Nas primeiras semanas de 1968 o guitarrista Jimmy Page e o empresário da banda Led Zeppelin, Peter Grant, desembarcaram em Nova York. Levavam na bagagem nove faixas de um disco que acabara de ser gravado (e que viria a se tornar o primeiro álbum do grupo, intitulado apenas de Led Zeppelin), em Londres, no estúdio Olympic, e a esperança de contrato com uma grande gravadora norte-americana. Uma bela tarde, quando os dois andavam de bobeira pela Quinta Avenida, uma limusine parou ao lado deles. De dentro, vestindo um smoking e acompanhado por uma mulher belíssima saiu Burt Bacharach, admirador de Page desde os tempos em que o compositor trabalhou na trilha sonora do filme Cassino Royale (1967). A passagem ilustra a importância e o prestígio de um jovem artista que, já aos 24 anos, carregava nos ombros a responsabilidade de ser uma das mentes criativas do grupo que agitaria o cenário musical na década seguinte.
Surgido das cinzas psicodélicas do Yardbirds, grupo de rock dos anos 1960 que teve entre seus integrantes nomes como Jeff Beck e Eric Clapton, além de Page, o Led Zeppelin entra em cena naqueles loucos anos como a personificação perfeita de Quando os gigantes que caminhavam sobre a Terra. A referência é o subtítulo da biografia da banda que acaba de sair pela Larousse do Brasil e intitulada simplesmente de Led Zeppelin. Escrito pelo jornalista e radialista britânico Mick Wall, o livro promete ser o mais completo que já saiu sobre o assunto.
"Para um leitor maduro, nenhum desses livros que já saíram sobre a banda conta nada real, complicado ou verdadeiro. O meu mostra tudo sobre as garotas e as drogas, é claro, mas sobre as outras coisas também. O meu é o único livro que revela qual é a verdadeira história e como é trágica a verdadeira trajetória do Led Zeppelin", polemiza Wall, em entrevista por e-mail ao Correio. A novidade fica por conta das interferências ficcionais do autor (para narrar os flashbacks), segundo ele, uma tentativa de humanizar os quatro semideuses que subiam ao palco. "Eram pessoas que cometiam erros, mas também capazes de fazer coisa incríveis", separa (leia crítica do livro na página 3).
Quebradeiras
Resultado de dois pesados anos de pesquisa, a obra, escrita ao longo de nove meses, conta, na íntegra, os bastidores de Page e Cia., trazendo à tona turbilhões de excessos que iam desde hectolitros de bebidas - ingrediente responsável pela morte do baterista John Bonham, em setembro de 1980, após ingerir uma quantidade enorme de vodca -, drogas pesadas, quebradeiras a rodo e orgias com fãs (grande parte a bordo do elegante avião da banda, o Starship).
Não para por aí. Esmiuça os detalhes do périplo de Page (sempre ele) em meados de 1968 na busca de figuras certas para a formação do Led Zeppelin - nome sugerido pelo baterista do The Who, Keith Moon -, além das confusões promovidas pelo empresário Peter Grant e pelos truculentos seguranças dos integrantes. Também estão lá as histórias de processos de plágio e o fascínio do guitarrista por música celta, folk, indiana, cultura nórdica e ocultismo, mais especificamente do bruxo britânico Aleister Crowley (1875;1947), persona que também enfeitiçaria no Brasil, na década de 1970, artistas como Paulo Coelho e Raul Seixas.
"A parte mais difícil foi descobrir sobre os interesses de Jimmy em ocultismo. É uma sociedade muito fechada e eles não passam seus segredos para frente. Mas tive sorte de conhecer duas pessoas que pertenceram à mesma organização secreta e que foram gentis em me contar tudo o que podiam", conta Wall, que comenta sobre a importância do Led Zeppelin para a música, elegendo o quarto álbum do grupo como um clássico do gênero. "É o mais completo", resume. "Não acredito que eles sejam a banda mais importante dos anos 1970, mas certamente foi uma delas. O legado deles foi dar ao mundo algumas das melhores músicas já feitas no idioma do hard rock", bate o martelo.
Colaborou Pedro Brandt
; Herança bendita
A primeira vez que Marcelo Marssal ouviu Led Zeppelin foi pelas ruas da Ceilândia, aos 12 anos. "Meus amigos adoravam colocar Black dog e Rock and roll no último volume", recorda Marssal, hoje com 35 anos. O som da banda de Jimmy Page e Cia. bateu tão fundo em sua mente que anos mais tarde ele e os amigos Cláudio Marcelo (bateria), Rodrigo Nogueira (guitarra), Dido Marianno (baixo), Vitor Fernandes (guitarra) e o irmão Marçal Ponce (teclados) resolveram montar um grupo para homenagear os ídolos. Dessa motivação nasceria, em Taguatinga Norte, a Celebration Band, grupo que desde 2002 vem dinamitando os palcos da cidade com os principais hits do grupo que deu uma identidade ao rock pesado dos anos 1970. O nome é emprestado da canção Celebration day, faixa do terceiro álbum do Led.
