Tanto o compositor quanto o intérprete são lendas, cada um do seu jeito. De Roberto Carlos, não é preciso dizer nada. De Cauby Peixoto, também não. Quase todo mundo já ouviu as histórias da época de ouro do rádio, quando o cantor tinha as roupas estraçalhadas pelas fãs eufóricas. Da mesma forma, é notório que, mais de meio século depois, Cauby é exemplo de longevidade artística. Por tudo isso, há um quê de especial no recém-lançado Cauby interpreta Roberto, álbum no qual o intérprete da célebre Conceição canta 12 das muitas composições do rei em parceria com o amigo Erasmo Carlos.
Idealizado e produzido por Thiago Marques Luiz, o disco tem, como maior qualidade, a originalidade que só um intérprete do nível de Cauby Peixoto conseguiria dar a músicas que, além de terem sido gravadas e regravadas por diferentes cantores, são marcantes na voz de seu criador. "Cauby é um dos mitos vivos da música brasileira, um dos mais extraordinários cantores com quem já trabalhei", elogia Thiago, produtor musical que, aos 30 anos de idade, tem feito notável trabalho de revisão da boa música brasileira. Ele foi responsável pela produção de coletâneas como Dolores - A música de Dolores Duran (Lua Music) e Maysa - Esta chama que não vai passar (Biscoito Fino), entre outros trabalhos.
Quando Cauby solta o vozeirão empostado sobre lânguidas cordas em Proposta, abrindo o repertório selecionado por ele e Thiago, temos a impressão de que é possível prever o que se ouvirá por todo o álbum. Mas o cantor surpreende duas faixas depois, quando canta A volta ("Estou guardando o que há de bom em mim, para lhe dar quando você voltar...") com rara descontração, acompanhando a batida bossanovista do arranjo. A mesma leveza que volta em Música suave e produz alguns dos melhores momentos do disco.
Aliás, o fato de recorrer a diferentes arranjadores (Hanilton Messias, Ronaldo Rayol, Cintia Zanco, Keko Brandão e o próprio Thiago) cria uma variação entre uma faixa e outra, sem que isso implique em falta de unidade. Cauby deu seus palpites. Foi ele quem sugeriu que Desabafo fosse gravada como tango e incluísse uma citação de Balada do louco, de Astor Piazolla. Na hora da gravação, acompanhou os palpites dos arranjadores com uma naturalidade que impressionou o produtor. "Ele colocou todas as vozes do disco em duas sessões. Cauby tem uma habilidade incrível para interpretar essas canções, cada uma tem um momento particular, que só ele pode criar", conta Thiago.
Certamente, é essa habilidade que faz com que músicas como Não se esqueça de mim, por exemplo, tocada recentemente na novela das oito (Caminho das Índias) nas vozes de Nana Caymmi e Erasmo Carlos, renove-se na interpretação de Cauby. Da mesma forma que As flores do jardim de nossa casa, marcada pela intensidade dramática de Maria Bethânia, não soe como mera repetição. Aliás, se a comparação serve como medida, pode-se dizer que Cauby fez um disco que não fica atrás do primoroso As canções que você fez pra mim, feito por Bethânia em 1993, em homenagem a Roberto.
CAUBY INTERPRETA ROBERTO
Álbum do cantor Cauby Peixoto. 12 faixas produzidas por Thiago Marques Luiz. Lançamento Lua Music. Preço médio: R$ 27.