uma corrida pelas sessões em 3D e esvaziado as tradicionais em duas dimensões. De férias em Brasília, a atriz Cristine Souza, 34 anos, tentava pela segunda vez assistir ao filme na companhia do filho e de três sobrinhos. A primeira tentativa na data da estreia foi frustrada pela superlotação das salas em pelo menos três horários. Na tarde da última terça-feira, porém, ela e os pimpolhos conseguiram garantir um assento no Cinemark do Pier 21. "Nós nem pensamos em assistir ao filme em duas dimensões. Para conseguir entrar hoje, chegamos com uma hora de antecedência", estimou a atriz.
Na impossibilidade de garantir um ingresso para as sessões mais concorridas, outros espectadores têm assistido às sessões vazias em 2D e só depois retornam ao cinema para a tão esperada experiência em 3D. É o caso do bombeiro Rossano Bohert, 30 anos, que assistiu a Avatar nas duas tecnologias. Ele ainda não conhecia o novo 3D, mas já tinha usado os obsoletos óculos bicolores nos longínquos anos 1990, na exibição do filme A hora do pesadelo 6. "As mudanças são impressionantes. Antes, os efeitos provocavam muitas náuseas e enjoos. Ainda dá para sentir um pouquinho, mas melhorou bastante", analisa Bohert. Até o fim do ano, cerca de 15 produções em 3D devem chegar aos cinemas no Brasil. Entre elas, está a aguardada versão do diretor Tim Burton para Alice no país das maravilhas.