A 28; Feira do Livro de Brasília encerrou ontem suas atividades com a imagem arranhada, mas sem as dívidas que provocaram apagões durante os encontros com autores no ano passado. Organizado pela Câmara do Livro do Distrito Federal (CLDF) e marcado pela desoganização ; a agenda de convidados foi fechada no dia da inauguração ; o evento deixou muitas lacunas e uma impressão ruim.
Ao longo da semana passada, todos os autores de fora da cidade tiveram suas participações canceladas por falta de verbas. Não houve dinheiro para pagar hospedagens e passagens, muito menos os cachês, embora alguns autores tenham se disponibilizado a participar da feira de graça.
Ziraldo, homenageado desta edição, e o filósofo Mario Sérgio Cortella, foram os únicos visitantes de outras cidades a não enfrentarem o cancelamento. ;Não tínhamos garantido o orçamento para pagar passagem e hospedagem e achamos por bem trazer artistas locais. Por isso, a mudança estratégica na programaçao. Essa feira foi feita em cima da hora e o cancelamento, realmente, foi em cima da hora. Essa feira quase não acontece. A gente está fazendo na raça;, justifica Adrian Carvalho, presidente da Câmara do Livro. ;Se a gente fosse tocar igual no ano passado, gastando sem responsabilidade, ia ficar um dano grande para a feira.;
Com um orçamento de pouco mais de R$ 1,2 milhão e sem apoio da iniciativa privada, a feira ficou comprometida. ;Não entrou nenhum dinheiro de empresa particular. A gente dependia desse dinheiro. Isso prejudica um pouco, mas prejudica mais ainda se a feira acabar. Não somos os primeiros nem os últimos com os quais vai acontecer isso.;
Os cancelamentos irritaram alguns autores, que souberam do problema quando a feira já havia começado. O gaúcho Marcelo Carneiro da Cunha, autor de 15 livros, só foi comunicado dois dias antes da data marcada para conversar com o público em Brasília. O mesmo ocorreu com o poeta Fabrício Carpinejar, que deveria estar no Encontro com o autor de sábado. ;Amo Brasília, só lamento que uma feira do livro na capital tenha essa afoiteza. Essas coisas não são feitas assim, sem planejamento. O chato é para os leitores, porque confirmei, via Twitter, que estaria em Brasília e vários leitores entraram em contato dizendo que iam à palestra. Uma pena;, diz o poeta.
O baiano Aleilton Fonseca soube, na véspera, que sua participação também havia sido cancelada. ;Sei que quando isso acontece não é por culpa do organizador apenas, são circunstâncias em que às vezes não vem o patrocínio. Temos que compreender e não crucificar as pessoas, mas pedir que da próxima vez procurem se organizar melhor porque esses eventos são importantes;, diz. A lista de autores cancelados inclui ainda Lira Neto, autor da biografia Padre Cícero; Roger Melo, ilustrador e escritor de livros infantis; o diretor José Celso Martinez Corrêa e os cantores Chico César e Moraes Moreira.
Durante a primeira semana, a feira recebeu em média 25 mil visitantes, segundo a CLDF. O número ficou abaixo da expectativa dos organizadores. ;Quando a feira começou tínhamos a concorrência do Festival de Cinema e da Feira dos Estados. Isso elimina um pouco o público;, acredita Adrian Carvalho, que esperava números maiores para sábado e domingo. A boa notícia é que os cancelamentos abriram espaço para autores e artistas da cidade, responsáveis por socorrer a organização e não deixar cadeiras vazias na plateia e no palco.