Salve o compositor popular! Esse é o mote do show que reunirá sambistas da velha guarda hoje, à s 21h, no Clube do Choro. Pelo palco vão passar os bambas Nelson Sargento, Noca da Portela, Wilson Moreira, Délcio Carvalho, Agenor de Oliveira, Paulo Debétio e Osvaldinho da CuÃca (Demônios da Garoa) e as cantoras Ademilde Fonseca e Adelaide Chiozzo. Eles serão acompanhados por um grupo de músicos brasilienses, liderado pelo violonista Henrique Neto. A entrada é franca, mas os interessados devem retirar os convites na bilheteria do clube.
Amanhã, à s 10h, esses representantes da tradição da música popular brasileira serão homenageados pela Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado Federal. Também serão recebidos em audiência, visando à discussão de uma proposta para a criação de aposentadoria especial para compositores brasileiros com mais de 50 anos de atividade e de um seguro-desemprego para o músico, a exemplo do que ocorre em paÃses europeus como Bélgica e França.
"Os artistas ligados à música têm atividade sazonal, não é sempre que têm oportunidade de receber cachês por trabalhos realizados. Muitos deles chegam à velhice tendo que enfrentar dificuldade financeira, por não terem garantia de emprego formal", afirma Júlio Ricardo Linhares, secretário da comissão e um dos idealizadores do encontro.
Parceiro de Nei Lopes em sambas antológicos como Goiabada cascão, Gostoso veneno e Senhora liberdade (considerado o hino das Diretas Já), Wilson Moreira vai marcar presença no Clube do Choro nesta noite. Para ele, essa iniciativa da Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado tem o apoio de toda a classe. "Se conseguirmos sensibilizar os senadores a votar a aposentadoria para os velhos sambistas e compositores será algo valioso. Temos contribuÃdo bastante com a cultura popular brasileira e merecemos receber esse reconhecimento."
Um dos nomes mais destacados do samba carioca, Noca da Portela também faz parte do grupo que vem à cidade para a audiência no Senado e o show de hoje. O cantor e compositor mineiro - radicado no Rio de Janeiro desde a infância -, autor de sambas clássicos como Caciqueando, É preciso muito amor, Portela querida e Vendaval da vida, está na linha de frente dos que pleiteiam melhores condições de vida para seus pares.
Noca da Portela foi recentemente ao Palácio do Planalto, a convite da primeira-dama, Marisa LetÃcia, cantar na festa de aniversário do presidente Lula. "Depois tive uma longa conversa com ele e expus os problemas por que passam os compositores de samba. São artistas que passam a vida alegrando as pessoas e muitos chegam à velhice passando necessidade", afirma.
"Não temos aposentadoria e somos discriminados inclusive pelas rádios cariocas; nossas músicas são apenas tocadas na madrugada", emenda Noca. "Até a rádio Roquette Pinto, que é do estado do Rio de Janeiro, nos deixa de lado no horário nobre, quando toca pagode melacueca e axé music. Assim, o público deixa de ouvir sambas de Dona Ivone Lara, Nelson Sargento, Elton Medeiros, Wilson Moreira, Walter Alfaiate. No mesmo caso estão compositores mais novos que seguem a mesma linha, como a Teresa Cristina."
Agoniza, mas não morre
Um dos primeiros a tomar a iniciativa de procurar os órgãos competentes para reivindicar a aposentadoria dos veteranos compositores foi o carioca Nelson Matos, conhecido nacionalmente como Nelson Sargento. No dia 24 de junho, ele veio a BrasÃlia e conversou com os ministros Fernando Hadad, da Educação, e José Pimentel, da Previdência e Assistência Social. Esteve, também, na Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado. "Sugeri a eles a criação de um projeto de lei visando à profissionalização da nossa classe, para que possamos ter direito a aposentadoria e plano de saúde. Como cidadãos, pagamos todo tipo de imposto e não temos direito a nada", reclama.
Sargento conta que vários compositores de escolas de samba do Rio de Janeiro, como Mangueira e Portela, que morreram recentemente, deixaram as famÃlias em dificuldade. "A esposa de Nelson Cavaquinho, sem nenhum tipo de amparo, não tem onde morar e vive quase como pedinte. Internado num hospital, Walter Alfaiate enfrenta dificuldades", comenta.
Compositor, cantor e artista plástico, Nelson Sargento é velho conhecido do brasiliense. Aqui já fez várias apresentações, inclusive pelo projeto Gente do Samba, do Feitiço Mineiro, à epoca produzido por Sônia Alves. Mangueirense histórico, é autor de aproximadamente 400 sambas. Pelo menos três deles estão na boca do povo: Falso amor sincero, Ingratidão e o hino Agoniza, mas não morre. No show do Clube do Choro, não deve faltar Minha vez de sorrir, que ele espera cantar quando, ao lado dos companheiros, conseguir sucesso em sua reivindicação.
SALVE O COMPOSITOR POPULAR
Show com Nelson Sargento, Noca da Portela, Délcio Carvalho, Wilson Moreira e outros artistas, hoje, às 21h, no Clube do Choro (Eixo Monumental, ao lado do Centro de Convenções Ulysses Guimarães). Entrada franca (sujeita à lotação do clube). Não recomendado para menores de 14 anos. Informações: 3224-0599.
Confira vÃdeo de Nelson Sargento e a Velha Guarda da Portela cantando Agoniza, mas não morre