"A nossa proposta é capturar a energia que o Led tinha no palco, ser o mais natural possível, um show de tributo mesmo", destaca Marssal, vocalista da Celebration. "Ao vivo, eles eram bem diferentes do que a gente conhecia dos discos, sempre rolava improvisos, e improvisos longos, trazendo músicas da banda misturadas com suas influências", continua.
Enquanto arruma tempo para ler a biografia escrita por Mick Wall, vai costurando planos para 2010. A ideia agora é lançar um disco de canções inéditas tendo como influência, claro, o Led Zeppelin. "Esse ano que passou foi bastante positivo para a gente. Foram 77 shows com média de 150 a 200 pessoas, um público que sempre trazia reações boas, fãs mesmo do Led", conta o artista. "Agora queremos mostrar algo com o nosso estilo, mas seguindo o rastro deles", revela Marssal, que já tem 10 canções prontas.
Há mais tempo na estrada, desde 1996, a The Seven Rock Band, conduzida pelo baterista Ticho Lavenére, também surgiu da admiração exacerbada pelo grupo britânico. "Todos os integrantes da banda sempre ouviram o Led Zeppelin a vida inteira", conta, com orgulho, Lavenére, fundador da banda que conta ainda com Adriano Faquini (vocalista), André Benebetti (baixo), Bruno Wambier (tecladista) e Kiko Pérez (guitarrista). "A The Seven surgiu da necessidade de prestar um tributo à banda que foi tão importante na nossa formação musical", enfatiza o baterista, que abomina o rótulo de banda cover. "A ideia era levar para os palcos a sonoridade do Led, missão nada simples. A grande dificuldade, por exemplo, era encontrar um cantor que tivesse a mesma assinatura vocal do Robert Plant", observa Lavenére, que, por conta de projetos pessoais, optou por dar uma freada na trajetória da The Seven. "Esse é o dilema de todos os membros do grupo, que no momento se concentram em vários projetos paralelos", revela.
; Ardendo em pleno voo
Livro revela as ;piratarias; de Page no mundo da música
Bernardo Scartezini
Especial para o Correio
Adolescentes nuas, quartos de hotéis destruídos, madrugadas tóxicas. Todos os excessos do rock and roll foram cometidos pelo Led Zeppelin. Todos os termos da trilogia "sexo, drogas & rock and roll" foram elevados a grande arte pelo Led Zeppelin, a primeira grande banda a arder em chamas sobre arenas lotadas.
O jornalista inglês Mick Wall publicou uma biografia à altura de tal voo, Led Zeppelin - Quando os gigantes caminhavam sobre a Terra. Wall não se furtou aos temas mais espinhosos de seus biografados: da dependência química à aproximação ao ocultismo, da imensa egolatria à rapinagem sobre antigos clássicos do cancioneiro bluesy americano.
Até a obra de Wall ser lançada no exterior, em 2008, a biografia que servia de referência para o Zepp era The hammer of the gods, de 1985. Nunca editado no Brasil, o livro do jornalista americano Stephen Davis recebe restrições severas, entendido como demasiado sensacionalista.
O que talvez explique o espírito aberto com que Wall foi acolhido pelos dois principais personagens da saga Zeppelin. Tanto o cantor Robert Plant quanto o guitarrista e compositor Jimmy Page deram entrevistas para Wall ao longo de 2005 - e abordaram com aparente franqueza alguns assuntos antes recebidos com reticências. O baixista John Paul Jones, historicamente alheio às idas e vindas de Plant & Page, manteve-se distante mais uma vez. Quanto ao baterista John "Bonzo" Bonham (1948-1980), não havia mesmo muito a ser feito. Sua morte levou o Zeppelin a uma dissolução imediata, e Wall tenta aprumar as lembranças dos envolvidos em torno de Bonzo, embora o folclore em cima de sua polêmica figura siga forte.
Aos quatro cavaleiros do blues elétrico, Mick Wall emparelha um quinto personagem, ao seu entender tão fundamental quanto os demais tripulantes do zepelim de chumbo. É o produtor Peter Grant (1935-1995), espécie de eminência parda na corte roqueira. Grant, enorme de gordo e truculento no trato pessoal, era mais do que o sujeito que discutia os contratos ($) da banda e fazia o serviço sujo pelos artistas. Ele era o cara que traçava o plano de voo. Traçou-o desde a decolagem no burburinho da Swingin; London, e tentou traçá-lo quando a nave já flamejava, prestes a se espatifar no Festival de Knebworth-1979.
