De uma experiência voltada principalmente para os formandos em artes cênicas, a Mostra Dulcina cresceu, ganhou corpo, respaldo de público e se transformou em um referencial evento cultural em Brasília. Realizada desde 2005 a cada final de semestre letivo pela Faculdade de Artes Dulcina de Moraes, a mostra chega à 10º edição com novidades e uma extensa programação. Até 13 de dezembro, estarão em cartaz nove espetáculos teatrais montados por alunos e professores da instituição, além da apresentação de uma peça com o grupo convidado, o goiano Arte & Fatos. A isso, somam-se as performances do 2º Festival Dulcina de Cenas Curtas (com prêmios de R$ 3 mil e R$ 2 mil, respectivamente, para o primeiro e o segundo colocados).
A programação contempla ainda a exposição Impermanências, com obras dos formandos do curso de artes plásticas da faculdade, o relançamento do livro A canoa de papel, tratado de antropologia teatral do professor Eugênio Borba, e um debate com Kiko Barros sobre seu pai, o dramaturgo paulista Plínio Marcos (1)(1935-1999), a quem a 10º Mostra Dulcina é dedicada.
Um dos idealizadores do evento, o professor Francis Wilker, avalia o bom momento do evento pelo interesse dos grupos e diretores da cidade em participar da mostra: "Além dessa procura muito grande de artistas que não são da faculdade, percebo uma considerável participação do público brasiliense, que tem comparecido em peso, lotado vários espetáculos. Em média, 3 mil pessoas passaram pelas últimas edições. A mostra está ganhando cara de festival".
O aluno de artes cênicas Josuel Júnior, 23 anos, há quatro edições participa da realização da mostra. Ele aponta que, para os docentes, esta é uma oportunidade de colocar na prática o que é ensinado nas aulas. "Nos apresentamos ao grande público e não apenas para parentes e amigos. A mostra é um verdadeiro frisson entre os alunos. No meu caso, também estou trabalhando na gestão do evento. São duas semanas de muitas ralação", comenta. Flávia Helena, 24, formanda em artes plásticas, destaca outro ponto: "A mostra é uma vitrine para a nossa produção e ajuda a abrir portas para participarmos de outras exposições".
Em cartaz até 3 de dezembro, Viúva, porém honesta abre a mostra. A montagem inédita, dos irmão Adriano e Fernando Guimarães (professores da faculdade) para texto de Nelson Rodrigues (1912-1990) dá continuidade a paixão dos diretores pela obra do Anjo Pornográfico. No elenco, alunos, ex-alunos e formandos do Dulcina. "Nelson escreveu esse texto como uma crítica à crítica teatral, para debochar dela", resume Fernando.
[SAIBAMAIS]O personagem principal é um fugitivo sem talento algum que acaba se tornando crítico de teatro em um jornal. Com muito humor, o autor não poupa a psicanálise, o jornalismo, os valores patrióticos e da família. "A cenografia e os figurinos foram criados a partir da concepção de folhas de jornal, tudo em preto e branco. Quanto ao texto, tentamos manter sua essência, mas trabalhá-la em outro ambiente", adianta Fernando.
Representante legal da obra de Plínio Marcos, Kiko Barros, 43 anos, tem apresentado pelo Brasil palestras sobre a vida e obra do pai. A proposta é dar uma geral da produção do autor, comentar seu amor por futebol, samba, circo e teatro, com enfoque nas principais peças - começando por Barrela (de 1958) e passando por Dois perdidos numa noite suja (1966), Navalha na carne (1967), entre outras. "Com certeza, a curiosidade dos jovens pelo Plínio tem crescido. Percebo isso não só nas palestras, mas pelo interesse dos grupos em fazer montagens", conta Kiko, que fala sobre o pai hoje, às 10h, no Teatro Dulcina.
1 - Bendito-maldito
Nascido em Santos (SP) em 1935, Plínio Marcos Barros teve diversas ocupações até começar a trabalhar como jornalista, ator e autor de textos para teatro e tevê nos anos 1960. Em suas obras, ele retrata a vida no submundo e seus personagens marginalizados %u2014 e, por isso mesmo, pela ousadia linguística. Durante os anos da ditadura militar, teve uma série de problemas com a censura. Barrela (1958), Dois perdidos numa noite suja (1966), Navalha na carne (1967), Quando as máquinas param (1972) e Madame Blavatsky (1985) são algumas de suas obras mais conhecidas. Morreu aos 64 anos, em 1999, por falência múltipla dos órgãos em decorrência de um derrame.
10ª MOSTRA DULCINA
Até 13 de dezembro, no Teatro Dulcina de Moraes (Conic). Nesta sexta, às 21h, Viúva, porém honesta. Entrada franca. Não recomendado para menores de 14 anos. Mostra Impermanências, de 1º a 20 de dezembro, das 9h às 21h, na galeria da Faculdade de Artes Dulcina de Moraes. Conversa sobre Plínio Marcos: hoje, das 10h às 11h30, no Teatro Dulcina. Informações: 3322-5202.