Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Comediantes profissionais e anônimos invadem o Twitter e transformam o site de relacionamentos em palco para piadas curtas

A televisão e o teatro ainda são os territórios sagrados do humor brasileiro. Mas eles que se cuidem. Num ritmo cada vez mais acelerado, é na internet que alguns dos comediantes mais conhecidos do país (e de Brasília) afrouxam a gravata e se divertem. Longe do "ambiente de trabalho", eles aproveitam com gosto as liberdades do ciberespaço: inventam piadas no calor do momento, batem papo com os fãs e disparam comentários venenosos sobre alguns dos principais assuntos do momento. Nesse universo escrachado, todas as anedotas levam ao Twitter. Criado há três anos, o transformou-se numa concorrida sala de estar para a comédia instantânea. A rede social, onde se publica textos curtíssimos (de até 140 caracteres), nasceu com dois objetivos: estimular a troca de informações e a criação de teias de relacionamentos. Com o tempo, no entanto, os microblogs assumiram uma terceira função: provocar gargalhadas. No Brasil, algumas das páginas mais visitadas são de humoristas profissionais e "celebridades virtuais" - anônimos que, com talento para a gozação, chegaram lá. A moda também pegou no exterior (1). Os internautas que acompanham os ídolos são abastecidos diariamente com piadas, links inusitados e opiniões sobre política, comportamento, celebridades e qualquer outro tema palpitante. "O humor é a linguagem universal. No Twitter, é o que predomina. Tanto no Brasil quanto lá fora", observa Frederico Braga, da companhia brasiliense G7, que já acumula 567 "seguidores" (na língua do site, followers). As pesquisas confirmam a tendência. , Rafinha Bastos, apresentador do programa CQC (e expert em stand-up comedy), aparecia em quarto lugar, atrás de Luciano Huck, do técnico do Corinthians Mano Menezes e do programa Fantástico. Ele não está só. Divide o holofote com astros das risadas como o colega Danilo Gentili, o VJ Marcos Mion e Rodrigo Scarpa (o Repórter Vesgo do Pânico na TV). Mais que uma vitrine de sorrisos, o Twitter quebra protocolos. Como é de praxe na internet, o público interfere na brincadeira. Sem pudores. "O Twitter é uma nova arma na mão da opinião pública. Você pode falar o que quiser e ser ouvido", resume Jovane Nunes, do Melhores do Mundo. O grupo teatral de Brasília caiu de corpo inteiro na onda virtual. Cada um dos integrantes mantém sites, mas também comentam num espaço coletivo (cujo endereço é @comediamm). Na rede, divulgam espetáculos, conversam com os fãs, trocam figurinhas com outros comediantes e escrevem textos muitas vezes hilariantes - e mais espontâneos (e, às vezes, chulos) que os scripts escritos para o palco ou a tevê. No grupo, Jovane é dos mais ativos - e espirituosos. Com uma plateia de 3.211 internautas, escreve cerca de quatro textos por dia e não perde a chance de comentar o noticiário. Do esquema de corrupção no Governo do Distrito Federal às manias de Roberto Carlos, nada escapa de seu radar. "Sou muito fã do Twitter. Antes, a internet era uma terra sem dono. No Twitter, você ganha o crédito pelos textos que escreve", elogia. Quando o internauta aprova a piada, ele "retuíta" (reescreve o texto original citando a fonte). Num ambiente tão democrático, vale a lei da "meritocracia". As melhores ideias são recompensadas. Hugo Gloss, com 265 mil fãs, é um entre tantos casos anônimos vip. "Se o texto for interessante, com certeza muita gente vai te seguir. E tem muito Twitter que é consistente. Você vai lá e lê porque gosta daquilo que a pessoa escreve", afirma Jovane. Em Brasília, as companhias de teatro já perceberam a importância da ferramenta. O Sete Belos (@setebelos) soma 1.761 visitantes regulares. "O bacana é que já fomos até contratados por uma pessoa que só nos conhecia via Twitter", conta Daniel Villasbôas, um dos atores do grupo. O contato com humoristas do eixo Rio-São Paulo rendeu parcerias. Mas, para eles, o maior desafio é defender um humor que "agrade a gregos e troianos". "Temos o cuidado para não ser apelativo, respeitar religiões e diferenças políticas", define. Já Frederico Braga, do G7 (@simplesmenteG7), acredita na importância de consolidar um estilo. "O Twitter cria nichos. Você só acompanha as pessoas de que gosta. Não adianta forçar a barra. Para fazer humor, tem que ser com identidade", comenta. Como que para comprovar o apelo do site, o G7 usou o Twitter para propor um jogo aos fãs: as primeiras pessoas que chegassem a um shopping da cidade no horário marcado ganhariam 40 camisetas e participariam de uma performance acelerada (no linguajar da internet, um "flash-mob"). "Muito mais gente compareceu. Combinamos uma coreografia que chamou muita atenção. Foi um tipo de divulgação criativa", lembra. 1- Piada de português Inspirados no sucesso do Twitter, humoristas portugueses lançaram o desafio: reunir o maior número de humoristas do país num happening virtual. O primeiro festival de sit-down comedy foi realizado em março, varou a madrugada e reuniu uma multidão de ilustres e desconhecidos. Os leitores seguiram o festival digitando o código #sit. "Estou sentado ao computador, com um pijama às riscas e o cabelo rapado com pente 1. Pareço um figurante de A lista de Schindler", disparou um dos autores das piadolas. Ouça entrevista com Jovane Nunes, do grupo Os Melhores do Mundo Leia mais pílulas de humor tiradas do Twitter