Yardbirds
A história oficial já é conhecida. Mas Wall se detém em bem mais detalhes do que a história oral do rock costuma dar conta. Jimmy Page estava sem banda, pois os Yardbirds se esfacelaram depois de alguns discos poucos felizes e uma fracassada troca do blues pela psicodelia. Ainda sobravam contratos de shows para os Yardbirds honrarem, então Page aproveitou essas datas para, enfim, mostrar que poderia ser mais do que um instrumentista de uma banda da moda, poderia ser mais do que um requisitado músico de estúdio que anonimamente tocava nas gravações de tantos bacanas londrinos (Rolling Stones, Kinks, Joe Cocker, etc). Page queria agora ser o cara. O centro das atenções.
Conhecido entre os músicos de Londres, delirava em roubar para si a cozinha fenomenal do The Who: o baixista John Entwistle e o baterista Keith Moon. Ele sabia que o Who passava por umas tretas internas naquele 1968, mas, caso Entwistle e Moon topassem o convite, estava certo que Page ganharia dois bons inimigos, o guitarrista Pete Townshend e o cantor Roger Daltrey. Não valia a pena. Chamou, então, o baixista John Paul Jones, que sabia tocar teclados e era outro músico de estúdio bem requisitado, bem rodado. E Jimmy Page acabou chegando a Robert Plant por vias tortas. Ouviu dizer que uma bandinha de segunda, a Band of Joy, tinha um cantor de primeira. Robert Plant aceitou o convite de Page em agosto de 1968. Tinha 20 anos mal completados. Plant conhecia John Bonham desde a adolescência em Birmingham.
Estavam criados The New Yardbirds. "Essa banda vai decolar feito um zepelim de chumbo", riu Keith Moon, depois de uma das primeiras e monolíticas performances do quarteto. Ficou assim, então, Led Zeppelin. E a queixa geral das bandas que dividiam com eles as noites era: por que não abaixam o volume?
As pancadas altíssimas também foram a principal reclamação dos críticos norte-americanos quando o Led Zeppelin fez por lá seu voo inaugural. Precisa mesmo o som ser tão alto? Peter Grant mostrou nesse momento como era bom de lábia. Conseguiu um contrato com a gravadora Atlantic negociando diretamente com seu dono, o milionário turco Anton Ertegun. Detalhe divertido: nem Ertegun, nem ninguém da Atlantic tinha ouvido o Zeppelin tocar. Bastou a Grant anunciar que aquela era a nova banda do ex-guitarrista dos Yardbirds. O LP duplo Little games (1975), uma colagem lisérgica que praticamente afundara os Yardbirds no Reino Unido, tinha sido um sucesso fonográfico nos Estados Unidos.
Blues
Mick Wall analisa cada um dos oito discos de estúdio legados pelo Zeppelin. Faz um faixa a faixa e sua varredura não deixa escapar as apropriações de Jimmy Page sobre antigos blues. Whole lotta love, por exemplo, só recebeu o nome de Willie Dixon nos créditos em meados dos anos 1980, depois de longa querela judicial. Esse é o caso mais famoso. Mas, por exemplo, When the levee breakes, do quarto disco do Zeppelin, é na verdade When the levee breaks, ancestral canção de Memphis Minnie. Jimmy Page se defende de acusações dessa ordem ao pedir para comparar as versões. Claro que as gravações do Zeppelin sempre soam bem diferentes - mais trabalhadas, mais pesadas, mais elétricas - das originais. Mas seria o caso de assumir para si toda a autoria?, Wall pergunta.
É notória essa questão envolvendo os blues antigos, muitas vezes as autorias são perdidas no tempo, anteriores às primeiras gravações conhecidas. Mas Page também não tinha pudores em tomar emprestado ideias de seus amigos, seus vizinhos. Poucos meses antes do lançamento do primeiro LP do Zeppelin, em 1969, outro ex-guitarrista dos Yardbirds se lançou em nova carreira. O Jeff Beck Group apresentou o disco Truth. Entre as faixas, You shook me, do onipresente Willie Dixon. Qual não foi a surpresa de Jeff Beck, ao pegar o disco do Led Zeppelin, pouco depois, e ver ali outra versão de You shook me. Jimmy Page alega que não tinha percebido que essa música estava no disco de Beck. Cascata, diz Mick Wall, impossível não saber. O próprio John Paul Jones, antes de entrar no Zepp, tinha participado, como músico convidado, da gravação que está em Truth. Jeff Beck, depois dessa, passou décadas sem dirigir a palavra a Page.
