Ao longo de quase 50 anos de carreira, o bardo Bob Dylan construiu uma pirâmide discográfica que enfeixa canções que poderiam facilmente, tal qual um tratado social e antropológico, desenhar a história da América. A radiografia desses álbuns, alguns antológicos, música por música, pode ser conferida no meticuloso trabalho de pesquisa
Bob Dylan - Gravações comentadas & discografia, um presentão de Natal lançado pela editora Larousse do Brasil. Organizado pelo crítico musical e biógrafo britânico Brian Hinton, a obra, em formato de CD e com o mesmo perfil de coleção que debruçou sobre a discografia dos Beatles e dos Rolling Stones, traz informações essenciais debulhadas em minuciosas introduções, datas de lançamentos, encartes dos discos, nomes dos produtores e músicos, além de detalhes sobre sobras de estúdios. É um trabalho hercúleo tendo em vista que estão em jogo mais de 600 canções escritas pelo cantor e compositor norte-americano.
A novidade fica por conta do pequeno, mas valioso, adendo, que traz uma lista das gravações piratas do cantor, além de registros de suas contribuições em outros trabalhos, com destaque para a participação de Dylan no concerto realizado no Madison Square Garden, em 1971, pelo ex-beatle George Harrison, em prol das crianças de Bangladesh. O show foi registrado no álbum
The concert for Bangladesh, de 1971, e apresenta seis canções do cantor, entre elas
Mr. Tambourine man, Just like a woman e
Love minus zero/No limit. "(A canção) começa como
If not for you, e então a música é trocada. Pandeiro minimalista, baixo simples, boa guitarra e Dylan acariciando as palavras. Atraente", descreve o autor.
Mas, por mais precioso e raro que seja, alguns informativos acerca da carreira de Dylan, são os detalhes de suas canções clássicas, perfiladas nos 12 primeiros discos, todos, em menor ou maior escala, obras-primas, o alvo certeiro dos fãs. Obras como
Blonde on blonde (1966),
John Wesley Harding (1967) e
Nashville skyline (1969). Crédito para registros como
Blood on the tracks (1975),
Desire (1976) - o álbum preferido do maranhense Zeca Baleiro - e
The basement tapes (1975), disco gravado nos porões do lendário Big Pink (QG do grupo The Band), em 1967, e resgatado oito anos depois.
Curiosidades
Sobre o hino pacifista
Blowin; in the wind, do álbum
The freewheelin%u2019 Bob Dylan, de 1963, Brian Hinton relata que a canção, escrita por Dylan de supetão num café, serviu de motivação para Sam Cooke escrever
A change is gonna come. "Se um rapaz branco é capaz de escrever uma música como essa, então tenho de botar a mão na minha pena", reproduz.
Sobre a capa do mítico
Bringing it all back home, álbum de 1965 com as primeiras experimentações elétricas do eterno artista folk, o autor detalha: "Já era tempo de dar adeus às camisas de trabalhador. A fotografia de Daniel Kramer que ilustra a capa, cuja produção demandou três horas de trabalho, traz a mulher de Albert Goldman, Sally, na sala de sua casal colonial, com Dylan tendo, no colo, um gato persa chamado Rolling Stone, vistos por um prisma psicodélico", escreve.
Pouco conhecido dos fãs mais genéricos, o disco da trilha sonora do filme
Pat Garrett and Billy The Kid, dirigido por Sam Peckinpah, em 1973, traz os bastidores sonoros de um trabalho marcado por estilo rústico e canções sombrias, como o tema principal e a baladona
Knockin%u2019 on heaven%u2019s door, acompanhada pelo violão do ex-bird Roger McGuinn. "O que dá o tom do álbum é a reserva, o que combina com homens fortes e silenciosos que deixam a conversa a cargo das armas", analisa. Uma deliciosa curiosidade: Dylan não só escreveu a trilha sonora do filme, como foi um dos protagonistas da trama ao lado de James Coburn e do também cantor Kris Kristofferson.