Mortes
Mick Wall não foge da briga. O jornalista, afinal, já assinou biografias de Ozzy Osbourne (Mr. Big, 2004) e Axl Rose (The unauthorised biography, 2007). Então nem a inclinação de Jimmy Page para o ocultismo o intimida. Chega mesmo a inspirá-lo. Bom naco deste volume é dedicado a desvendar o interesse de Page pela magia negra e, em especial, pela figura herege de Aleister Crowley (1875-1947), ocultista e poeta inglês que foi perseguido como bruxo em seus dias. Page comprou uma mansão que pertenceu a Crowley e participou de acirrados leilões para adquirir alguns de seus objetos pessoais.
Nessa época, John Bonham estava mais chegado à devassidão. Assim como as bruxarias de Page, as bebedeiras de Bonham são parte integrante da mitologia em torno do Led Zeppelin (Momento Hammer of gods) A banda era expulsa de hotéis, tamanha a desordem que promovia, e os bacanais no Hyatt de Los Angeles contavam com amigos ilustres, com Keith Moon ou quem mais estivesse pela cidade, e Jimmy Page, embora casado, engatou romance com uma groupie de 16 anos - que só largou de lado quando conheceu uma outra, de 14.
Mick Wall tem muitas dessas histórias para contar. Mas elas passam ligeiro, num atropelo, no terço final da saga Led Zeppelin por extenso. Wall sabe que, apesar de todo o auê, a aventura não termina lá muito bem para nossos heróis. Robert Plant, de férias na Grécia, no verão de 1976, sofre um acidente de carro e passa meses de molho numa cadeira de rodas, sentindo dores terríveis. Assim gravou o disco Presence (1976), o primeiro fracasso artístico do Led. A esse disco se seguiria In throught the out door (1979), o primeiro fracasso artístico e comercial da banda. Entre um disco e outro, Plant perdeu seu filho Karac, morto por uma misteriosa e fulminante doença respiratória. E Page já nem estava mais por perto do amigo. Estava viciado demais em heroína para sequer sair de casa ou compor. In throught the out door foi um disco produzido e concebido por John Paul Jones. Sua única música digna de nota, All of my love, foi escrita por Plant para Karac.
Nesse cenário melancólico e decadente, retratado por Mick Wall, a morte de John Bonham, após uma de suas bebedeiras, depois de uma fracassada e esvaziada apresentação no festival inglês de Knebworth, foi um choque não de todo surpreendente. A perda de John Bonham apenas antecipou o fim do Led Zeppelin.
; Discografia Led Zeppelin
- 1969 Led Zeppelin - 11 milhões de cópias vendidas nos EUA
- 1969 Led Zeppelin II - 12 milhões de cópias vendidas nos EUA
- 1970 Led Zeppelin III - 6 milhões de cópias vendidas nos EUA
- 1971 Led Zeppelin IV - 22 milhões de cópias vendidas nos EUA
- 1973 House of the Holy - 11 milhões de cópias vendidas nos EUA
- 1975 Physical Graffiti - 15 milhões de cópias vendidas nos EUA
- 1976 The song remains the same (live) - 4 milhões de cópias vendidas nos EUA
- 1979 In through the out door - 6 milhões de cópias vendidas nos EUA
- 1982 Coda (live) - 1 milhão de cópias vendidas nos EUA
; ENTREVISTA COM MICK WALL
Se algum dos beatles saísse da banda, eles não seria mais os Beatles. Acha que o mesmo pode ser dito para o Led Zeppelin? Se Jimmy Page não tivesse escolhido Robert Plant, John Paul Jones e John Bonham para integrar a banda, acredita que o Led Zeppelin continuaria sendo o Led Zeppelin?
Como Jimmy Page me disse muitas vezes ao longo dos anos, o Zeppelin não seria o mesmo sem os quatro membros que tinha. Ele os descreveu como quatro elementos distintos que, como ele diz no livro, faziam um quinto elemento ; esse monstro.
Como foi a pesquisa para o livro? Quanto tempo você gastou nesse processo? Quais foram as informações mais difíceis de conseguir?
Eu passei dois anos fazendo pesquisando pesado e nove meses escrevendo o livro. Eu também entrevistei Jimmy muitas vezes ao longo dos últimos 20 anos, assim como os outros. A parte mais difícil para mim foi descobrir sobre os interesses de Jimmy em ocultismo. É uma sociedade muito fechada e eles não passam seus segredos para frente. Mas eu tive muita sorte de conhecer duas pessoas que pertenceram a mesma organização secreta e eles foram muito gentis em me contar o tudo que podiam.
Em fóruns de fãs do Led, algumas pessoas reclamaram que o seu livro não tem nada de novo sobre a banda. O que você diriam que são os diferenciais da sua obra?
Nunca houve uma biografia literária séria sobre o Led Zeppelin, a minha é a primeira e única por aí. As outras são ou livros feitos por fãs ou a biografia do gerente de turnê Richar Cole - que conta muito sobre drogas e groupies, mas nada de real interesse -, e Hammer of the Gods, que é um bom livro, mas foi feito 25 anos atrás e não é baseado em nenhum entrevista com a banda - é somente interessada em sensacionalizar a história. Para um leitor maduro, nenhum desses livros conta nada real, complicado ou verdadeiro. O meu conta tudo sobre as garotas e as drogas, é claro, mas sobre as outras coisas também. Quem as pessoas realmente eram, a verdade sobre os desastrosos shows em Knebworth, a verdade de como a morte de Bonham não encerrou o Zeppelin - como a banda já estava morta antes disso -, a verdade sobre o relacionamento ruim entre Jimmy e Robert e como o show no O2 em Londres, em 2007, foi algo elaborado e sem sentido. A vida é muito complicada, os fãs nem sempre querem saber disso - é como dizer-lhes que Papai Noel não existe. O meu é o único livro que conta qual é a verdadeira história e como é trágica a verdadeira história do Led Zeppelin.
Você considera o Led a banda mais importante dos anos 1970? Qual o legado deles?
Eu não acho que eles sejam a banda mais importante. Mas certamente foram uma delas. O legado deles foi dar ao mundo algumas das melhores músicas já feitas no idioma do hard rock. Muitos artistas fizeram suas carreiras inteiras seguindo apenas um aspecto do que o Zeppelin fez musicalmente - nenhum, no entanto, chegou perto de emular todo o espectro da músicas deles.
Quais banda de hoje em dia você acredita que aprenderam lições com o Led?
Eu não sei se eles aprenderam, na verdade. Tomar drogas, comer groupies, tratar pessoas como merda, fazer muito dinheiro; eles poderiam ter aprendido isso com qualquer integrante de grupos como os Stones, The Who ou quem quer que seja - eles até hoje lançam singles e vídeos e fazem qualquer coisa para as pessoas gostarem deles. Eu acho que o Zeppelin era muito bom em não fazer coisas para gostarem deles. Eles também tinham Jimmy Page na guitarra. Nenhuma banda atual tem alguém assim.
Você lembra da sua impressão da banda a primeira vez que você os ouviu/ viu?
Foi no comecinho dos anos 1970 e eu os conheci na mesma época em que descobri vários outros álbuns. Então, ao mesmo tempo em que eu achava o Led Zeppelin IV incrível, por exemplo, eu não o via mais incrível que discos de Bowie, Santana, Dylan, os Stones, Hendrix etc. Entretanto, a música do Led passou no teste do tempo. Os melhores discos deles soam como feitos ontem.
Se tivesse que escolher apenas um disco da banda, qual seria?
Led Zeppelin IV. É o mais completo. Ele tem tudo, da capa misteriosa as canções com mensagens ocultas, clássicos do rock pesado e, claro, Stairway to heaven - mesmo que todas as faixas sejam incríveis. Um álbum maravilhoso que está junto com os melhores já feitos.
E o interesse de Page com o ocultismo, você realmente acha que isso influenciou a vida banda de algum forma?
Sim, enormemente, como o livro explica. Ele não era um músico chapado brincando o jogo do copo no meio da noite. Ele estudava um conhecimento secreto - no qual a ciência encontra a religião - que precede aos tempos do Rei Salomão. Os Masons eram sérios? E os templares? Claro, assim como era Jimmy.
Algumas partes do livro são romanceadas - acha que isso poderia empobrecer a obra?
Se você se refere a seção de flashbacks, elas são para mim uma tentativa de ajudar as pessoas a entrarem na historia, entender que os músicos da banda não eram deuses, apenas pessoas comuns - às vezes estúpidas -, que cometiam erros, fazia grandes músicas, que se estrepavam e ainda assim, faziam coisas incrivelmente bem. Isso é o que eu quis com uma biografia literária. Eu não me sentei para escrever um livro para fãs, eu me sentei para escrever um livro que qualquer um que nunca ouviu falar de Led Zeppelin pode gostar também, um livro para pessoas que gostam de livros bem escritos.
Assista a vídeo com trecho da música Black dog